26 de nov. de 2010

Uma triste notícia: mais uma jovem morre vítima de espaçamento

PAI ESPANCA E MATA FILHA DE 15 ANOS QUE NAMORAVA ESCONDIDO





A estudante Larissa Rafaela Kondo de Lima, de 15 anos, morreu ontem após ser espancada pelo pai, o motorista José Carlos de Lima, de 38 anos, em Cafelândia, interior de São Paulo. O motivo da agressão seria um namoro que a menina mantinha escondido dos pais.


De acordo com o delegado Adilson Carlos Vicentini Batanero, a mãe da menina, Márcia Kondo de Lima, de 42 anos, reclamou quando ela chegou tarde em casa, por volta das 18h30 de anteontem, com uma amiga. Após discussão, a filha contou que estava com o namorado.

Márcia teria então batido nela com um cinto. Quando o pai chegou em casa e soube da história, teria espancado Larissa - até mesmo com chutes na cabeça, segundo depoimento da mãe.

Todos foram dormir e os pais acordaram quando ouviram o barulho do chuveiro. Larissa estava tonta e tentava tomar banho para aliviar as dores provocadas pela surra.

Levada ao Pronto-Socorro de Cafelândia, a menina teve de ser transferida para o Hospital de Bauru, onde morreu. Segundo o delegado, o médico-legista disse que Larissa morreu por causa de um edema pulmonar, provocado pelas pancadas na cabeça.

O pai foi detido e será autuado por crime de lesão corporal seguido de morte. A mãe está internada em estado de choque.

Religião

Vizinhos disseram que todos, menos o pai, eram evangélicos, e o fato de o namorado não ser da mesma religião pode ter motivado as agressões.

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO, 25-11-2010
Enviado por Diane Valdez - Goiânia - Goiás

A deterioração da imagem pública das meninas negras

Dia Internacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres:
Em Defesa de nossas Meninas Candaces[1]



Andréia Lisboa de Sousa*



Se refletirmos um mínimo sobre a questão, não teremos dificuldades em perceber o que o sistema de ensino destila em termos de racismo: livros didáticos, atitude dos professores em sala de aula e nos momentos de recreação, apontam para um processo de lavagem cerebral de tal ordem que, a criança (…) já não mais se reconhece como negra. E são exatamente essas “exceções” que, devidamente cooptadas, acabam por afirmar a inexistência do racismo e de suas práticas. Quando se dá o caso oposto, isto é, de não aceitação da cooptação e de denúncia do processo [de] super-exploração a que o negro é submetido, surge imediatamente a acusação de ‘racismo ás avessas’. (Lélia Gonzalez, 1979)

A intelectual e ativista negra Lélia Gonzalez, uma de nossas Candaces brasileiras, nos lembra que historicamente no Brasil negros e negras encontram-se em desvantagem nos sistemas de ensino, assim como nas demais agencias do bem estar social. Nossos dois últimos presidentes, FHC (1994-2001) e Lula (2002-2010) reconheceram a existência do racismo que assola não somente o tecido social como o indivíduo e suas relações interpessoais. Todavia, nesse Dia internacional de enfrentamento à violência contra as Mulheres em 2010, quais são as perspectivas colocadas para as mulheres e meninas negras brasileiras? Mostra-se bastante significativo o investimento na manutenção do papel da mulher negra como um ser pouco inteligente, relegada apenas a exercer o trabalho doméstico, sendo comandada por uma mulher branca. Seria a imagem da empregada doméstica, sem escolarização, caricaturizada, animalizada, beiçuda e macaca de carvão o único lugar que a sociedade reserva e consegue permitir como de visibilidade à mulher negra?

Observamos que, recentemente, em 2006, fomos induzidos a pensar que houve avanço na política dos programas de livros do Ministério da Educação (Programa Nacional Biblioteca na Escola/PNBE, Programa Nacional do Livro Didático/PNLD e Programa Nacional do Livro do Ensino Médio/PNLEM) no sentido de contemplarem o princípio do respeito à diversidade etnorracial. Os editais dos referidos programas expressam categoricamente que: “serão excluídas as coleções que não obedecerem aos seguintes estatutos (…)” (Edital do PNBE/2010); “Serão sumariamente eliminadas as obras que não observarem os seguintes critérios (...)” (Edital do PNLD 2010) e “Todas as obras deverão observar os preceitos legais e jurídicos (...)” (Edital PNLEM 2007).

Todos eles citam, dentre outros dispositivos legais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e suas alterações, o Parecer CNE/CP nº 003/2004, de 10/03/2004 e a Resolução CNE/CP nº 1, de 17/06/2004, que dispõem sobre as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O PNBE cita o Estatuto da Criança e do Adolescente e os dois últimos ainda citam a “Lei nº 10.639/2003”, que tornou obrigatório o ensino de Historia e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar. O PNBE explicitamente informa que obras que veiculem “estereótipos e preconceitos de condição social, regional, étnico- racial, de gênero, de orientação sexual, de idade ou de linguagem, assim como qualquer outra forma de discriminação ou de violação de direitos (…)” serão excluídas. Diante desse jogo político, é evidente que os editais sofreram alterações em suas redações, mas não foram capazes de alterar o olhar do/da avaliador/a e, por conseguinte, não alterou o processo e as formas de avaliação e seleção de livros racistas e discriminatórios. Desse modo, em 2010, infelizmente nos deparamos com o descumprimento dos critérios de exclusão das obras submetidas ao processo de avaliação dos referidos programas, uma vez que tanto as regras do edital quanto o posicionamento político do MEC contrariam o que foi proposto e divulgado em seus respectivos editais. Por isso, houve a necessidade de se elaborar o parecer CNE/CEB Nº: 15/2010, orientando sobre a situação e as atentando para implicações da seleção do livro: “As caçadas de Pedrinho”de Monteiro Lobato, dado seu conteúdo discriminatório.

O que há por trás de uma gestão de política de livros que faz alterações em seus editais e as divulga fazendo parecer que está cumprindo as leis, mas que no entanto, na prática, produz um efeito totalmente contrário? O que há por de trás dos cartéis editoriais brasileiros, controlados por algumas corporações européias, que submetem livros racistas para a seleção dos programas do MEC. É assim que a supremacia branca evidencia seu poder social, pois mesmo tendo ciência das regras de seleção de livros, ela submete e tem selecionado (aprovado) livros com conteúdos racistas. Na verdade, esse programas de livros são utilizados como aparelhos ideológicos estatais que, dessa forma, mostram-se eficientemente à serviço da produção, reprodução e reforço de práticas discriminatórias contra, principalmente, a menina, a jovem e a mulher negra.

