30 de out. de 2012

Vulnerabilidades e Consequências da prática de bater para educar

Para fins didáticos, dividirei em dois grupos diferentes os adultos que costumam usar violências físicas na educação de seus filhos. Os adultos do primeiro grupo utilizam a violência física de forma aleatória: ocorrem, geralmente, pelo descontrole emocional, impulsividade ou algum transtorno mental associado. Nesse caso, a violência física não possui um objetivo disciplinar, mesmo que a argumentação aparente seja de melhor educar os filhos.

Este tipo de autor de violência é vulnerável tanto aos elementos internos (ansiedade, depressão, frustrações etc.) como externos (stressores) presentes em sua vida (álcool, drogas, conflitos conjugais ou de trabalho e dificuldades financeiras). A violência física utilizada por este tipo de agressor se manifesta de forma mais severa. São exemplos bastante comuns as seguintes formas de violências físicas:

  • queimaduras por pontas de cigarro ou por objetos aquecidos (ferro de passar roupas e talheres incandescentes);
  • envenenamentos;
  • ferimentos com objetos contundentes,
  • traumatismos craniano;
  • fraturas ósseas.

No segundo grupo estão os adultos que se utilizam de castigos físicos com a finalidade disciplinar. Os tapas, os beliscões, os solavancos não costuma acontecer de modo aleatório. Eles ocorrem quando se quer inibir ou eliminar um comportamento supostamente inadequado da criança ou do adolescente. Este tipo de disciplinamento é adotado por ser um modelo aprendido na família de origem, por crenças religiosas ou por desconhecer outras formas de se educar.

Embora a finalidade não seja a mesma, nos dois grupos de adultos o uso dos castigos físicos estão, geralmente, associados às necessidades de controle do comportamento do outro e ao sentimento de frustração (seja em relação a uma expectativa ou a um desejo). O adulto que usa as punições físicas em seus filhos está em certos momentos susceptíveis à irritabilidade e à impulsividade. Suas reações estão normalmente afetadas por sensações e sentimentos negativos. Excitação excessiva, ira, frustração e medo provocam reações no sistema nervoso autônomo. Com isso, uma forte descarga adrenérgica pode afetar o comportamento dos pais. A adrenalina é o hormônio das ações aceleradas. Esse estado emocional e orgânico cologo pais e crianças em um contexto de vulnerabilidades.

Primeira Vulnerabilidade

Perda do Controle - é comum o relato de pais sobre a sua perda de controle no momento da aplicação de um castigo físico. As pesquisas confirmam a freqüência deste descontrole. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 1993, demonstrou que entre as milhares de pessoas consultadas, um quarto delas admitiram que pelo menos uma vez perderam o controle ao castigar fisicamente seus filhos. Nas investigações de graves violências físicas contra crianças e adolescentes muitos pais relatam que os incidentes começaram como “uma punição comum”.

Segunda vulnerabilidade

Fragilidade corporal da criança - A força que o adulto avalia ser pequena pode não ser para as crianças. Por isso, bater em crianças é fisicamente perigoso. As chamadas punições mais leves podem, muitas vezes, causar sérios ferimentos. Sacudir bebês, por exemplo, pode levar a concussões, danos cerebrais e até mesmo causar a morte (Sindrome do bebê sacudido).

Terceira vulnerabilidade

Confiança na eficiência dos castigos físicos como método punitivo-disciplinar - Essa confiança impede os pais de verem as falhas que este modelo oferece. Assim, as punições que começam “leve” podem evoluir para medidas mais severas. Diante da ineficiência desse método, a tendência dos pais é achar que a dose esta fraca, aumentando progressivamente a intensidade da violência.

Mas independente da finalidade, das características do autor da violência física e das vulnerabilidades presentes, a prática de bater para educar traz consequências negativas para saúde e o desenvolvimento de crianças e os adolescentes.

Os riscos para o bom desenvolvimento das crianças não se restringem somente na intensidade da violência, moderada ou imoderada. Os riscos estão presentes na proposta do método, que é provocar dor e sofrimento físico.

Pesquisas apontam que os castigos físicos:

 

  • Contribui para o desenvolvimento de fusões patológicas ou disfuncionais;

Nessa forma de disciplinamento há mensagens muito perigosas, em que se funde amor com dor, cólera e submissão: “eu te puno para o teu próprio bem, eu te machuco porque te amo”. A dupla mensagem que a punição física carrega pode levar ao desenvolvimento de disfunções preceptivas, transtornos adaptativos e comportamentos estereotipados na vida dos filhos.

Vivência Clínica – no trabalho terapêutico encontrei muitas mulheres que sofriam com os atos de violência do marido ou parceiro sem conseguirem se proteger ou encontrar uma alternativa de mudança para o seu padrão de relacionamento conjugal. Essas mulheres tinham, em comum, uma história de violência anterior, praticada pela família de origem. Muitas dessas mulheres expressavam em seu comportamento submisso uma adaptação estereotipada às condutas violentas (psicológica, sexual ou física) que sofriam de seus pais ou cuidadores quando meninas. Porém, o impressionante é que elas traziam subjacentes a dor e o medo, a crença de que quem pune ou castiga com violência é porque tem sentimentos verdadeiros, porque ama.

 

  • Oferecem um modelo inadequado, por parte dos adultos, de lidar com situações de conflitos, que é o uso da força, da violência;

 

  • Aprendizagem social da violência;

Os jovens que sofrem violências intrafamiliares do tipo físico severo, psicológico e sexual são:

3,2 vezes mais transgressores das normas sociais;

3,8 vezes mais vítimas da violência na comunidade;

3 vezes mais alvos de violência na escola do que os jovens cujo ambiente familiar é mais solidário e saudável (ASSIS, 2004).

 

  • Menor rendimento intelectual;

De acordo com uma investigação feita pelo Professor Murray Straus, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, meninos e meninas castigados fisicamente apresentam, depois de quatro anos, um coeficiente intelectual baixo em comparação com os que nada sofreram. No grupo de jovem, as crianças que não apanharam apresentam 4 pontos a mais em seu coeficiente de inteligência do que as crianças que foram castigadas fisicamente. No grupo de crianças entre os 5 e 9 anos de idade, aqueles que não apanharam tiveram 2.8 pontos a mais em seu coeficiente intelectual que as que sofreram castigos físicos, depois de quatro anos.

 

  • Dificulta ou deteriora os vínculos afetivos entre pais e filhos;

Na pesquisa A disciplina como forma de violência contra crianças e adolescentes (MARQUES et al., 1994), alguns depoimentos evidenciam o comprometimento do vínculo familiar em decorrência do padrão interacional violento. Dois relatos ilustram como a violência física afetou a vida dos sujeitos entrevistados.

