27 de mai. de 2011

Onde as crianças do mundo dormem


James Mollison viajou ao redor do mundo e decidiu criar uma sério de fotografias mostrando os quartos infantis que foi enfim compilada em um livro, intitulado Onde as Crianças Dormem. Cada par de fotografias é acompanhada por uma legenda estendida que conta a história da criança. As diferenças entre cada espaço do sono é impressionante.


Mollison nasceu no Quênia em 1973 e cresceu na Inglaterra. Depois de estudar arte e design na Universidade de Oxford Brookes, e cinema e fotografia em Newport School of Art and Design, ele se mudou para a Itália para trabalhar no laboratório criativo da fábrica da Benetton.

O projeto tornou-se uma referência de pensamento crítico sobre a pobreza e a riqueza, sobre a relação das crianças com as suas posses -ou a falta delas-. O fotógrafo espera que seu trabalho ajude outras crianças a pensar sobre a desigualdade no mundo, para que, talvez, no futuro eles pensem como agir para diminuir esta diferença.



Lamine, 12 anos, vive no Senegal. As camas são básicas, apoiadas por alguns tijolos. Aos seis anos, todas as manhãs, os meninos começam a trabalhar na fazenda-escola onde aprendem a escavação, a colheita do milho e lavrar os campos com burros. Na parte da tarde, eles estudam o Alcorão. Em seu tempo livre, Lamine gosta de jogar futebol com seus amigos.



Tzvika, nove anos, vive em um bloco de apartamentos em Beitar Illit, um assentamento israelense na Cisjordânia. É um condomínio fechado de 36.000 Haredi. Televisões e jornais são proibidos de assentamento. A família média tem nove filhos, mas Tzvika tem apenas uma irmã e dois irmãos, com quem divide seu quarto. Ele é levado de carro para a escola onde o esporte é banido do currículo. Tzvika vai à biblioteca todos os dias e gosta de ler as escrituras sagradas. Ele também gosta de brincar com jogos religiosos em seu computador. Ele quer se tornar um rabino, e sua comida favorita é bife e batatas fritas.



Jamie, nove anos, vive com seus pais e irmão gêmeo e sua irmã em um apartamento na quinta Avenida em Nova Iorque. Jamie frequenta uma escola de prestígio e é um bom aluno. Em seu tempo livre, ele faz aulas de judô e natação. Quando crescer, quer se tornar um advogado como seu pai.



Indira, sete anos, vive com seus pais, irmão e irmã, perto de Kathmandu, no Nepal. Sua casa tem apenas um quarto, com uma cama e um colchão. Na hora de dormir, as crianças compartilham o colchão no chão. Indira trabalha na pedreira de granito local desde os três anos. A família é muito pobre para que todos tenham que trabalhar. Há 150 crianças que trabalham na pedreira. Indira trabalha seis horas por dia além de ajudar a mãe nos afazeres domésticos. Ela também freqüenta a escola, a 30 minutos a pé. Sua comida preferida é macarrão. Ela gostaria de ser bailarina quando crescer.



Kaya, quatro anos, mora com os pais em um pequeno apartamento em Tóquio, Japão. Seu quarto é forrado do chão ao teto com roupas e bonecas. A mãe de Kaya faz todos os seus vestidos e gostos -Kaya tem 30 vestidos e casacos, 30 pares de sapatos, perucas e um sem contar de brinquedos. Quando vai à escola fica chateada por ter que usar uniforme escolar. Suas comidas favoritas são a carne, batata, morango e pêssego. Ela quer ser cartunista quando crescer.




Douha, 10, mora com os pais e 11 irmãos em um campo de refugiados palestinos em Hebron, na Cisjordânia. Ela divide um quarto com outras cinco irmãs. Douha freqüenta uma escola, a 10 minutos a pé, e quer ser pediatra. Seu irmão, Mohammed, matou 23 civis em um ataque suicida contra os israelenses em 1996. Posteriormente, os militares israelenses destruíram a casa da família. Douha tem um cartaz de Maomé em sua parede.



Jasmine (Jazzy), quatro anos, vive em uma grande casa no Kentucky, EUA, com seus pais e três irmãos. Sua casa é na zona rural, rodeada por campos agrícolas. Seu quarto é cheio de coroas e faixas que ela ganhou em concursos de beleza. A garota já participou de mais de 100 competições. Seu tempo livre é todo ocupado com os ensaios. Jazzy gostaria de ser uma estrela do rock quando crescer.



A casa para este garoto e sua família é um colchão em um campo nos arredores de Roma, Itália. A família veio da Romênia de ônibus, depois de pedir dinheiro para pagar as passagens. Quando chegaram em Roma, acamparam em terras particulares, mas foram expulsos pela polícia. Eles não têm documentos de identidade, de forma que não conseguem um trabalho legal. Os pais do garoto limpam pára-brisas de carros nos semáforos. Ninguém de sua família foi um dia para a escola.