Apesar dos esforços de entidades que trabalham com direitos humanos, entidades negras, de educadoras/es e de pesquisadoras/es negras/os em prol do combate ao racismo e ao preconceito, o livro “As caçadas de Pedrinho” sem qualquer avaliação rigorosa no que diz respeito, especificamente, à temática racial foi aprovado pelas/os avaliadoras/es do Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE). Cabe então perguntar: quem são esses avaliadores? Quantos especialistas negros, especializados em literatura infanto-juvenil fazem parte da equipe de avaliação? Quais mudanças efetivas ocorreram na política do Programa Nacional Biblioteca na Escola, após a aprovação do Parecer CNE/CP nº 003/2004, de 10/03/2004 e da Resolução CNE/CP nº 1, de 17/06/2004?

Como a temática etnorracial está sendo implementada nas instâncias internas e externas do MEC? Como a política orçamentária é planejada para a realização de programas de capacitação e como os cursos de capacitação da Secretaria de Educação Básica têm preparado nossas/os profissionais de educação para lidar com a educação para a igualdade racial? Necessitamos que nossas/os especialistas negras/os não só sejam parte integrante das equipes que compõem esses programas, mas que sejam os gestores (coordenadores) dos mesmos para que uma política de inclusão e diversidade etnorracial se concretize de fato. Necessitamos também de especialistas em materiais pedagógicos sobre essa temática integrando o mercado editorial, principalmente nas editoras que submetem seus livros aos programas de livros do MEC.

Como podemos entender como normal a compra de livros que veiculem abertamente a identificação de “macaca de carvão” com explicitado em “As caçadas de Pedrinho”para pessoas negras? Se o fato de uma personagem que é apontada como “macaca de carvão” não se enquadrar na definição de estereótipo e estigma, teremos que mudar toda a literatura acadêmica sobre o tema. Goffman, Bendelow, Gillian and Williams, Ana Célia da Silva, Esmeralda Negrão, Fúlvia Rosemberg, Regina Pahim Pinto, Edith Piza, dentre outras que já evidenciaram em seus conhecidos estudos o quanto o preconceito e o estereótipo são nocivos para crianças e adolescentes. Portanto, os estudos acadêmicos de referência para o tema não mais servirão para nortear novos estudos e análises.

Se o MEC não cumpriu a meta de formação de professores, se as universidades não instituíram disciplinas para a educação das relações raciais, salvo algumas exceções, de onde vem a certeza de que nossos professores estão preparados para - após o contato da criança com um texto preconceituoso que já implicou em seu auto-conceito e auto-imagem - dar-lhe novos elementos para a não cristalização e superação desses estereótipos? Por que sujeitar nossas crianças negras ao exercício tão doloroso de ler: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão”? Por que optar pela distribuição de um livro que comprovadamente é um atentado à da imagem da mulher negra: “... nem Tia Nastácia, que tem carne preta"? Por que investir na imagem destrutiva, chocante, terrorist : "… aves, desde o negro urubu fedorento até essa jóia de asas…” para depois apostar que a/o educadora/or “trabalhará” isso em sala de aula adequadamente?

Sem sombra de dúvidas, esse contexto só vem a demonstrar que as tradicionais artimanhas das tecnologias de poder, aplicadas por grupos conservadores (a tal intelligentsia “branca” brasileira) só conseguem olhar e desejar políticas para si mesmos. Desta forma, mantêm sua supremacia econômica às custas da manutenção de livros por meio de dinheiro público, veiculando assim uma ideologia racista, travestida de textos estereotipados, achincalhadores e vilipendiosos em relação à personagem negra. Ora, o que podemos claramente perceber é que os gestores, técnicos e outros responsáveis por esse programas não levam a sério a legislação brasileira e mais ainda uma educação anti-racista para todas e todos.

Cacemos sim esse racismo à brasileira e toda e qualquer obra que fere os direitos humanos e o princípio de uma existência com dignidade. Questionemos os gestores públicos que brincam com a educação brasileira e não implementam uma educação anti-racista, anti-sexista e anti-homofóbica em seus programas. Cacemos sim a supremacia branca, disseminada em posições de poder nas instâncias do governo, que desvia o foco das discussões sobre desigualdades e direitos das/os negras/os. Transformemos essa política econômica de faz de conta, mas que não faz de conta quando o assunto é PODER, ELABORAÇÃO, AVALIAÇÃO e DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS.

O MEC e os sistemas de ensino devem rever a política de avaliação e seleção dos programas de livros, objetivando a participação de pesquisadores que trabalhem com as populações vítimas da discriminação e estereótipos nos materiais pedagógicos, determinando a participação de pesquisadores que trabalhem com as populações vítimas da discriminação e estereótipos nos materiais pedagógicos durante todo o processo. Caso contrário, não conseguiremos viver em uma sociedade democrática em que os excluídos possam ler livros com histórias complexas, belas, valorativas, diversificadas, oníricas e dignas sobre si próprios. Lobato não deixou que a branca de neve, a cinderela, o Tio Patinhas fossem os únicos ícones para o imaginário infanto-juvenil de nossas crianças, jovens e adultos. Contudo, é certo que em 1930 não fazia parte de sua perspectiva a valorização da criança negra, tampouco o fortalecimento de sua auto-estima. Assim, resta-nos a crítica, a observação, a nota explicativa à obra de Lobato ou então teremos que abandonar o discurso de valorização da diversidade e de promção da igualdade no campo da educação.

Temos direito a uma literatura infanto-juvenil que coloque a personagem negra no mesmo patamar inventivo, imaginativo, onírico, inteligente, diversificado e rico que só tem favorecido historicamente a imagem de personagens brancos. Queremos que os livros enviados para as escolas públicas propiciem uma relação estética, ética e lúdica de uma auto-imagem e auto-estima positiva para as crianças e jovens negras assim como para as crianças e jovens brancos. Queremos narrativas infanto-juvenis que realmente se configurem como narrativas que enriqueçam positivamente o imaginário da/o leitora/or . Queremos narrativas, ilustrações, riquezas de tessituras que sejam lidas apropriadamente e nos deixem encantados com os mistérios e segredos, que nos preparem para lidar com os desafios da vida. Almejamos textos que propiciem honradas formas de interação e saudáveis relacionamentos para estabelecermos convivências múltiplas com os seres vivos e não vivos que fazem parte do mundo que partilhamos.