Em um depoimento um sujeito diz: “tive vários conflitos com meu pai, que era uma pessoa muito rígida. Saí de casa quando tinha 12 anos. Com 15 anos voltei para casa, mas meu pai continuava o mesmo. Por isso, fui embora e nunca mais voltei” (apud MARQUES et al., 1994).

Em outra entrevista, um sujeito informa: “quando eu era pequena, eu era muito castigada. Meu pai era muito agressivo. Ele batia até tirar sangue, que era para a gente aprender. E por isso, eu casei muito cedo para fugir dele” (apud MARQUES et al., 1994). O casamento precoce ou o abandono do lar foi o caminho encontrado por esses dois sujeitos para romper com a relação familiar violenta.

De acordo com a conclusão do O Estudo causal sobre o desaparecimento infanto-juvenil, as razões que provocaram a saída de casa das crianças e adolescentes foram: agressões físicas (35%), alcoolismo dos pais ou dos jovens (24%), violência doméstica presenciada pela criança ou adolescente (21%), drogas usadas pelos filhos ou os progenitores (15%), abuso sexual/incesto (9%) e negligência (7%). Os demais casos registrados são de seqüestro e raptos (SÃO PAULO, 2005).

 

  • A restrição imediata de um comportamento inadequado pelo uso da dor impede pais e filhos de conhecerem as origens das dificuldades e suas motivações, ficando mais difícil a real elaboração e superação dos mesmos;

 

  • Facilita o surgimento de desvio no comportamento, como esconder ou dissimular por medo do castigo físico;

 

  • O comportamento desejado só ocorre na presença do punidor, pois o controle deste se dá por coação externa e não pela aceitação íntima da criança ou adolescente;

 

  • Irreversível alterações na morfologia e fisiologia cerebral;

Estudos comparativos, coordenados pelo psiquiatra da Escola de Medicina de Harvard, professor Martin H. Teicher, demonstraram que as conseqüências das violências podem ir além das dificuldades afetivas e comportamentais. Suas pesquisas identificaram alterações na morfologia e fisiologia das estruturas cerebrais de pessoas que foram vítimas de maus-tratos em fases precoces de sua vida. Teicher argumenta que se as violências (físicas, psicológicas, sexuais e negligências) ocorrem durante a fase crítica da formação do cérebro, quando ele está sendo esculpido pela experiência com o meio externo, o impacto do estresse severo pode deixar marcas indeléveis na sua estrutura e função. Para ele, o abuso leva uma cascata de efeitos moleculares e neurofisilógicos, que alteram de forma irreversível o desenvolvimento neural.

Pesquisadores fazem o seguinte alerta: filhos de pais dominadores, coercitivos, explosivos e espancadores tendem a desenvolver uma reação complementar patológica. Ou tornam-se extremamente submissos, assustados, podendo desenvolver processos psicopatológicos graves como fobias, traços psicóticos e depressão. Ou caminham para outro extremo: rebelam-se, assumindo traços de delinquência.

28 de out. de 2012

Minha caminhada ao Fim do Mundo

 

Estimado leitor do blog,

Nesse domingo quero compartilhar com você a minha caminhada rumo à Finisterre em reverência àqueles que aprenderam a caminhar sobre as águas por que sonhavam encontrar um Mundo Novo.

 

  DSC04804 Foto: Cida Alves

 

 

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Foto: Cida Alves

 

 

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Foto: Cida Alves

 

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Foto: Cida Alves

 

OS QUE QUEREM A PAZ

Miguel Anxo Fernán-Vello*

 

Os que sonham com uma pátria de árvores antigas

e o sol treme na selva como uma chama verde

inaugurando a luz dos campos.

 

Os que têm o mar preso nos seus olhos

e leem no vento a rota invisível de uma estrela

que anuncia a exalação do norte.

 

Os que cantam na hora central dos dias

- ternura necessária de palavras de argila –

contra a forma metálica do medo,

contra o poço que sobe como um fio de pedra

amordaçando a água.

 

Os que procuram a suave direção dos amanheceres

e perfuram no código do silêncio o brilho azul,

a casa do horizonte construindo outra luz,

a brisa germinal que ilumina o coração da flor.

 

Os que sabem na altura da memória

medir o verso humano do futuro:

a terra livre que clamou tanto sangue,

o astro firme na voz que foi semente,

a condição do amor orientando as raízes,

a cantiga que eleva a lucidez do mundo.

 

Contra a dor ancorada no redemoinho escuro do tempo

contra o arame negro que transita a pobreza,

contra a fome sonâmbula que caminha na noite,

contra o terror que arde na história repetida,

os querem a paz criam fendas no duro muro da paciência

e avançam florescendo a liberdade,

crescendo como um rio de palavras que fervem,

armadas como o vento que assobia triunfante

sobre o ferido pedestal

que derrubou

a primeira hora liberada do amanhecer.

 

 

Fotos de Cida Alves, Finisterre – Galicia (ES)  em 26 de outubro de 2012.

*Poema extraído do livro “CONSTRUÍNDO A PAZ” de Xesús R. Jares (coord.) Editora Xerais de Galicia, 1996.

22 de out. de 2012

Por uma educação em que o forte proteja e cuide do que ainda é pequeno e frágil

Cão e cordeiro

Foto retirada do site Conversa do Sertão

Porque a violência física intrafamiliar contra crianças e adolescentes passou a ser um tema prioritário na minha ação política?

1) Dentre as violências domésticas sofridas por crianças e adolescentes, a violência física é a que apresenta maior frequência de notificação no sistema VIVA (Vigilância em Violência e Acidentes) do Ministério da Saúde;

2) A maioria dos casos notificados de violência doméstica tem como principal autor da violência os próprios pais biológicos. A violência que afeta as crianças e adolescentes brasileiros ocorre predominantemente na relação familiar;

3) A violência física resulta em casos graves e de alta letalidade. O número de mortes decorrente da violência física predomina em relação às outras formas de violência (AZEVEDO; GUERRA, 1995);

4) Mais naturalizada dentre as violências intrafamiliares;

5) A violência física intrafamiliar como método punitivo disciplinar, aliada a violência psicológica, é um dos instrumentos chaves para a edificação e manutenção da sociabilidade estruturada na relação Comando-Obediência/Dominação-Subordinação.

