Paula Perim
Volta o assunto da Lei da Palmada e junto com ela, todo tipo de comentário. Fala-se da interferência do Estado na vida e decisões das pessoas, do fato de o Estatuto da Criança e do Adolescente já ter esse tema mais do que tratado, da duplicidade que pode haver sobre as penas, inclusive em relação às leis que já estão no Código Penal, do tempo perdido no Congresso, que teria decisões muito mais importantes para tomar. Por outro lado, há as defesas de como essas leis trouxeram benefícios para países como a Suécia e a Alemanha, de que o Brasil precisa de leis para que as pessoas prestem atenção no assunto, de que assim como há leis que protegem os idosos, as crianças também precisam de uma específica para isso.
A grande questão é que, junto com a discussão sobre a lei, um outro debate, muito mais importante, aparece em todos os posts e comentários das matérias que estão publicadas na internet e nas redes sociais: o uso da palmada como forma de educar. E esse, sim, é o assunto que realmente mais preocupa e assusta a todos nós aqui da redação da Crescer.
“Agradeço pelos tapas que levei”, “o pior não é o pai que bate, mas sim os que se omitem de educar os filhos”, “palmada, quando necessária, não mata”. Esses são apenas alguns dos comentários que encontrei na internet em diferentes matérias ao longo do dia. Eu tinha a esperança de que a Lei da Palmada despertasse nas pessoas -nas pessoas que batem para educar, batem para ensinar, batem para colocar limites ou batem porque perderam a paciência - uma reflexão sobre a atitude. Fizesse com que elas pensassem no assunto, ouvissem os relatos sobre todos os problemas que a agressão física (sim, bater no filho é uma agressão) causam nas crianças e pudessem mudar de ideia. Que elas parassem de se justificar, de dizer que os pais precisam “impor limites”, que elas apanharam e são boas pessoas. Ninguém lembra de um tapa como algo bom, nem de uma repreensão, uma conversa mais dura ou um castigo. Mas acredito que cada um desses modelos de educação entram na nossa memória em “caixinhas” diferentes. E são esses exemplos que levamos para nossa vida, para a maneira como nos relacionamos com o mundo. “Bunda de criança tem consistência e é o lugar certo para levar palmada. Doi, arde, mas não causa ferimento nem sequelas”. Li isso em um site hoje, um comentário deixado por um leitor defendendo um bom tapa em um ataque de birra de uma “criança pirracenta”, como o delicado internauta definiu. É preciso ter paciência, muita paciência, em um ataque de birra e em tantas outras situações. Quem tem filhos sabe muito bem disso. Mas bater não pode ser uma opção. É no mínimo um descontrole.
O argumento “apanhei e estou aqui, muito bem, obrigada” também não faz o menor sentido. É óbvio dizer, mas as coisas mudaram, evoluíram. Aprendemos que colocar a criança de barriga para cima para dormir é mais seguro do que de lado e bem melhor do que de bruços. Que a amamentação no peito é infinitamente melhor do que qualquer leite em pó. Que a criança é alfabetizada desde “sempre”, não com uma cartilha e só aos 7 anos. Descobrimos remédios e tratamentos novos e incríveis. Usamos a internet o dia inteiro. Como podemos dizer que antigamente os pais batiam e dava certo, então por que não fazer o mesmo hoje. Não faltam especialistas explicando por que a palmada não ensina, não educa, não tem justificativa. Bater ensina que o uso da força é a maneira de resolver os problemas. Bater é covardia. E sobre isso não há discussão.
Paula Perim é diretora de redação da CRESCER, mãe de Júlia, 14, e Bia, 13, e autora do livro 101 ideias para Curtir com Seu Filho (Antes de ele completar 10 anos).
Fonte: Revista Crescer
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)