Reivindicamos que Vossa Ex., o senhor Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o senhor Ministro Fernando Haddad, a senhora Secretária da Educação Básica Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva corrijam esse erro e se comprometam com a urgente necessidade de reconhecer a existência do racismo presente em livros e materiais didáticos e combatê-los ativamente, em consonância com nossa carta magna. Outrossim, reivindicamos que vossas senhorias assumam posturas proativas, encaminhando todos os procedimentos que se façam necessários, junto ao mercado editorial, às comissões avaliadoras, aos cursos de formação de professores, entre outros.

É fato que a primeira mulher eleita presidenta da República Brasileira, senhora Dilma Roussef, sabe do impacto, dos traumas e estigmas que a volência e a tortura ditatorial brasileira imprimiu e imprime em sua vida. Há 60 anos atrás, três mulheres foram mortas violentamente durante a ditadura de Trujillo na República Dominicana. Neste dia, não queremos que nossas meninas negras candaces sejam desmoralizadas e marcadas violentamente nas salas de aulas deste país como “... uma macaca de carvão” e por outros termos racistas que já deveriam ter sido abolidos. Queremos sim que as narrativas de nossas Candaces estejam nos livros infanto-juvenis deste país.

Neste Dia internacional de enfrentamento à violência contra as Mulheres protestemos contra “As caçadas de Pedrinho”, não permitamos que uma narrativa que apela para o uso de estereótipos abomináveis, além de textos e ilustrações discriminatórias contra a imagem da personagem feminina negra marque esse dia de luta. Assine o abaixo-assinado a favor do Parecer CNE/CEB Nº: 15/2010: http://www.euconcordo.com/com-o-parecer-152010

[1] Termo que quer dizer rainha-mãe e tem sidoera utilizado para designar o poder político- econômico, religioso, cultural, educacional e militar de rainhas africanas do reino de Meroe, bem antes da era cristã, nono sul do Egito antigo, onde hoje se localiza a Etiópia, o Sudão e o próprio Egito.

Andréia Lisboa de Sousa* - Especialista em Literatura Infanto-Juvenil. Co-autora do livro De Olho na Cultura: Pontos de Vista Afro-Brasileiros (Prêmio do Concurso Nacional de Livro didático sobre Cultura Afro-Brasileira, Fundação Cultural Palmares e CEAO, 2005). Doutoranda em Educação na Universidade do Texas/Austin/USA. Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da USP – FEUSP. Graduada em Língua e Literatura Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP. Pertence ao grupo de pesquisa: Rede Cooperativa de Pesquisa e Intervenção em (In)Formação, Currículo e Trabalho da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Integra a Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros (APN) e coordena a área de relações internacionais desta Associação. Integra a Associação Norte Americana de Pesquisa Educacional (AERA). souzaliz@yahoo.com.br


A paz é fruto da justiça!
La paz es fruto de la justicia!
The peace is fruit of justice!

Artigo enviado por Luiz Nascimento Carvalho

25 de nov. de 2010

Dia Internacional da Eliminação da Violência contra as Mulheres

Amigas e amigos,

Selecionei algumas cenas de filmes e uma canção para homenagear as mulheres nesse dia de luta.

Nas cenas do filme A vida no paraíso duas mulheres reivindicam pela música e pela palavra o direito de serem donas de sua vida e do seu desejo.




Lindíssima Canção!






Na cena do filme Free Zone uma canção folclórica ilustra o interminável ciclo da violência.





Abaixo a canção "Dignificada" interpretada pela mexicana Lila Downs.






Em 1999, as Nações Unidas (ONU) designaram oficialmente 25 de Novembro como Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.


Antes desta indicação da ONU, o dia 25 de Novembro já era vivido pelo movimento internacional de mulheres.

A data está relacionada com a homenagem a Tereza, Mirabal-Patrícia e Minerva, presas, torturadas e assassinadas em 1960, a mando do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo.

Conheça também o site wwww.quebreociclo.com


21 de nov. de 2010

Pesquisa do Hospital das Clínicas da USP evidencia que a maior parte das crianças vítimas de maus-tratos são abusadas pelas mães

Confira entrevista com o coordenador da pesquisa, o pediatra Antonio Carlos Alves Cardoso, AQUI.




Cardoso comenta que o dado referente aos abusos físicos não destoa de outras realidades. Sua tese alertou que 75% dos casos de agressão acontecem com crianças menores de dois anos. “Dessa porcentagem, metade é menor de um ano, fase na qual a criança ainda não consegue se expressar ou se defender”, observa o médico.


O pediatra lembra também que, às vezes, as pessoas nem desconfiam dos verdadeiros agressores: “Pequenos detalhes que as crianças emitem podem ser fundamentais para evitar uma tragédia, pois estatísticas mostram que 5% das vítimas de maus tratos acabam morrendo na mão dos agressores” (saiba mais).


20 de nov. de 2010

Música para comemorar o dia Nacional da Consciência Negra


Curta a guitarra enlouquecida do israelense David Brozas e as estonteantes vozes, metais e percussões dos músicos do Playing for chance. Participação especial de Bono Vox (vocalista do U2).





Guerra

Até que a filosofia que sustenta uma raça
Superior e outra inferior,
Seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada
Havera guerra, eu digo guerra.

Até que não existam cidadãos de 1º
E 2º classe de qualquer nação
Até que a cor da pele de um homem
Seja menos significante do que a cor dos seus olhos
Havera guerra

Até que todos os direitos basicos sejam igualmente
Garantidos para todos, sem discriminação de raça,
Guerra

Ate esse dia
O sonho de paz duradoura, da cidadania mundial e
As regras da moralidade internacional,
Permanecerão como ilusões fugares
Para serem perseguidas, mas nunca alcançadas
Agora havera guerra, guerra.

Até que os regimes ignóbeis e infelizes,
Que aprisionam nossos irmãos em Angola, em Mozambique,
Africa do sul em condições subumanas,
Sejam derrubados e inteiramente destruído havera
Guerra, eu disse guerra.

Guerra no leste, guerra no oeste,
Guerra no norte, guerra no sul,
Guerra, guerra, rumores de guerra.

Até esse dia, o continente africano
Não conhecera a paz, nós africanos lutaremos
Se necessário e sabemos que vamos vencer,
Porque estamos confiantes na vitória

Do bem sobre o mal,
Do bem sobre o mal...


Discurso Pacifista de Bob Marley

Bob pensava como um virologista: acreditava que tinha de arranjar um meio de injetar música e amor na vida das pessoas.

Em certa data estava programada uma apresentação de Bob Marley em um comício pela paz. Para intimidar o músico pacifista, impedindo-o de participar do comício, um grupo armado invadiu a sua casa e o balearam. Dois dias depois deste atentado aconteceu o show e lá estava ele. Durante o show perguntaram: "mas porque você não ficou descansando”?