 


  • Estatísticas que apontam a gravidade da violência física cometida contra crianças e adolescentes:

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  • Estatística que evidencia a letalidade* da violência física cometida contra crianças e adolescentes:

 

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  • Imagens e discursos científicos que ilustram a naturalização do uso de violência física na educação e no cuidado de crianças e adolescentes:

 

Anúncio da máquina a vapor para a rápida correção das meninas e dos meninos

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O texto anúncio diz: “Avisamos aos pais e mães, tios, tias, tutores, tutoras e diretores de internatos e, de modo geral, todas as pessoas que tenham crianças preguiçosas, gulosas, indóceis, desobedientes, briguentas, mexeriqueiras, faladoras, sem religião ou que tenham qualquer outro defeito, que o senhor Bicho-Papão e a senhora Tralha-Velha acabaram de colocar em cada distrito da cidade de Paris uma máquina semelhante à representada nesta gravura e recebem diariamente em seus estabelecimentos, de meio-dia às duas horas, crianças que precisem ser corrigidas” (apud FOUCAULT, 2004, p. 30 - 31).


 

“A naturalização da violência física na educação das crianças não é um fenômeno isolado, tampouco uma mera manifestação do senso comum e popular. Conhecimentos e tecnologias fundamentam e implementam essa naturalização. No século XVIII, uma máquina a vapor foi criada para economizar a energia dos pais ou cuidadores ao punir fisicamente seus filhos.

Canevacci (1981) relata, em um dos capítulos da obra Dialética do indivíduo, algumas histórias acerca da perseguição de crianças por seus pais. Ele descreve a pedagogia familiar do eminente médico alemão Daniel Gottilieb Schreber (1808 - 1861) que escreveu dezoito livros e opúsculos, muitos dos quais abordam seus métodos de educação infantil. Para esse médico, era necessária a elaboração de um sistema educativo que propiciasse obediência total da criança em relação ao adulto. Seus pensamentos associavam-se à crítica que ele fazia da sociedade em que se achava inserido, a qual ele considerava moralmente fraca e em decadência, atribuindo esse fenômeno à pouca energia empregada na disciplina das crianças.

As regras ditadas por ele em suas obras, em termos de disciplinamento das crianças, tinham como objetivo alcançar uma sociedade de uma raça de melhores. Assim, ele elaborou uma série de inventos, testados em seu próprio filho, que castigavam o corpo da criança, comprimindo sua caixa torácica, sua cabeça (elevador de cabeça, espigador, máquina quebra-cabeça). O filho, Daniel Paul Schreber (1842-1911), que passou por essas dolorosas e humilhantes experiências corporais, converteu-se em um eminente juiz que enlouqueceu aos 42 anos, curou-se e voltou a enlouquecer oito anos depois (CANEVACCI, 1981).

A disciplina e a punição física, metodicamente brutal da época do pai de Schreber, pouco a pouco foram suavizadas. Os especialistas da atualidade não recomendam as práticas idealizadas pelo médico alemão, no entanto, o ato de bater em crianças ainda é prescrito aos pais. A doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Marilda Lipp, em entrevista publicada em 5 de fevereiro de 2006 e veiculada no jornal O Popular, informa que, em determinadas circunstâncias – quando a criança começa a engatinhar ou andar e passa a mexer em tudo - uma palmada na mão é mais eficiente do que repetir mil vezes a mesma advertência. De acordo com a matéria, essa profissional garante que a palmada não traz prejuízo algum para a criança e conclui a sua argumentação dizendo: “O que não pode é os pais dependerem da disciplina física para educar a criança” (apud CZEPAK, 2006, p. 5).

Atualmente, na maioria das famílias, a violência física é distribuída em pequenas porções na educação dos filhos. Como afirma Foucault (1987), essa forma de violência travestiu-se de uma casual e aparente inocência. O objetivo da punição disciplinar, expressa na violência física suave, é ampliar o campo de controle dos comportamentos, e, por isso, ela é aplicada em doses pequenas e sempre constantes. O princípio não é punir menos, mas punir melhor, ou punir com maior universalidade.

A roupagem clean, somada à sofisticação da neutralidade técnica-analítica, oferece ao ato de punir aparente ponderação e honradez. A autoridade que pune não é um carrasco, um bruto ou um descontrolado emocionalmente, mas sim um sujeito benevolente, pois pune para o bem do outro ou da sociedade. Essa nova versão da violência física intrafamiliar contra crianças não provoca grandes reações, seja de quem a sofre ou de quem a assiste, pois expressa a idéia de um querer bem, de um cuidado com o filho ou com o seu honrado futuro. O controle é, assim, mais dissimulado, no entanto, mais duradouro e eficiente.

Com essa suavidade, a violência física pode até aparecer em imagens publicitárias para vender uma doce e gostosa goiabada ou até provocar despretensiosos risos em tirinhas de jornal, como aparece em duas ilustrações”(SILVA, 2008, p. 51 – 54).

 

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Anúncio da goiabada A Sul América S/A, publicada no almanaque do Barão de Itararé, em 1949, e reeditada em 2007 na revista Brasil Almanaque da Cultura Popular.

 

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Tiras da personagem Mafalda do cartunista Joaquim Salvador Lavado (Quino). Fonte: Lavado (2002, p. 2; 4).

Na figura acima “fica evidente que a prática da punição física é uma atividade corriqueira e aceitável. Assim a punição, o ato de provocar dor e sofrimento físico, desvencilha-se da idéia de controle e coação e assume a moderna noção de método disciplinar, evidenciando a profunda aceitação que a punição física, em especial a palmada, encontra na sociedade. Retira-se a imagem de sofrimento e crueldade e permanece a de limite e disciplina. Uma dinâmica análoga a de um pequeno tribunal é estabelecida em cada punição disciplinar. Aparece então a idéia de justiça e correção, pois se um sujeito realiza uma conduta, um comportamento considerado por alguns inadequado ou ofensivo, legitima-se à autoridade constituída o direito de punir.

Na relação doméstica entre pais e filhos, a punição disciplinar recria esse miúdo processo penal, no entanto, um elemento é excluído nesse micro e instantâneo tribunal, o direito da defesa. Graciliano Ramos (1977), no livro Infância, conta como foi a sua primeira experiência no sistema judicial doméstico:

As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural. (...) Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro (...). O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível. (...) Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça (RAMOS, 1977, p. 31-35)" (SILVA, 2008, p. 55).


  • Discursos de especialistas da saúde mental que evidenciam o princípio que rege o método educativo que usa de violência física na educação e no cuidados de crianças e adolescentes.

No artigo “Tapa de pai é castigo ou carinho?” a psicanalista Carmem Bruder contesta o direito dos legisladores de interferir diretamente na forma como os pais decidem educar seus filhos com a seguinte argumentação: “(…) Para bem exercer o pátrio poder a família precisa de liberdade para interpretar a linguagem dos próprios filhos. (...) E é exatamente sobre isso que essa lei nos faz pensar: qual a intenção de um congresso que se locupleta às custas da miséria de um povo e que, ainda por cima, chama para si a responsabilidade de dizer à Nação como se deve educar? Afinal, como bem dizia a minha avó: ‘quem dá o pão dá o pau’”(BRUDER, 2006).

