25 de ago. de 2019

Elas nunca vão andar sozinhas - Yarang são as coletadoras de sementes que reflorestam as nascentes dos rio Xingu e Araguaia



“É preciso ensinar o valor das sementes, o valor da floresta. É preciso garantir que meus netos e netas vão ter futuro. Você só vai valorizar a floresta se olhar para ela e ver algo bom, se não fizer sentindo, não vai dar valor.”




“Yarang é símbolo e nome do movimento de mulheres Ikpeng que, há 10 anos, coleta sementes para reflorestar as nascentes dos rio Xingu e Araguaia, no Mato Grosso, e onde mais o branco tiver desmatado no Cerrado e na Amazônia. Elas já ajudaram a plantar cerca de 1 milhão de árvores. E querem ajudar cada vez mais”.





16 de ago. de 2019

Antígona, de Sófocles - tradução do Millôr





Prólogo
 

Ao cidadão grego
Na platéia
O que lhe importava
Ao sentar de novo para ouvir de novo
Não era a velha lenda:
Era a palavra nova do poeta.

Colocando o cidadão de hoje
Atento aí, à espera,
Em pé de igualdade com o ateniense
De faz tantos séculos
Lhe damos um resumo da espantosa história:
Creonte, rei de Tebas,
Vinga-se de Polinices, sobrinho e inimigo.
Antígona, irmã de Polinices,
Enfrenta o rei, é condenada à morte.
Hémon, filho do rei, noivo de Antígona,
Rompe com o pai.

E assim a historia avança,
Em luta fratricida,
Ódio mortal
Violência coletiva,
Tudo pago por fim, naturalmente,
Com a escravidão do povo,
Na derrota final.

Sabemos bem
Que ninguém aprendeu muito
Com esta história de Sófocles.
Os jornais de hoje mostram
Que os próprios gregos não aprenderam.
E, cansativamente, ela se repetiu
Nos 2.400 anos que passaram:
Ânsia de Brutos, Cruz de Cristo,
Bizâncio Prostituída, Heil Hitler!,
Lumumba esquartejado, Kenya de Kenyata,
Chê nas montanhas.

Há sempre duas faces na mesma moeda
Cara: um herói.
Coroa: um tirano.
Algo mudou, bem sei;
A ambição mudou de traje,
A guerra, de veículo,
O poder, de método.
O mundo girou muito
Mas o homem mudou pouco.

Porém repetir uma história
É nossa profissão, e nossa forma de luta.
Assim, vamos contar de novo
De maneira bem clara
E eis nossa razão:
Ainda não acreditamos que no final
O bem sempre triunfa.
Mas já começamos a crer, emocionados,
Que, no fim, o mal nem sempre vence.
O mais difícil da luta
É descobrir o lado em que lutar.
 




Tradução-adaptação de Antígona escrita por  Millôr Fernandes




9 de ago. de 2019

"Desaparecidos" de Mario Benedetti e"Otra voz canta" de Daniel Viglietti &


Desaparecidos

Están en algún sitio / concertados
desconcertados / sordos,
buscándose / buscándonos
bloqueados por los signos y las dudas
contemplando las verjas de las plazas
los timbres de las puertas / las viejas azoteas
ordenando sus sueños, sus olvidos
quizá convalecientes de su muerte privada

nadie les ha explicado con certeza
si ya se fueron o si no
si son pancartas o temblores
sobrevivientes o responsos
ven pasar árboles y pájaros
e ignoran a qué sombra pertenecen

cuando empezaron a desaparecer
hace tres cinco, siete ceremonias
a desaparecer como sin sangre
como sin rostro, y sin motivo
vieron por la ventana de su ausencia
lo que quedaba atrás / ese andamiaje
de abrazos cielo y humo

cuando empezaron a desaparecer
como el oasis en los espejismos
a desaparecer sin últimas palabras
tenían en sus manos los trocitos
de cosas que querían

están en algún sitio / nube o tumba
están en algún sitio / estoy seguro
allá en el sur del alma

es posible que hayan extraviado la brújula
y hoy, vaguen preguntando preguntando
dónde carajo queda el buen amor
porque vienen del odio

Mario Benedetti





Otra Voz Canta

Por detrás de mi voz
Escucha, escucha
Otra voz canta
Viene de atrás, de lejos
Viene de sepultadas bocas, y canta
Dicen que no están muertos,
Escúchalos, escucha
Mientras se alza la voz que los recuerda y canta
Escucha, escucha, otra voz canta
Dicen que ahora viven en tu mirada
Sosténlos con tus ojos, con tus palabras
Sosténlos con tu vida, que no se pierdan, que no se caigan
Escucha, escucha, otra voz canta
No son solo memoria, son vida abierta,
Continua y ancha son camino que empieza
Cantan conmigo, conmigo cantan
Dicen que no están muertos,
Escúchalos, escucha…

Daniel Viglietti