- "Porque os homens que tentam estragar o mundo, não tiram folga um dia sequer, sempre pensando em como fazer algo ruim". Porque eu haveria de tirar"?


17 de nov. de 2010

TV Serra Dourada discute práticas violentas na educação das crianças






Por Rosimar Silva


Nos dias 16 e 17 de novembro, a psicóloga Cida Alves, do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde, da Secretária Municipal de Saúde de Goiânia, participou do “Programa do Meio dia”, da TV Serra Dourada, afiliada do SBT, em Goiânia.

No dia 16, Cida Alves foi entrevistada no estúdio do programa. O assunto foi o projeto de lei que proíbe os castigos físicos e humilhações na educação e no cuidado de crianças e adolescentes, enviado pelo governo federal ao congresso nacional. Na oportunidade, a TV convidou também Omar Borges de Souza, conselheiro Tutelar de Goiânia, que discorda da aprovação da lei. Segundo o conselheiro, “o Brasil tem coisas mais importantes para se preocupar”.

Na condição de entrevistada favorável à aprovação da lei e contra qualquer tipo de violência na educação das crianças, Cida Alves argumentou que “castigos físicos não contribuem na verdadeira educação das crianças, ao contrário prejudica a sua formação”.

Repercussão
Apesar do curto espaço de tempo do debate na televisão, houve uma grande repercussão entre os telespectadores e a direção de jornalismo resolveu continuar com o assunto no dia seguinte, 17 de novembro, e enviou um jornalista à casa da psicóloga Cida Alves para fazer uma entrevista sobre o assunto.

Nesta segunda oportunidade, Cida mostrou números que evideciam a gravidade, a freqüência e o risco de letalidade que envolve a violência física contra crianças e adolescentes no Brasil.

Espaço na TV
Cida Alves disse que “é importante contar com o apoio da grande mídia para fazer chegar até os pais e mães informações que esclareçam como a prática de bater para educar afeta negativamente a saúde e o desenvolvimento afetivo e intelectual das crianças e dos adolescentes”.

Cida disse também que “como profissional da saúde pública e pesquisadora tenho a tarefa de promover e facilitar a divulgação de informações que contribuam com a superação de práticas atrasadas que submetem crianças e adolescentes à dor e ao sofrimento em nome da educação familiar”, finaliza.


Atenção:
em breve será postado a reportagem completa.


Veja abaixo algumas consequências da violência física intrafamiliar contra crianças e adolescentes




Pesquisas científicas e observações clínicas apontam que os castigos físicos contra crianças e adolescentes:

1. Contribuem para o desenvolvimento de fusões patológicas ou disfuncionais (Teoria do duplo vínculo).

Nessa forma de disciplinamento há mensagens muito perigosas, em que se funde amor com dor, cólera e submissão: “eu te puno para o teu próprio bem, eu te machuco porque te amo”. A dupla mensagem que a punição física carrega pode levar ao desenvolvimento de:

• disfunções preceptivas,
• transtornos adaptativos; e
• comportamentos estereotipados na vida.

No trabalho terapêutico encontrei muitas mulheres que sofriam com os atos de violência do marido ou parceiro sem conseguirem se proteger ou encontrar uma alternativa de mudança para o seu padrão de relacionamento conjugal. Essas mulheres tinham, em comum, uma história de violência anterior, praticada pela família de origem. Muitas expressavam em seu comportamento submisso uma adaptação estereotipada às condutas violentas (psicológica, sexual ou física) que sofriam de seus pais ou cuidadores quando meninas. Porém, o impressionante é que elas traziam subjacentes a dor e o medo, a crença de que quem pune ou castiga com violência é porque tem sentimentos verdadeiros, porque ama (Cida Alves).

2. oferecem um modelo inadequado, por parte dos adultos, de lidar com situações de conflitos, que é o uso da força, da violência (Aprendizagem social da violência).

De acordo com os resultados de uma pesquisa, realizada por Simone Assis, os jovens que sofrem violências intrafamiliares do tipo físico severo, psicológico e sexual são:

a) 3,2 vezes mais transgressores das normas sociais;
b) 3,8 vezes mais vítimas da violência na comunidade; e
c) 3 vezes mais alvos de violência na escola do que os jovens cujo ambiente familiar é mais solidário e saudável.

Os resultados dessa investigação reforçam o entendimento de que a violência intrafamiliar potencializa a prática da violência social, pois sua dinâmica nutre um padrão de adaptação à agressão física e de resposta a ela (ASSIS, 2005).


4. Dificultam ou deteriora os vínculos afetivos entre pais e filhos.

Na pesquisa
A disciplina como forma de violência contra crianças e adolescentes (MARQUES et al., 1994), alguns depoimentos evidenciam o comprometimento do vínculo familiar em decorrência do padrão interacional violento. Dois relatos ilustram como a violência física afetou a vida dos sujeitos entrevistados. Em um depoimento um sujeito diz: “tive vários conflitos com meu pai, que era uma pessoa muito rígida. Saí de casa quando tinha 12 anos. Com 15 anos voltei para casa, mas meu pai continuava o mesmo. Por isso, fui embora e nunca mais voltei” (apud MARQUES et al., 1994). Em outra entrevista, um sujeito informa: “quando eu era pequena, eu era muito castigada. Meu pai era muito agressivo. Ele batia até tirar sangue, que era para a gente aprender. E por isso, eu casei muito cedo para fugir dele” (apud MARQUES et al., 1994). O casamento precoce ou o abandono do lar foi o caminho encontrado por esses dois sujeitos para romper com a relação familiar violenta.

O Estudo causal sobre o desaparecimento infanto-juvenil (SÃO PAULO, 2005), coordenado pelo Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), aponta que a violência física intrafamiliar pode conduzir a situações extremas de quebra de vínculos familiares. Esse estudo comparou o ambiente de 170 famílias que tiveram crianças e adolescentes desaparecidos (grupo caso) com duzentas famílias que não vivenciaram episódios de desaparecimento, mas moravam na mesma rua e possuíam filhos na mesma faixa etária (grupo controle).

De acordo com esse estudo as razões que provocaram a saída de casa das crianças e adolescentes foram:
agressões físicas (35%), alcoolismo dos pais ou dos jovens (24%), violência doméstica presenciada pela criança ou adolescente (21%), drogas usadas pelos filhos ou os progenitores (15%), abuso sexual/incesto (9%) e negligência (7%). Os demais casos registrados são de seqüestro e raptos (SÃO PAULO, 2005).