Içami Tiba também é categórico ao responder à indagação freqüente dos pais sobre se devem ou não utilizar a força física para fazer o filho obedecer, valendo-se novamente de outro ditado popular ele diz: “os pais não devem dar um murro, mas um empurrão bem sentido, que doa no coração. Diz um ditado caipira: “Pé de galinha não machuca os pintinhos”. Tapa de mãe que o filho sabe merecer nunca machuca. Tapa de mãe que o filho sabe merecer e não vem deseduca. Há duas leis que a criança deve aprender desde cedo: a lei criada pelos homens (sentido moral e ético da sociabilidade) e a lei natural, a lei do mais forte. Ainda que não tenha razão, o mais forte tem de ser respeitado, justamente por ser o mais forte (...)” (TIBA apud LONGO, p. 114, 2005).

No princípio da Dominação-Subordinação o mais forte em vez de proteger e orientar o mais fraco deve sim, oprimi-lo, subjugá-lo!


*Letalidade é um conceito utilizado pela epidemiologia que permite verificar a gravidade de um evento, ou seja, ela mede o risco de morte de um determinado evento. No caso em questão, a letalidade da violência física é calculada verificando-se, do total de crianças, adolescentes e jovens adultos vítimas de violência física, quantos foram a óbito por causa desse tipo de violência.

O texto que está entre aspas foi retirado do primeiro capítulo da dissertação de mestrado A VIOLÊNCIA FÍSICA INTRAFAMILIAR COMO MÉTODO EDUCATIVO PUNITIVO-DISCIPLINAR E OS SABERES DOCENTES

20 de out. de 2012

O perfume e a beleza das professoras - Narrativas de resistência feminina

 

Estimado leitor
Antecipando a tradicional postagem de domingo, deixo com você alguns fragmentos de narrativas femininas que revelam como a beleza e o perfume de algumas maestras podem assumir um sentido de resistência à violência e à destruição na sempre delicada memória das crianças.
 

Narrativa de Adelina Ecceli* sobre sua fonte de inspiração para seu distinto trabalho como bedel da Universidade de Verona.
Eram tempos de guerra e ela sempre era pontual, sempre presente, sempre desprendia um cheiro bom que só ela tinha. Admirei muito essa mulher. Sim a recordo, a vejo sempre altíssima, talvez fosse pela posição: sempre em pé. Eu era pequena e me sentava na primeira fila. Seu perfume me envolvia sempre e ainda poderia reconhecê-lo. Durante a guerra não havia perfumes, nem sabonetes e o nariz era mais sensível aos cheiros. Sempre guardo frasquinhos em casa porque penso que se a guerra voltar é uma das coisas que temos que ter. Aquele cheiro não era de destruição, se conservava desde antes da destruição, inclusive durante a guerra. Inspirei-me muito no modo de ser daquela mulher” (DIÓTIMA, 2004, p. 20).

Comentário Chiara Zamboni sobre a narrativa de Adelina Ecceli:
“O pensar a partir de uma experiência e segui-la em seu percurso não é um processo que reproduza a experiência como um espelho. Para que possa mostrar a verdade do real o pensamento deve ser produtivo. Nada há de naturalista nem de testemunho imitativo nos fatos relatados por Adelina Ecceli - bedel da Universidade de Verona, quando relaciona seu trabalho como uma recordação da professora e com o perfume que ela sempre levava na época da guerra. Um perfume que é signo de vida frente à destruição da guerra: um perfume que é signo de vida no trabalho de Adelina. O pensamento de Adelina avança e dá saltos seletivos, que mostra a presença do passado no presente, que inventa um símbolo na percepção concreta: o perfume do bem” (DIÓTIMA, 2004, p. 26).
 

Narrativa de Zazi Sadou** sobre as mulheres que dão sentido e coragem a sua luta contra a violência do Grupo Islâmicos Armados (GIA) da Argélia.
 


“Ser cabeleira em nosso país equivale a estar condenada a morte, porque a cabeleira trabalha para conservar a beleza das mulheres. É verdade, nunca havia visto as argelinas tão belas como as vejo agora. (...) São bonitas porque prestam atenção a sua pessoa, se fazem visíveis, andam orgulhosas pelas ruas e não coladas nas paredes. Este fazer-se visível é um ato de coragem e resistência, creio eu.
 
 
Existe uma cidade ao oeste de Argélia, Tiaret, em que foram assassinadas algumas cabeleiras. Mas nenhum salão de beleza fechou. Os salões de beleza são lugares em que as mulheres se reúnem, lugares em que minhas amigas e eu nos encontramos para assinar petições, discutir leis, organizarmos. O mesmo acontece nas festas, nos casamentos e nos funerais. Não posso deixar de falar sobre o que as mulheres converteram os funerais: em efeito nesse país do islam o cemitério se converteu em um lugar de resistência política.
(...) Para todas vocês, mandar seus filhos a escola é uma coisa normal; para nós, enviá-los ao colégio significa risco de não voltar a vê-los mais, por que a escola é um dos flancos mais atacados pelas ameaças e violências dos integristas: mais de 850 escolas foram queimadas.
(...) Em outubro, dia 23 de outubro, onze professoras foram assassinadas na região ocidental da Argélia. Elas foram metralhadas no pequeno ônibus que as transportavam. Cada uma delas havia sido ameaçada segundo disseram suas famílias. Mas nenhuma havia deixado a escola nem um só dia. Sabia-se do perigo, mas disseram a seus familiares, a seus maridos as casadas, a seus pais, a suas mães que seu dever era se fazer presente no encontro com seus alunos que iam a escola aprender. Diziam: ‘É necessário que estejamos ali pra dar-lhes o saber’.
(...) Voltando a Argélia, ali a imprensa falou que uma irmã de um chefe da GIA, (…) desenhou o mapa e traçou o caminho para que o grupo terrorista pudesse entrar no povoado de Benthala e realizar o massacre. (…) As terroristas são a outra cara de meu país, mas estas não são as mulheres que fazem a diferença, não são elas que representam a maioria, não são elas que determinam o curso da história, o futuro de Argélia.

(...) As mulheres que determinam o curso da história são as professoras assassinadas, são as professoras do povo, belas como o sol. É verdade. É surpreendente, com tudo que passaram, vão à escola maquiadas, bem vestidas, algumas com o véu, mas apreendemos que ele assim é algo suave, docemente querido.