Dong, nove anos, vive na província de Yunnan, no sudoeste da China, com seus pais, irmã e avó. Ele divide um quarto com a irmã e os pais. A família tem uma propriedade que permite cultivar quantidade suficiente de seu próprio arroz e cana de açúcar. A escola de Dong fica a 20 minutos a pé. Ele gosta de escrever e cantar. Na maioria das noites, ele passa uma hora fazendo o seu dever de casa e uma hora assistindo televisão. Dong gostaria de ser policial.



Roathy, oito anos, vive nos arredores de Phnom Penh, Camboja. Sua casa fica em um depósito de lixo enorme. O colchão de Roathy é feito de pneus velhos. Cinco mil pessoas vivem e trabalham ali. Desde os seis anos, todas as manhãs, Roathy e centenas de outras crianças recebem um banho em um centro de caridade local, antes de começar a trabalhar, lutando por latas e garrafas de plástico, que são vendidos para uma empresa de reciclagem. Um pequeno lanche é muitas vezes a única refeição do dia.



Thais, 11, mora com os pais e a irmã no terceiro andar de um bloco de apartamentos no Rio de Janeiro, Brasil. Ela divide um quarto com a irmã. Vivem nas vizinhanças da Cidade de Deus, que costumava ser conhecida por sua rivalidade de gangues e uso de drogas. Thais é fã de Felipe Dylon, um cantor pop, e tem pôsteres dele em sua parede. Ela gostaria de ser modelo.



Nantio, 15, é membro da tribo Rendille no norte do Quênia. Ela tem dois irmãos e duas irmãs. Sua casa é uma pequena barraca feita de plástico. Há um fogo no centro, em torno do qual a família dorme. As tarefas de Nantio incluem cuidar de caprinos, cortar lenha e carregar água. Ela foi até a escola da aldeia por alguns anos, mas decidiu não continuar. Nantio está esperando o seu moran (guerreiro) para casar. Ela só tem um namorado no momento, mas não é incomum para uma mulher Rendille ter vários namorados antes do casamento.



Joey, 11, mora em Kentucky, EUA, com seus pais e irmã mais velha. Ele acompanha regularmente o seu pai em caçadas. Ele é dono de duas espingardas e uma besta, e fez sua primeira vítima -um cervo- quando tinha sete anos. Ele está esperando para usar sua besta durante a temporada de caça seguinte. Ele ama a vida ao ar livre e espera poder continuar a caçar na idade adulta. Sua família sempre come carne de caça. Joey não concorda que um animal deve ser morto só por esporte. Quando não está caçando, Joey freqüenta a escola e gosta de ver televisão com o seu lagarto de estimação, Lily.

Enviado por Railda Martins, mestre em educação, militante do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, psicóloga do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde da SMS de Goiânia, em 09 de abril de 2011.

26 de mai. de 2011

I Encontro Intermunicipal para Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

No dia 18 de Maio de 2011, no Fórum da Comarca de Vianópolis aconteceu o I Encontro Intermunicipal para Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Participaram do evento autoridades e profissionais das áreas da saúde, da educação e da assistência social dos municípios de Leopoldo de Bulhões, Orizona,
São Miguel do Passa Quatro, Silvânia e Vianópolis.



O I Encontro Intermunicipal para Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi promovido pelo Ministério Público de Vianópolis em parceria com a Prefeitura Municipal de Vianópolis.


Juiz da Comarca de Orizona, Ricardo de Guimarães e Souza responde dúvidas de participantes. Ao lado o prefeito Sílvio Pereira e a secretária de saúde Fernanda Fernandes.


Profissionais da saúde com o material educativo da campanha de 18 de maio - Dia Nacional de Luta contra o Abuso e a Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Com o slogan “Esta lágrima pode não ser sua, mas a dor é de todos nós”, o material informa sobre situações que envolvem riscos de abuso ou exploração sexual de criança e adolescente.




Cida Alves contribuiu com o tema “Compreensão das dimensões do problema do abuso e da exploração sexual em crianças e adolescentes”.





Veja abaixo a programação do seminário:

14:00 - Abertura Oficial e apresentação do vídeo do Promotor de Justiça de Vianópolis/GO - Dr. Maurício Alexandre Gebrin

15:00 - O que se entende como abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes? Expositora: Advogada Marina Leuza Soares de Souza Rezende

15: 30 - Quais as estratégias de prevenção podem ser adotadas para o combate da problemática? Expositora: Angelita Kátia Costa e Silva, assistente social da Secretaria Municipal da Saúde de Silvânia,

Intervalo

16:15 - Compreensão das dimensões do problema do abuso e da exploração sexual em crianças e adolescentes. Expositora: Maria Aparecida Alves da Silva, psicóloga do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de Goiânia.