5. Promovem compromentimentos no rendimento intelectual.

Coeficiente intelectual

De acordo com uma investigação feita pelo professor Murray Straus, da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, meninos e meninas castigados fisicamente apresentam, depois de quatro anos, um coeficiente intelectual baixo em comparação com os que nada sofreram.

No grupo mais jovem, as crianças que não apanharam apresentaram 4 pontos a mais em seu coeficiente de inteligência do que as crianças que foram castigadas fisicamente.

No grupo de crianças entre os 5 e 9 anos de idade, aqueles que não apanharam tiveram 2.8 pontos a mais em seu coeficiente intelectual que do os que sofreram castigos físicos, depois de quatro anos.


6. Facilitam o surgimento de desvio no comportamento, como esconder ou dissimular por medo do castigo físico.

O comportamento desejado só ocorre na presença do punidor, pois o controle deste se dá por coação externa e não pela aceitação íntima da criança ou adolescente. Além de que a restrição imediata de um comportamento inadequado pelo uso da dor impede pais e filhos de conhecerem as origens das dificuldades e suas motivações, ficando mais difícil a real elaboração e superação dos mesmos.

7. possibilitam o surgimento de dificuldades na aprendizagem e na internalização das regras e dos valores de certo e errado, pois elas vêm associadas a sentimentos e sensações negativas.

8. aumentam as chances de aparecer dificuldades na aceitação da figura de autoridade

9. facilitam o desenvolvimento de auto-conceito negativo e baixa auto-estima.

10. promovem dificuldades no relacionamento com outras crianças e adultos.

11. desenvolvem uma
capacidade prejudicada de acreditar nos outros.

Estudos comparativos, coordenados pelo psiquiatra da Escola de Medicina de Harvard, professor Martin H. Teicher (saiba mais), demonstraram que as conseqüências das violências podem ir além das dificuldades afetivas e comportamentais. Suas pesquisas identificaram alterações na morfologia e fisiologia das estruturas cerebrais de pessoas que foram vítimas de maus-tratos em fases precoces de sua vida.

Pesquisadores fazem o seguinte alerta: filhos de pais dominadores, coercitivos, explosivos e espancadores
tendem a desenvolver uma reação complementar patológica. Ou tornam-se extremamente submissos, assustados, podendo desenvolver processos psicopatológicos graves como fobias, traços psicóticos e depressão. Ou caminham para outro extremo: rebelam-se, assumindo traços de delinquência.



15 de nov. de 2010

Escola Virtual de Pais promove discussão sobre bulliyng

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Onde estão as fronteiras entre brincadeira, implicância, agressão e perseguição implacável no comportamento de crianças e adolescentes?

Como orientá-los para o uso responsável da Internet e do celular, em casa e na escola?


O projeto Escola Virtual de Pais promove palestra com Maria Tereza Maldonado com o objetivo de mostra as manifestações mais comuns da agressividade entre alunos e os caminhos para fortalecer as competências essenciais nas vítimas, nos agressores e nos espectadores. Abordará ainda os fundamentos dos programas anti-bullying ("Agressão não é diversão") envolvendo crianças, famílias e equipe escolar.

Com um computador conectado à Internet Banda Larga, você interage de qualquer local com o palestrante e com os participantes.

Acesse e participe!
Inscrições www.escolavirtualparapais.com.br

vagas limitadas

Veja abaixo vídeo com a síntese da palestra de Maria Tereza Maldonado*




*Maria Tereza Maldonado - Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, membro da American Family Therapy Academy e exerce a profissão desde 1971. Foi professora da PUC-Rio e da Universidade Santa Úrsula; coordenou equipes de psicologia em hospitais públicos e privados; atua em projetos sociais de algumas ONGs; trabalha com consultoria familiar; atua como palestrante em todo o Brasil; tem 31 livros, entre os quais A face oculta – uma história de bullying e cyberbullying (Ed Saraiva), Comunicação entre pais e filhos e Cá entre nós – na intimidade das famílias (Integrare Editora).


Maiores informações:
contato@escolavirtualparapais.com.br

Varal de recados






3ªSemana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz acontecerá no Senado Federal entre os dias 16 e 19 de novembro próximo, no Auditório Petrônio Portela. O tema central deste ano é "A importância dos primeiros laços afetivos entre o bebê e os cuidadores".




Curso de informática para jovens

A Casa da Juventude está com inscrições abertas para o Curso de Informática e Cidadania. Curso Gratuito com 156 vagas. As aulas acontecem pela manhã e à tarde.
Mais informações:

(62)4009-0339
www.casadajuventude.org.br







13 de nov. de 2010

U2 no Brasil

Apaixonados pelo U2 preparem o fôlego, pois em abril a banda estará no Brasil. De acordo com o colunista Bruno Astuto, do jornal O Dia, o U2 vem ao Brasil em abril do ano que vem, para shows nos dias 8, 9 e 10 no estádio do Morumbi.


Um pouco de sua Música










Um pouco de suas defesas



12 de nov. de 2010

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomenda padronização de depoimento especial para crianças






Direitos de Crianças e Adolescentes: avanços no judiciário

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, nesta terça-feira (09/11), recomendação aos tribunais para que implantem sistemas apropriados para a tomada de depoimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes. A proposta, apresentada pela conselheira Morgana Richa na 116ª Sessão do CNJ, foi aprovada por unanimidade pelos conselheiros.

A recomendação do CNJ é que os tribunais mantenham sistema de gravação de áudio e vídeo dos depoimentos dos menores, que devem ser tomados em ambiente separado da sala de audiências, com a participação de profissional especializado. Os sistemas de videogravação, pela recomendação, devem ter tela de imagem, painel de controle remoto, mesa de gravação em CD e DVD, e outros dispositivos.

Além disso, o ambiente deve ser adequado ao depoimento da criança e do adolescente, em condições de segurança, privacidade, conforto e condições de acolhimento. Já os profissionais devem usar os princípios básicos da entrevista cognitiva, e estar preparados para dar apoio, orientação e, se necessário, encaminhar o menor para assistência à saúde física e emocional.

A necessidade de cuidados especiais na tomada de depoimento de crianças e adolescentes foi debatida de 3 a 6 deste mês num colóquio promovido pelo CNJ em parceria com a Childhood Brasil.