Contarei uma história engraçada. Tinha que ir com uma amiga a uma de nossas reuniões e ela chegou maquiadíssima. Ao vê-la disse: ‘tire toda a maquiagem, não penso ir com você tão arrumada assim a um povoado que a menos de um mês e meio estavam sepultando seus mortos e seus filhos’. Ela retirou sua maquiagem sem protestar. Ao chegar fomos recebidas pelas professoras. Elas estavam magníficas, maquiadas, bem maquiadas, então minha amiga contou a cena que eu tinha armado.
As professoras nos explicaram que a maquiagem era normal entre elas, se tratava de algo muito consciente. Queriam que seus alunos, essas crianças que haviam perdido seus pais e mães, vissem nelas, cada manhã, imagens de vida” (DIÓTIMA, 2004, p. 36 - 39).
 
Nota de Delfina Lisiardi sobre a narrativa de Zazi Sadou:
“Zazi fala a linguagem da admiração e a mim a comunica. Na intensidade da amizade encontro a paixão política, movida pelo prazer do intercambio e do sentimento compartilhando da liberdade. Descubro, através das imagens que nós deixou o relato de Zazi, que este sentimento não conhece limites e sabe colocar em relação diversas línguas, criando uma rica trama de imprevistas matizes. Talvez o novo que nos comove e que pode suscitar estupor e admiração, ou ao contrário, dar medo, é o amor feminino pela beleza. A beleza encarnada, em corpos femininos que querem transmitir o prazer vital do cuidado e opor-se ao delírio de morte e destruição. Na Argélia, como no Afeganistão ou no Sudão, este amor custa à mulheres o preço da sobrevivência” (DIÓTIMA, 2004, p. 49).
 

*Adelina Ecceli foi eleita por uma integrante do movimento político que combate as tendências hierárquicas e burocráticas nas universidades italianas como exemplo de uma profissional que tem a capacidade de reinventar-se em seu trabalho, atribuindo um sentido próprio a sua ação institucional.
 
Zazi Sadou** é ativista do movimento feminista argelino em outubro de 1997 recebeu o premio Woman Law Develepment Internacional do Alto Comissionado da ONU para os Direitos Humanos.
Referência: DIÓTIMA (2004) El perfume de la maestra. 2ª edición- Barcelona: Icária.

17 de out. de 2012

NOTA PÚBLICA DO CEDECA - Caso da ADOÇÃO IRREGULAR das Crianças de Monte Santo

    

Adoção Monte Carlo

“Família pobre tem filhos tirados de casa e entregues para adoção. Pais não puderam se defender. Para juiz, se trata de uma quadrilha que atua para traficar crianças pobres no sertão da Bahia de forma planejada, profissional e habitual”. Acesse link da reportagem do Fantástico AQUI


Compartilhando NOTA PÚBLICA do Cedeca-Bahia.

 O CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE YVES DE ROUSSAN – CEDECA/BA – vem a público manifestar sua total indignação e perplexidade diante do Caso das Crianças de Monte Santo, as quais foram entregues a terceiros, a título de guarda provisória, com total desrespeito às normas constitucionais, estatutárias e internacionais que regulam o instituto da adoção no país.

Após denúncia de uma militante social da REDE PROTEGER, o setor jurídico do CEDECA passou a acompanhar o caso, a partir de junho deste ano, sublinhando que o processo estava há um ano abandonado. Decerto que, se não fosse a força mobilizadora da sociedade civil organizada por meio do CEDECA, do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (CECA) e do Forum de Direitos da Criança e do Adolescente (Forum DCA), o caso permaneceria parado, sem qualquer possibilidade de retorno das mesmas para a sua família bio-afetiva.

Seria uma completa irresponsabilidade dos citados órgãos e da mídia em geral divulgar e concitar uma solução para este caso se ele não contivesse uma miríade de nulidades que depõem contra os operadores do direito que lá atuaram em meados de 2011 e houveram por mal conceder a citada guarda sem que o princípio constitucional do contraditório fosse respeitado. Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente é claro quando afirma que a intervenção Estatal deve fortalecer e priorizar os vínculos da família natural para promover o superior interesse da criança.

Depois da família comparecer em peso ao Conselho Tutelar de Monte Santo em junho de 2011 para saber o paradeiro das crianças  e exigir o seu retorno, este órgão oficiou ao juiz nos autos do processo no sentido de que fosse designado advogado gratuito para a defesa da família. O magistrado conheceu o pedido, porém não nomeou quem quer que fosse.

Após a apreensão das crianças manu militari, a família sequer foi citada para integrar a lide no pólo passivo, somente sendo realizada esta imprescindível regularização processual há poucos meses, conforme relatado, depois do caso ser denunciado pelos movimentos sociais.      

Salienta-se que não havia situação de risco constatada, quer seja pela Assistente Social (CREAS) ou pelo Conselho Tutelar, enquanto as crianças estavam sob a guarda da família bio-afetiva. Logo, não foi identificada situação de trabalho infantil, abuso físico, sexual, maus-tratos ou abandono, além delas estarem matriculadas na escola, vacinadas e alimentadas. A respeito da alegada condição de higiene precária, apenas a Assistente Social destacou não haver rede de esgoto instalada na residência da família, responsabilidade dos poderes públicos, que deveriam ter sido oficiados para solucionar a questão, conforme disposição do ECA quanto ao procedimento a ser adotado na intervenção Estatal sobre qualquer família.

Somente uma visão elitista e insensível – incabível a juízes e promotores de justiça -  diante da realidade sócio-econômica brasileira tornaria minimamente justificável identificar crianças brincando descalças em chão batido e a alimentação de recém-nascida com leite de vaca após o leite materno se exaurir como situação de risco capaz de fundamentar uma medida tão grave, a mais excepcional prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente - o encaminhamento de incapazes para abrigo e adoção.

É de extrema leviandade apontar os pais das crianças – Jerôncio e Silvânia – como drogados (sic) e, se os fossem, seria dever do Estado encaminhá-los a programas de auxílio e buscar a família extensa, reconhecidamente presente na criação das mesmas, além de lhes dar o direito de defesa para a efetivação do devido processo legal. Cabe salientar a atuação presente dos Avós maternos e paternos na assistência às crianças reconhecida no processo.

Causa espanto tratar como precária e excepcional, reversível a qualquer tempo, como quer fazer o crer a nota emitida pelo juiz Vitor Bizerra, a concessão de guarda para as famílias do interior do Estado de São Paulo. A grande distância física e cultural que esta localidade mantém de Monte Santo e o tempo em que o processo ficou sem tramitação desconstrói o discurso da efemeridade da medida, no que se apostou decidida e definitivamente na sua irreversibilidade. O juiz permaneceu na comarca seis meses em seguida à retirada brutal das crianças e nada mais fez no processo, embora coubesse a este impulsioná-lo.