16:45 - Orientação para implantação de um Fluxograma de Serviços de Apoio dentro da Local. Expositoras: Silvia Shimada e Marília Souza, psicólogas da ESF de Vianópolis.

Aprovação de Código Florestal foi precipitada, dizem cientistas

A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e ABC (Academia Brasileira de Ciências) divulgaram juntas uma nota nesta quarta-feira que critica a aprovação do Código Florestal pela Câmara dos Deputados.

"A SBPC e a ABC consideram precipitada a decisão tomada na Câmara dos Deputados, pois não levou em consideração aspectos científicos e tecnológicos na construção de um instrumento legal para o país considerando a sua variabilidade ambiental por bioma", ressaltou o documento.

Nele, os presidentes das duas entidades ressaltaram que nunca houve convite oficial do Congresso para que a ABC e a SBPC participassem das discussões sobre o substitutivo da lei florestal.


As entidades criaram um grupo de trabalho composto por cientistas das diferentes áreas e, em fevereiro, divulgaram um relatório afirmando que as APPs (áreas de preservação permanente), como matas em margens de rio, não poderiam ser alteradas - como prevê o texto-base aprovado na madrugada desta quarta-feira.

Nesta semana, os dois órgãos solicitaram ao governo mais dois anos para construção de um código com base científica e tecnológica.


Fonte: Folha de São Paulo on line, por SABINE RIGHETTI em 25 de maio de 2011.


Vídeo mostra o ‘correntão’ que derruba árvores em segundos em MT

No Estado onde o desmatamento disparou no mês passado, governos estadual e federal querem reduzir taxa a zero a partir de agora.

No vídeo abaixo é possível ver os 120 hectares que dois tratores desmataram em Sinop, no Norte do Mato Grosso, em menos de uma semana.

Os tratores e a corrente foram descobertos por uma operação do Ibama no domingo. Desde então, fiscais do órgão ambiental, da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal montam guarda no local para evitar que os equipamentos sejam roubados.





Fonte: Danilo Fariello, iG enviado a Sinop |em 26 de maio de 2011, 07:00

25 de mai. de 2011

Pimenta Neves é preso 11 anos após o assassinato de sua ex-namorada







Supremo Tribunal Federal determinou ontem que cumprisse a pena em regime fechado. Ele se entregou e foi transferido para o interior de SP.



O jornalista Antônio Pimenta Neves, que foi condenado pela morte da ex-namorada Sandra Gomide, foi transferido para o Presídio de Tremembé, no interior de São Paulo. Ele se entregou ontem à noite. O crime foi há 11 anos. Ontem o Supremo Tribunal Federal determinou que o jornalista cumpra a pena de 15 anos em regime fechado.

Depois de fazer o exame de corpo de delito, o jornalista Antônio Pimenta Neves, de 74 anos, foi levado direto para uma delegacia no centro de São Paulo. Pimenta Neves ficou isolado numa cela especial, mas sem regalias.

Depois do julgamento em 2006, que condenou o jornalista, a defesa entrou com mais de 20 recursos. Mas ontem à tarde, o Supremo Tribunal Federal determinou que ele cumpra a pena de 15 anos de prisão a qual foi condenado pelo assassinato de Sandra Gomide.

“Ontem perante o STF foi o último recurso, transitou em julgado, como a gente costuma dizer, e não cabe mais nenhum recurso por parte da defesa”, explica Carlos Horta Filho, promotor de justiça. Antônio Pimenta Neves e Sandra Gomide se conheceram na redação do jornal o Estado de São Paulo. Depois de dois anos de relacionamento, Sandra terminou o namoro e foi demitida por Pimenta Neves. No dia 20 de agosto de 2.000, a ex-namorada foi assassinada pelo jornalista com dois tiros.

Segundo o promotor de justiça Carlos Horta Filho, o jornalista Antônio Pimenta Neves deve ficar preso por quase dois anos em regime fechado. Depois, se tiver bom comportamento, deve ser beneficiado pelo regime semiaberto, ou seja, trabalhar durante o dia e dormir na cadeia.

Fonte: G1 em 25 de maio de 2011.

O xerife cor-de-rosa

Humilhação na prisão e a importância de conviver com as diferenças



O artigo que segue é da psicológa Isabel Hamud e discute o que está por trás das humilhações aos presos do Arizona, obrigados a usar roupas cor-de-rosa. Isabel, que é especialista em Psicologia Jurídica e trabalha no sistema prisional paulista, explica por queremos matar desejos que não aceitamos e conclui: mais do que o exagero do controle, é preciso respeitar a diversidade (Marcelo Semer).