Fonte: Agência CNJ de Notícias - 12/11/2010
Repórter: Gilson Euzébio/Mariana Braga



Violência e saúde mental: famílias e crianças em risco

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O instituto de Pós-graduação da USP ofere a disciplina Violência e saúde mental: famílias e crianças em risco com as Professoras:


Rosa Inés Colombo
Doutora em Psicologia Social pela Universidade Kennedy Escuela de Graduados
Professora da Universidade de Buenos Aires/Argentina
Atuando nos principias temas: avaliação e intervenção junto a crianças vítimas de violência doméstica

Leila S. de La P. Cury Tardivo
Profa. Associada pelo PSC-IPUSP
Coordenadora do Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social do IPUSP – Projeto APOIAR
Atuando nos principais temas: Psicopatologia, avaliação e intervenção junto a pessoas em situação de sofrimento

Local: Instituto de Psicologia - USP
Dias: 30/11 – 09h às 15h – Anfiteatro/Bloco G
01/12 – 09h às 11h30 – Sala 20/Bloco B
02/12 – 09h às 13h – Anfiteatro/Bloco G

Inscrições e Informações:
Alunos regulares: Secretaria Pós-Graduação – Bloco G, 1º Andar (Retirar antes formulário na CCP)
Alunos ouvintes e especiais: pelo e-mail pospsc@usp.br

Atenção:
A palestra será ministrada em espanhol com tradução consecutiva
Certificados de presença aos participantes no último dia - corresponde a 2 créditos
Organização: Profa. Associada Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo
Comissão Coordenadora de Programa de Pós-Graduação – Psicologia Clínica


10 de nov. de 2010

Conselho Nacional de Justiça lança cartilha sobre Bullying




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Conselho Nacional de Justiça lança Cartilha sobre Bullying


Bullying (violência física ou psicológica contra pessoa incapaz de se defender) é o tema abordado na Cartilha 2010 – Justiça nas Escolas publicada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O material foi elaborado com o objetivo de orientar professores e demais profissionais da educação, além de famílias, sobre as formas de identificação, prevenção e erradicação desse fenômeno social.

A elaboração da cartilha integra as ações desenvolvidas pelo CNJ no âmbito do projeto Justiça na Escola que tem como objetivo aproximar o Judiciário e as instituições de ensino do país no combate e prevenção dos problemas que afetam crianças e adolescentes.


Os lançamentos da Cartilha e do projeto Justiça na Escola foram promovidos durante Seminário realizado em 20 de outubro, no Auditório da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região (Esmaf), em Brasília (DF). O evento reuniu cerca de 300 profissionais que atuam no Judiciário e representantes de comunidades escolares para debater questões como combate às drogas, bullying, violência nas escolas e evasão escolar, entre outros.

Acesse aqui o conteúdo da Cartilha. Melhor visualizado em Internet Explorer


Leia mais sobre o Seminário de Lançamento do Projeto Justiça na Escola.


9 de nov. de 2010

A INFÂNCIA TRISTE




Tania Virginia e outras histórias

conto da jornalista Eleonora Ramos








Eu me lembro de Tânia Virgínia com uns seis, sete anos. Tinha por volta de dez e, fora meus irmãos e primos, não conhecia na intimidade nenhuma outra criança. Os colegas de escola, naquele tempo, eram colegas de escola. Com raras exceções, não eram vistas com bons olhos maiores proximidades. Pouco se sabia de suas famílias e todas, quase todas, tinham “podres” a esconder, tipo desfalques, crimes de mando e, principalmente, amantes. Muitos homens ostentavam segundas famílias ou teúdas e manteúdas, personagens comuns e marginalizadas da sociedade sergipana de então.


A elite tinha dinheiro, muito dinheiro. O resto eram comerciantes e profissionais liberais, basicamente médicos, dentistas e advogados. Pobres feito Jó. Quando conseguiam juntar alguma coisa, estavam velhos e honrados, naturalmente.

Comerciantes como seu Moreira, homem sério, que conseguia ser kardecista, comunista, maçon, sócio do Lyons e diretor da Associação Atlética. Tudo ao mesmo tempo. Sertanejo de origem, depois vendedor ambulante e lojista, seu Moreira falava pouco, inteligente o bastante para não expor seus parcos conhecimentos, sua cultura de almanaque. Fazia o estilo honesto, caladão, rígido, infalível. O Pai.

Não fosse D. Núbia, aquela casa era uma tristeza. Ela andava e falava o tempo todo, professora, poeta,modista. O casamento sem amor aos 15 anos tornou-a envelhecida já aos 30, nervosa, cercada por quatro filhos adolescentes. Como seu Moreira, parecia infalível, senhora onipotente de tudo que existia atrás dos altos muros de sua casa. Nada se passava que não soubesse, apesar das inúmeras atividades. Fundara e dirigia um colégio, estava sempre envolvida com cursos de dança, shows beneficentes, festas de Natal, procissões, desfiles. Escrevia discursos, apesar da ortografia capenga, lia Allan Kardec e era mestra em vestidos de noiva .

Tânia Virgínia nasceu nessa família, mas nunca foi exatamente dessa família. Cresceu no quartinho dos fundos da casa, com a mãe, D.Novelina, que chamávamos Velina e que não se cansava de maldizer a sorte, a vida que levava criando de favor uma menina endiabrada dentro da casa dos patrões. Velina, cabocla forte, de pés enormes, trabalhou em regime escravo por mais de trinta anos na família Moreira. Como os escravos, nunca teve férias, nem feriados, nem horário de trabalho. Diferente deles recebia um mísero salário no fim do mês. Melhor para os patrões: garantiam um quartinho no fundo e a comida. O resto era com eles, os empregados domésticos.

Tânia Virgínia cresceu como um estorvo, nasceu devedora, perdedora. Se os filhos de D. Núbia comiam cuzcuz com manteiga, o dela era encharcado de leite. Os outros podiam gritar e correr pela casa, o que lhe era terminantemente proibido.

Mesmo assim, repetiam-lhe que tinha sorte porque comia bem, tinha um teto, roupas e bom colégio. E de fato, nas datas festivas, usava um vestido novo, que tinha de vir mostrar a D. Núbia. Um desfile humilhante a que as outras crianças não eram obrigadas. “Está linda, muito bem, vê se se comporta!”

Estudar justamente no colégio de D. Núbia podia ser um privilégio, mas marcou sua alma de muitas cicatrizes. Os colegas sabiam que era a filha da empregada. Viam quando ia pra cozinha da casa merendar, geralmente bolachão com refresco. Amigos mesmo, nunca teve nenhum. E deveria tirar as melhores notas, afinal, estava de graça no colégio da patroa e ainda era preguiçosa? Preguiçosa, mentirosa, treiteira. Motivos suficientes para surras, muitas surras. De todos, a toda hora.