Curiosamente, o juiz afirma que passaram a surgir na comarca pedidos de adoção para estas crianças. O que este não revela é que nas próprias petições iniciais, as famílias afirmam terem tomado conhecimento das crianças a partir de comunicação do juiz Vitor. Sobre o questionamento a respeito da paternidade, este não procede, pois Jerôncio é pai afetivo e jurídico das crianças citadas pelo juiz em note.

Sobre estes infantes, sujeitos de direitos, o CEDECA indigna-se com o tratamento que lhes foi dado a despeito de mais de 20 anos de luta dos movimentos sociais para o  reconhecimento de sua cidadania, dignidade e respeito, conforme positivado na Constituição Federal, no ECA e na  Convenção dos Direitos das Crianças. Os filhos de Silvânia foram apreendidos de forma covarde, à luz de um INDEVIDO PROCESSO LEGAL, sem que ninguém lhes explicasse sobre o que estava acontecendo, por que ou para onde iriam e quem os cuidaria. Após a medida, nem o Ministério Público ou Poder Judiciário buscaram informações sobre a convivência das crianças com os guardiões.

Salientamos que não pode passar despercebido o papel desempenhado pela Sra. Carmem, conhecida na região há mais de quatro anos como “mulher que leva crianças para criar”, embora  jamais investigada pelo Poder Público.

Desta forma reiteramos nossa luta na defesa intransigente do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Constituição Federal e da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, insistindo no pedido de revogação da guarda provisória e imediato retorno de todos os filhos de Silvânia, como já consta nos autos do processo.

Waldemar Oliveira, OAB 16177

Maurício Freire, OAB 13469

Isabella da Costa Pinto, OAB 24903


Nota enviado por Márcia Oliveira, coordenação da Rede Não Bata Eduque em 16 de outubro de 2012.

16 de out. de 2012

“Um olhar sobre a sexualidade na infância e na adolescência ” - VIII Gente Crescente do CAPSi Água Viva (SMS Goiânia)

A violência é uma criação da cultura humana, no mundo natural ela não existe. Como fenômeno cultural ela pode ser aprendida, estimulada, minimizada e até mesmo evitada. Para enfrentarmos a realidade de violência que coloca em risco a vida e o desenvolvimento de crianças e adolescentes é fundamental que pais e educadores conheçam os fatores que os protegem e os colocam em maior risco. De acordo com Pepa Horno (2009) a ocorrência ou não de uma determinada violência dependerá da inter-relação entres os Fatores de Risco e Fatores de Proteção que operam nos diferentes contextos da vida da criança e do adolescente.

Os Fatores de Proteção são aqueles que favorecem o bom desenvolvimento da pessoal e que tornam mais difícil que a violência ocorra. Os Fatores de Riscos são aqueles que colocam as pessoas em situação de vulnerabilidade à violência. Na esfera individual, o desconhecimento sobre a sexualidade é um dos Fatores de Risco que vulnerabiliza crianças e adolescentes a sofrerem violências sexuais. Na esfera familiar e comunitária, uma educação afetiva sexual saudável é Fator de Proteção contra as violências sexuais.

Se de fato desejamos proteger nossas crianças e adolescentes, precisamos então compreender melhor o desenvolvimento sexual humano, nos capacitando assim para oferecer uma boa educação sexual a nossos filhos e alunos.

Abaixo segue duas boas oportunidades para aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre o desenvolvimento sexual saudável de crianças e adolescentes:

 

Sexualidade da criança

Revista Crescer - entrevista com especialista sobre o desenvolvimento sexual

VIII Gente Crescente - “Um Olhar sobre a Sexualidade na Infância e na Adolescência

PROGRAMA

Manhã - Das 08h às 11 horas

08h00 Inscrição

08h30  Mesa de Abertura: Representantes da Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente

09h30 Conferência: Sexualidade Infanto-Juvenil na Contemporaneidade

Maria Luiza Moura - PUC/Go - Recebeu o Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos 2012

11h00 Lanche

Tarde - Das 14h às 17 horas

Apresentação Artística

Mesa Redonda:  Sexualidade e Contemporaneidade

Moderador: Cláudio Costa de Araújo - Gestor do CAPSi Água Viva

A Influência da Mídia na Sexualidade Infanto-Juvenil

Evelyn Rocha - Especialista em Educação

O Papel da Família no Desenvolvimento da Sexualidade

Vera Morselli – Psicóloga e Profª da PUC/Go

A Escola como Agente de Construção da Sexualidade

Orozimbo Júnior - Educador Físico, Membro da Equipe do CAPSi Água Viva

O Desafio do Cuidado nos Sofrimentos dos Transtornos Ligados à Sexualidade

Marcelo Trindade - Psiquiatra da Infância e Adolescência HC/FMUFG e CAPSi Água Viva

16h00  Debate

16h30 Encerramento

17h00  Lanche

 


Data: 18 de Outubro de 2012

Horário: das 08:00 às 18:00 horas

Local: Câmara Municipal de Goiânia - Auditório Jaime Câmara

Endereço: Av. Goiás, nº 2001 - Setor Norte Ferroviário, nesta Capital.

Inscrições (somente pela internet):

www.goiania.go.gov.br  (no item Links Diversos – à direita da página)

www.saudegoiania.go.gov.br (logomarca à direita da página)

Informações:

gentecrescente@gmail.com.br

Realização:

CAPSi Água Viva: 3524-1660

Secretaria Municipal de Saúde

Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil - CAPSi Água Viva

14 de out. de 2012

Escafandro e a borboleta

 

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Estimado leitor do blog

Nesse domingo deixo para você a indicação do filme “Escafandro e a borboleta”. O roteiro desse filme foi baseado no livro autobiográfico do célebre jornalista e redator francês Jean-Dominique Bauby que desenvolveu após um acidente vascular cerebral a Síndrome do Encarceramento. Jean Dominique perdeu todos os movimentos do corpo, com exceção dos olhos. Pela atenção de uma fonoaudióloga que o atendia se descobre que é possível se comunicar com Jean-Dominique Bauby por meio das piscadelas de seu olho esquerdo.

A narrativa e a estética do “Escafandro e a borboleta” é indubitavelmente comovente, mas o que realmente me toca nesse filme é a luta da fonoaudióloga e de Jean-DominiqueBauby para se comunicarem. O método de comunicação desenvolvido pelos dois consiste em ditar o alfabeto inteiro para que Jean-Dominique Bauby pisque para a letra que vai formar a palavra desejada.

 

13 de out. de 2012

Janusz Korczak: Como amar uma criança...