Talvez no fundo ficasse revoltada, mas a violência dos patrões tinha o poder de despertar a ira de Novelina que baixava sem pena o tamanco de madeira na cabeça de Tânia Virgínia, nas pernas, na bunda magra. Parecia que quanto mais a menina gritava, mais ela se sentia redimida, em dia com os patrões. Estava fazendo a sua parte, castigando aquela peste de menina. No fundo, ela admirava os filhos de d. Núbia. Meninos bonitos, limpos, sempre bem penteados. E a caçula então! Uma boneca, quase um anjo. Por que gente pobre tinha de ser feia e desgrenhada, por que sua Tânia Virgínia estava sempre com aquela cara de fome, por que não engordava como os outros? Ora, porque, porque teimava em não comer, não comer nada, nunca, como se não fosse gente, nem bicho.

Durante os anos em que convivi com a família Moreira, nunca entendi porque consideravam tão graves as faltas de Tânia Virgínia. Do alto dos meus dez anos, tinha uma pena infinita dela, magrinha, feia, a boca enorme, sempre apertada num esgar de raiva e desprezo. Por causa da pele, marronzinha clara, avermelhada, como diziam, era chamada de formiga de roça. Geniosa, que menina geniosa. Sempre tive admiração pelas crianças que os adultos classificavam de “geniosas”. Apanhavam caladas, choravam sem lágrimas, repetiam o erro, odiavam em silêncio.

Mas ser geniosa na situação de Tania Virgínia já era heroísmo. Por isso ficava de longe olhando pra ela, vi-a algumas vezes apanhando com a boca cheia de comida, que mandavam “engula, engula” e ela vomitava. Não comia nunca, como se assim ajudasse a dar fim ao seu próprio corpo martirizado. Talvez sonhasse em acabar tudo, em morrer enfim, para se livrar da mão enorme de seu Moreira, à noite, nos dias em que lhe faziam alguma grave denúncia a seu respeito. Faltas graves teriam de ser castigadas pelo seu Moreira em carne e osso. Coisas como pegar goiaba no pé, atrasar a comida dos passarinhos, andar descalça ou demorar em tirar a mesa.

Certa vez perdeu o lápis e mais, o lápis e uma borracha branca, novinha, agarrada no alto. Prejuízo pro seu Moreira, falta gravíssima. Seu Moreira não usava nada além da própria mão, batendo com força na bunda, nas pernas, nas costas. Mesmo toda manchada de vermelho, Tânia continuava em falta, a surra aborrecia seu Moreira, lhe fazia mal.

Acostumou-se desde pequenininha a pegar os chinelos de D.Núbia, a procurar seus óculos, a correr na venda para comprar linha, bolachão, sal. Entre fazer os deveres da escola, cumprir ”suas obrigações” e dormir mal, acossada por muriçocas e pesadelos, não sobrava tempo para Tânia brincar. Acostumamo-nos a incluí-la nas brincadeiras apenas aos domingos e feriados, ou quando os donos da casa viajavam para o Rio de Janeiro, duas vezes por ano.

Como nós, Tânia também cresceu. Muito magra, a boca sempre cerrada e os olhos rasgados, tristes mas espertos, como se planejassem uma grande vingança. Como se um dia pudesse vibrar o cinturão nas pernas de D.Núbia. O dia em que jogaria no chão o prato cheinho de comida. O dia em que responderia só não. Vá fazer isso, já. Não, não, não vou, não quero, não acho.

Tânia acabou crescendo sem comer quase nada e sem nunca dizer não. Os olhos espertos cedo escureceram. Lembro-me das vezes que a vi sentada diante de um monte de feijão, carne e farinha, o chinelo de couro de d.Núbia, virado com a sola suja pra cima, pousado ao lado do prato. Pratos enormes, muitas chineladas, a comida ia parar na vasilha do cachorro e Tânia maldita, mil vezes maldita, culpada por levar d. Núbia àquele estado de nervos.

O que mais me admirava era como conseguia cumprir a ordem que acompanhava os tapas e chineladas: “engula o choro, já” e ela engolia, tinha uma técnica de espremer o rosto e engolir, mesmo, os soluços. Eu, meus irmãos, meus primos, ninguém conseguiria tal proeza.

As surras em Tânia marcaram também a minha infância. Será que ela encarnava um pequeno demônio e por isso precisava ser permanentemente exorcizada a pancadas? Não entendia porque a castigavam tanto. Seria tão perigosa, tão infame? Brincando com a gente de cozinhado, de circo, de escola, era uma menina normal, sempre meio assustada. E ria, sabia rir.

Crescemos, não brincávamos mais e um dia, afinal, Tânia e Velina se mudaram. Conseguiram uma casa num programa social. Tânia fez o segundo grau, curso de magistério. A vida seguiu seu rumo e nos perdemos.

Uma vez perguntei a D. Núbia por ela. Falou como uma mãe fala de uma filha. “Matriculei no São Tomás, ela fez todo o segundo grau. Vai bem. É professora da prefeitura. Casou, mas não deu certo. Engravidou, mas perdeu, duas vezes. Sustenta a mãe, dizem que é uma pessoa muito direita.”

Enquanto ela falava, revi sua antiga cara de ódio, ouvi os gritos de Tânia, o chinelo em cima da mesa. Lembrei o cinturão, Tânia repetindo as mesmas lições, as mesmas cópias, aquela letra horrorosa, você além de burra, é malcriada. Tomávamos refresco de mangaba na varanda e ela lá, naquela mesa bem no meio da sala, à vista de todos, tentando inutilmente fazer os deveres.

Anos depois, de repente, a avistei. Eu, de férias, queimada de sol, encharcada de água de côco, ela, sobrevivente, numa esquina do centro de Aracaju, ainda magra, precocemente curvada. Acho que voltava do trabalho, os cabelos de formiga da roça esfiapados, brilhando ao sol do fim da tarde. Parecia cansada, caminhava devagar, as pernas finas bem separadas, o saltinho pequeno e torto do sapato preto, o vestido velho, bem passado. E a mesma boca grande retorcida. Do que ainda teria raiva? Reconheci o mesmo jeito de olhar para os lados, como se visse cinturões vibrando no ar.

Claro, o casamento não deu certo, o segundo grau de pouco lhe valeu, perdeu os filhos que gerou. Talvez não tenha querido botar filhos no mundo, não no mundo que conhecera. Talvez tivesse ficado com medo do marido, de todos os possíveis maridos. Talvez nunca tivesse ousado uma promoção no emprego público, talvez nunca tenha conseguido, de fato, ser professora. Talvez nunca tenha esquecido as mãos enormes de seu Moreira, o tamanco de Velina, as humilhações.

Talvez ainda lhe doam as noites de São João. Tantos fogos bonitos e ela só olhando. Como se a luz dos fogos e da fogueira expusessem sua desgraça, sua imensa solidão. As noites de São João talvez tenham ajudado a matar, para sempre, suas chances de ser feliz.

Bahia/2005



8 de nov. de 2010

3ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz

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3ªSemana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz
acontecerá no Senado Federal entre os dias 16 e 19 de novembro próximo, no Auditório Petrônio Portela. O tema central deste ano é "A importância dos primeiros laços afetivos entre o bebê e os cuidadores".


O evento contará com a presença de renomados palestrantes nacionais e internacionais e oferece importantes cursos e oficinas, além de certificado. As inscrições são gratuitas! Clique na imagem (ao lado) e faça a sua inscrição.





Maiores informações:

Lisle Heusi de Lucena
Presidente da Comissão de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz
Senado Federal/ Presidência
Fones: (61) 3303-5159/ 3303-1792 ou (61) 7813-6415/ 9261-7620


5 de nov. de 2010

Bebês sofrem violências físicas e psicológicas em creche particular de Goiânia


Em Goiânia, a dona de uma creche é acusada de torturar e sistematicamente maltratar bebês e crianças pequenas no berçário.


Tapas, solavancos, beliscões, esganaduras..... dessa maneira que muitas crianças e adolescentes são “educados” e “cuidados” por pais ou cuidadores institucionais.

Entre as quatro paredes de lares, creches e abrigos crianças e adolescentes passam por sofrimentos imensuráveis no seu dia a dia, Edson Passete denomina esse sofrimento de Suplício Privado.

Veja matéria completa no Jornal da Globo - Edição do dia 04/11/2010


100 crianças morrem por dia vítimas de maus tratos no Brasil (IBGE, 1988).

18 mil crianças são espancadas por dia no Brasil, 6.570.000 espancadas ao ano (CNBB, 1999).

10% das crianças que se apresentam nas urgências dos hospitais no Brasil, com menos de 5 anos, são vítimas de abuso físico.


61 % das crianças e 92% dos adolescentes tiveram como causa principal de internação hospitalar a violência física (Inquérito do Sistema de Vigilância em Violência e Acidentes - VIVA/SINAN - Ministério da Saúde, 2007),

Os dados dos inquéritos (VIVA/SINAN) realizados nos anos de 2006 e 2007 apontam que a mãe (25%) seguida pelo pai (20%) são os principais autores de violências contra crianças (0 - 9 anos de idade).


Síndrome da criança espancada

A síndrome da criança espancada é reconhecida como aquela em que a criança é vítima de deliberado trauma físico não acidental provocado por uma ou mais pessoas responsáveis por seu cuidado.

A Associação Humanitária Americana em trabalhos realizados por Rheingold mostrou que existem nos EUA cerca de 10.000 crianças nessa situação e que a incidência tende a aumentar; 55% das vítimas apresentam idade inferior a 4 anos. Os pais isoladamente ou em conjunto são responsáveis por 75% dos casos e, em estudos conduzidos por Kempe, as crianças apresentavam quadro de lesões diversas, causadas por diferentes tipos de golpes, injúrias e traumatismos, determinando a morte em 25% dos casos.

No Brasil, de acordo com Uchôa, em 1994, cerca de 750 crianças sofreram violência em casa por hora, 110 foram vitimadas por espancamento e morreram, somente em São Paulo.

Veja texto completo na Revista Brasileira de Ortopedia

Bebês são maltratados em creche particular de Goiânia

Em Goiânia, a dona de uma creche é acusada de torturar e sistematicamente maltratar bebês e crianças pequenas no berçário.
O choro de quem ainda não consegue se defender é de crianças do berçário Bebê Feliz, na região sul de Goiânia. Imagens feitas durante a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público mostram meninos e meninas de até dois anos sendo agredidos pela dona do berçário, Maria do Carmo Serrano, de 62 anos, paga para protegê-los.
Os bebês levavam tapas, safanões. Uma criança é levantada pelos pés e jogada no colchão de cabeça para baixo. Em outra imagem, a dona do berçário aparece no canto usado como local de castigo. Uma das punições era esfregar as mãozinhas dos bebês até sangrar. A dona da creche era conhecida como vovó pelas crianças. As crianças também eram trancadas no banheiro.
A polícia já tinha recebido várias denuncias de funcionários do berçário, mas não tinha provas. Só há um mês conseguiu convencer a coordenadora pedagógica, Ana Paula dos Santos, a filmar o que acontecia lá dentro. Hoje, no depoimento, Ana Paula disse que o que aparece nas imagens, apesar de chocante, ainda é pouco diante do sofrimento das crianças.

“Tem crianças que vomitavam, ela praticamente fazia as crianças comer o vômito de novo. Ela limpava o vômito e esfregava na cara das crianças, por várias vezes. Não foi só uma vez que isso aconteceu. Se a criança estava sentada no carrinho, ela passava, dava um tapa na testa para ela cair pra trás. Do nada, simplesmente dava vontade, ou se a criança chorasse também. Ela não podia ver uma criança chorando que ela agredia, ela sempre falou: detesto choro, mas adorava fazer as crianças chorarem”, afirma Ana Paula.

Para a delegada, as imagens e os depoimentos são suficientes para indiciar a dona do berçário por tortura. “As crianças têm medo, passam o tempo todo ouvindo gritos, vendo, presenciando outras crianças sendo maltratadas e agredidas e sendo também xingadas, tratadas aos gritos e sendo agredidas fisicamente. Então, para nós, é tortura”, afirma a delegada Adriana Accorsi.
A Justiça negou o pedido de prisão temporária de Maria do Carmo Serrano. Hoje, o berçário ainda estava funcionando. Depois da divulgação das imagens, os pais chegaram revoltados para buscar os filhos.

“Fiquei desesperada, corri para vir buscar o meu filho. Desespero, quis vir buscá-lo logo, né? Não admito uma coisa dessas com meu filho de jeito nenhum. A gente paga para alguém maltratar?”, diz a enfermeira Denise Rezende.

“A gente é pai, a gente cuida dos filhos da gente, a gente tenta dar tudo, coloca numa escolinha porque a gente trabalha, para pessoa maltratar o filho da gente? Não dá não”, afirma o analista de sistemas Max Farias.
O advogado da dona da creche disse que ela vai se apresentar à polícia, mas não informou quando.

Veja mais informações AQUI

Fonte: Jornal da Globo, 05 de novembro de 2010.