 

Janusz Korczak, um dos precursores dos Direitos das Crianças

 

 

Abaixo um fragmento do artigo de Rafael F. Scharf - Vice-Presidente da Associação Internacional Janusz Korczak da Inglaterra, postado no blog CASA DE RUBEM ALVES

 

Janusz Korczak: Como amar uma criança...

Korczak

 

 

 

A vida de Janusz Korczak é tão tocante que, ao contá-la, é necessário evitar a ênfase patética que se impõe, a fim de permanecer-se fiel àquele sobre o qual falamos.

 

 

Ele era, na mais profunda acepção do termo, um homem simples, toda afetação lhe era estranha. É certo que ele não imaginava que seu nome seria célebre, e é por isto que cada vez que o glorificamos publicamente, inaugurando um monumento em sua homenagem, eu me pergunto qual seria o seu comentário se sua boca de pedra pudesse falar.

Sua história foi recontada inúmeras vezes e continuará sendo, porque ela mostra melhor, sem dúvida, não importando o caso particular, o horror inexprimível da última guerra e a exterminação dos judeus poloneses.

Em 5 de agosto de 1942, durante a liquidação do gueto de Varsóvia, os hitleristas ordenaram o agrupamento das crianças do orfanato de Korczak e o envio das mesmas ao campo de morte de Treblinka. O ‘Velho Doutor’ reuniu duzentos pupilos, os fez colocar-se sabiamente em fileiras e, à sua frente, partiu com eles para o ‘Umschlagplatz’, no cruzamento das ruas Stawki e Dzika, onde todos foram colocados em vagões de carga e enviados para os fornos crematórios.

Esta marcha nas ruas do gueto foi vista por algumas centenas de pessoas, e a silhueta pequena de Korczak dirigindo-se para seu calvário, inconsciente de seu heroísmo, fazendo aquilo que lhe parecia evidente, excitava as imaginações. A novidade espalhou-se imediatamente, repetida de boca em boca com a força de detalhes inventados: que Korczak carregava nos braços os dois menores, coisa pouco provável, porque ele mesmo estava doente e tinha dificuldades em andar; que o ‘Jundenrat’ tinha intervindo no derradeiro momento e tinha despachado em seguida um mensageiro atrás da fila, portador de um salvo conduto somente para Korczak, que foi por ele rejeitado com desprezo; que para apaziguar as crianças ele tinha lhes dito que iam em excursão e que eles, confiantes, o seguiam sem choro e sem protesto. Mas nenhum embelezamento é necessário diante dessa verdade nua e crua; não é preciso ajuntar qualquer coisa para torná-la mais eloqüente. A antítese do espírito e das dificuldades é clara e definitiva: um homem sábio por excelência, desinteressado e bom, opondo-se aos covardes, bárbaros obtusos, que se mostravam sob seu aspecto mais satânico.

Entre os milhões de mortes anônimas, a de Korczak tem um grande significado. Nos campos e guetos, ele se tornou para muitos, uma inspiração, pois aí o que mais ajudava a sobreviver era a convicção obstinada e indestrutível que a dignidade humana poderia vencer , embora tudo parecesse provar o contrário.

A imprensa clandestina dos campos mostra bem o quanto esta derradeira caminhada sublime do Velho Doutor foi um reconforto e uma dose de ânimo para seus contemporâneos. A partir daí sua glória tem crescido e o mundo fez de Korczak um símbolo moral.

 

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É preciso que nossa atenção à sua morte não obscureça o caráter de sua vida. Henryk Goldszmit (este era o seu verdadeiro nome – Janusz Korczak foi um pseudônimo tirado de um romance pouco conhecido de Kra Szewski) nasceu em Varsóvia há pouco mais de cem anos numa família abastada. O fato de seu pai ter sido um advogado conhecido e seu avô um médico mostra até que ponto o seu meio foi assimilado. Ele cresceu na solidão, preservado das influências do exterior, sem se dar conta de que era judeu e sem saber o que isso significava. Antes de terminar a escola ele perdeu o seu pai, atingido por uma doença mental. A miséria sucedeu a abundância. O jovem Henryk tomou sobre si, da maneira como pode, o encargo de sua mãe e irmã, e nos anos seguintes, freqüentemente passando fome, estudou medicina com enormes dificuldades. Quando, por fim, obteve seu diploma, as coisas começaram a melhorar, contribuindo também para isso sua reputação de escritor que se afirmava. Mas isto não durou muito tempo. Repentinamente um tipo de necessidade interior mudou completamente seu destino.

Com trinta e quatro anos ele abandonou o exercício da medicina para se ocupar de um orfanato, que do início ao seu fim, permaneceu associado ao seu nome. A idéia fixa de consagrar sua vida às crianças parecia possuí-lo. Ele não era um idealista ingênuo; o que o caracterizava era uma compreensão extraordinária da criança e a convicção da necessidade de lutar pelos seus direitos no mundo governado pelos adultos. Ele não tinha confiança no mundo governado pelos adultos, mas como cada verdadeiro reformador ele julgava que mesmo uma só pequena vela acesa valia mais que lamentar-se de escuridão. Sua intuição não excluía sua sensibilidade e ela está edificada sobre uma observação constante, clínica, poder-se-ia dizer, sobre um estudo minucioso dos fatos. Totalmente absorvido por sua única idéia, não havia lugar nele para tudo que os outros davam tanta importância – dinheiro, a celebridade, um lar, uma família.

 

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Seu orfanato, construído e mantido exclusivamente graças às doações de pessoas caridosas, era destinado às crianças dos bairros pobres de Varsóvia. A obtenção de fundos para fins de caridade tinha então, como hoje, seu aspecto desagradável, que freqüentemente irrita aqueles que dela dependem. Korczak balançava a cabeça em desaprovação perante o preço do material gasto para encerar o assoalho antes de um baile de benemerência e ele se lamentava do tempo que perdia com quem vinha visitar o orfanato. Mas a força de sua personalidade fazia que os doadores considerassem uma honra o financiamento de seu trabalho.

No domínio da educação e da psicologia da criança, ele era um pensador pragmático original e, ao mesmo tempo, um pioneiro de princípios que serviam de modelos para outros. Ele se esforçava constantemente de refazer seu sistema baseado sobre a compreensão das necessidades mais profundas da criança. Sua influência se exercia tanto por sua presença direta quanto pelo que escrevia no jornal do orfanato preparado pelas crianças e destinados à elas mesmas; a leitura em comum dessa publicação era um acontecimento semanal dos mais importantes. Conta-se que ao longo de 30 anos de seu trabalho intenso, ele jamais deixou de fornecer um artigo por semana à redação. As regras do orfanato eram seguidas por um código, cujo parágrafo 1000 previa como a pena mais alta, a expulsão pura e simples. Cada criança que tinha reclamação contra outra tinha o direito de a fazer comparecer perante um tribunal composto por seus colegas. Korczak mesmo, se tivesse sido convocado, teria de se apresentar perante este tribunal e de se submeter a sua sentença.

À noite, após uma ronda em todos dormitórios, o Velho Doutor retornava ao seu quarto no sótão, a única ‘casa’ que ele teve durante toda a sua vida adulta, e lá, até tarde da noite, ele colocava ordem em suas notas e escrevia.

Ele era um escritor fecundo tanto no seu domínio profissional quanto, e antes de tudo, na sua criação para as crianças e sobre as crianças. Seus livros ilusoriamente simples nas suas formas e conteúdos, impregnados na mesma proporção de melancolia e humor, refletindo seus anseios interiores, muitas vezes satiricamente áspero em relação a sociedade, sempre cheios de emoção e compreensão, deixavam traços duráveis na memória de seus leitores jovens e velhos, destinando-se a ficar gravados na história da literatura desse gênero.

Lá pelos meados dos anos trinta Korczak envolveu-se em dois empreendimentos na Palestina. O que ele aí viu o comoveu e o refrescou espiritualmente. Sob o encorajamento de numerosos amigos e antigos discípulos ele começa então a pensar seriamente em fixar-se lá para sempre. Mas havia obstáculos. O que o atormentava sobretudo, era o medo de não encontrar um sucessor adequado para continuar seu trabalho em Varsóvia. Ou seja, o pensamento de se afastar de sua terra natal lhe era insuportável. Nas cartas que ele escrevia aos seus amigos para explicar as causas de suas hesitações ele invocava o ‘seu Vístula’ e ‘sua Varsóvia bem-amada’, das quais ele jamais se consolaria se tivesse que deixar. Além do mais, ele estava sem dinheiro e hesitava em se colocar dependente de qualquer um.

Quando os hitleristas fecharam os judeus de Varsóvia dentro do gueto, o orfanato perdeu sua casa à Rua Kruchmalna, do lado ‘ariano’, e transportou-se para locais provisórios, no interior dos muros do gueto. Naquele momento Korczak já percebia melhor que a maioria das pessoas que a máquina impiedosa os mataria a todos. Mas ele pensava em não renunciar ao seu direito de aliviar os sofrimentos. Alquebrado e doente, cada dia ele reunia as forças que lhe restavam e partia à procura de viveres e de medicamentos para as crianças. Às vezes ele não trazia nada de suas buscas obstinadas, outras vezes ele voltava somente com uma ínfima parte do necessário. Ele não temia solicitar com impertinência, de mendigar, de envergonhar as pessoas que se esquivavam de sua nobre ação. Nos dias em que ele nada encontrava ele não hesitava em dirigir-se mesmo aos piores especuladores e opressores judeus. Apesar de fome incessante cada vez mais insuportável e às doenças sempre mais freqüentes, ele cuidava para que seu orfanato funcionasse normalmente, a fim de que seus alunos pudessem sentir-se bem. Freqüentemente ele trazia dos locais mais distantes uma nova criança encontrada na rua, no fim de suas forças, para quem a bondade do Velho Doutor significava a salvação durante algum tempo ainda.

 

Janusz 3

 

Nestas condições rigorosas levadas ao extremo e que em tempo normal é difícil de se imaginar, nós temos em Korczak, no seu trabalho cotidiano, um exemplo do que pode fazer um genuíno homem guiado pelo amor.

Sua vida é um modelo e somos tentados a ver nele, nesta silhueta franzina revestida de avental de inspetor que ele usava habitualmente, um exemplo típico de toda uma geração, uma encarnação da ‘idade da criança’. Sua grandeza, que consistia nem mais nem menos em fazer seu dever, podia ser aquela de qualquer um, e mesmo sua morte trágica foi uma coisa comum, lá onde o martírio estava na ordem do dia.

Postagem especial em comomoração ao dia 12 de outubro, DIA DA CRIANÇA no Brasil


Veja mais:

2012 AÑO DE JANUSZ KORCZAK
JANUZ KORCZAK: UN MAESTRO EN EL QUE PENSAR

12 de out. de 2012

Movimentos nacionais que lutam contra a violência se encontram em Goiânia

 

Dor vira resistencia

O Comitê Goiano pelo Fim da Violência Policial realiza um debate público com a participação de representantes de grupos que lutam contra a violência em outros estados, para partilha de experiências, no dia 17 de outubro, quarta-feira, a partir das 18h30, na Casa da Juventude Pe. Burnier. Participam membros dos grupos Mães de Maio, de São Paulo, e Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, do Rio de Janeiro.

O objetivo do evento, chamado “Encontro das Lutas”, é promover um intercâmbio e ampliar as possibilidades de ações do Comitê no Estado. Em Goiás, o Comitê reúne familiares de vítimas e agentes de movimentos sociais e de direitos humanos na busca por justiça diante de execuções e violência praticadas por policiais. A proposta, a partir do encontro, é fortalecer a articulação com outros grupos, num fortalecimento mútuo.

Representantes de outros estados
O grupo Mães de Maio, de São Paulo, é fruto da resistência de familiares de vítimas da chacina promovida pela polícia na periferia da capital paulista, em maio de 2006, quando foram executadas quase 500 pessoas. Participam pelo grupo: Débora Maria da Silva e Danilo de Cerqueira César.

A Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência reúne diversos grupos que resistem às ações violentas acontecidas no Rio de Janeiro, incluindo as Chacinas da Candelária, do Borel e de Acari. Patrícia de Oliveira da Silva e Maurício Campos representam a rede no encontro em Goiânia.

Para mais informações sobre os grupos:
Comitê Goiano pelo Fim da Violência Policial/GO
Mães de Maio/SP
Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

10 de out. de 2012

Não permita que seu preconceito e intolerância alimentem a industria da guerra

Não quero alimentar com o meu ódio o fabuloso lucro da indústria de armas. Se depender de minha vontade e ação essa indústria irá à banca rota!

 

Os gestos de paz são sempre revolucionários, pois apostam na igualdade da condição humana, apostam na crença de que todos tem o direito de compartilhar desta casa chamada Terra.

 


 

YE MIDEAST ISRAEL PALESTINIANS DAILY LIFE

 A indústria dos armamentos é uma das mais lucrativas do mundo e gera trilhões de dólares, que vão para as mãos dos mercadores da morte, que leva à catástrofes humanitárias em várias partes do mundo”*.

 


Enviado por Maria Aurora Neta Neta, mestre pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás e doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em 08 de outubro de 2012.

*Fonte: fragmento da matéria foi publicada na Edição 414 do Jornal Inverta, em 05/07/2007