Recentemente foi divulgado num programa popular de domingo uma breve reportagem sobre Tent City, prisão ao ar livre em Phoenix, capital do Arizona, montada em tendas de acampamento e planejada pele xerife local, Joe Arpaio. A chamada dizia tratar-se de um lugar onde os presos são obrigados a usar cuecas pink. Além das cuecas, meias, toalhas e lençóis são da mesma cor, em diversas tonalidades de rosa.

A reportagem dizia ainda, em tom bastante jocoso, que um aviso luminoso no alto da torre de observação, de 15,4 metros de altura, pisca ao longo de 24 horas “Há vagas”. O polêmico Arpaio comanda outras 5 prisões semelhantes no condado de Maricopa; e, em 2012 se candidatará ao sexto mandato consecutivo como xerife.

Foi realizada uma enquete questionando se a população concordava com a postura do xerife, que determinou o uso da cor pink com o intuito de humilhar os presos. A enquete começou a valer imediatamente após um repórter dizer que, diferentemente do Brasil, nos EUA o objetivo é claramente a punição e não a “ressocialização”. O resultado da enquete foi que 89% dos que participaram concordava com o xerife.

Fiquei intrigada com a questão e fui pesquisar mais a respeito. Descobri que o interesse jornalístico por aquele local é bastante grande e que há inúmeras reportagens brasileiras desde 2008, especialmente pelo fato de Mike Tyson ter sido preso em Tent City naquele ano, acusado de dirigir sob o efeito de álcool e por posse de cocaína em 2006. Alias, um dado que parece mero detalhe (tanto que não foi apresentado na reportagem televisiva), mas que se fará relevante: os presos de Tent City são, em sua maioria, imigrantes ilegais que não portam documentos ou que têm pendências com agências americanas e que foram detidos por dirigir sem carteira de habilitação ou sob efeito de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, ou ainda, por porte de entorpecentes.

Pois bem... mais que a curiosa figura deste xerife, me despertou interesse a reação do público que, convenhamos, era de se esperar. Nenhuma surpresa há no fato de o público aclamar como algo muito interessante e até mesmo (porque não?) divertido essa atitude do xerife. Além da hostilidade, existe um clamor social para que essa população “pague” pelo delito cometido.

O que me intrigou, portanto, não foi o resultado da enquete, mas sim o que está por detrás de tudo isso... o que queremos dizer quando achamos uma “grande sacada” essa tortura travestida de brincadeira. Talvez não seja tão disfarçada assim, pois é visível que a intenção é justamente humilhar. Mas (e aí vem a inquietação!)... porque aceitamos uma prática tão nonsense sem quaisquer questionamento??

A resposta é simples: porque ela está distante e afeta o diferente!

Acredito que aqueles que concordam com esse xerife encontraram uma válvula de escape para uma pequena quantidade de energia psíquica; analisando superficialmente: criou-se um chiste. Chiste nada mais é senão uma forma que um conteúdo censurado inconsciente encontra de emergir e acessar a consciência disfarçadamente, descarregando, assim, uma agressividade reprimida.

Em outras palavras, o conteúdo aparece obnubilado por uma piada e gera o riso, uma descarga psíquica que trás consigo uma sensação de alívio sem que se quer percebamos o movimento que o inconsciente fez para driblar a análise crítica. Traduzindo em miúdos: “Não é sério!”.

Mesmo quando conseguimos entender o mecanismo do chiste, há ainda, neste caso, um segundo mecanismo: a projeção. Seria como dizer: “Entendo que é sério, mas não levo em consideração porque acho que eles merecem!” ou, “eles precisam ser punidos”.

Mais uma vez, somos iludidos com a "sensação" de punição, como se um desejo estivesse sendo atendido. Mas, pensemos... Se vestir cor de rosa fosse uma punição, deveria ser, no mínimo, efetiva! Do ponto de vista comportamental, “a punição é um processo no qual reduz-se a probabilidade de determinada resposta (comportamento) voltar a ocorrer através da apresentação de um estímulo aversivo, ou a retirada de um estímulo positivo, imediatamente após a emissão de determinado comportamento indesejado”!

Portanto, a punição até pode extinguir um comportamento, mas além de muitos efeitos adversos indesejados, há de se considerar o valor do estimulo... o que é aversivo para um pode não ser para outro. Então, além da dificuldade de punir na seqüência, existe a dificuldade de punir com o estimulo certo!

Já do ponto de vista psicanalítico, a punição externa só é efetiva para aquele sujeito que já é atormentado pela necessidade de punição (que é interna, vem do Supereu, e expressa um forte sentimento inconsciente de culpa). É complicado... a pessoa mais “certinha” se sente mais culpada por qualquer deslize e acha que merece sofrer e ser punida. Logo, ela mesma se pune e não precisa de alguém dizendo que é errado.

Já quem não tem um Supereu bem estruturado ignora sua culpa e não há nada interno que o condene ou atormente sobre seus erros, então de pouco vale uma punição externa porque ele já não ouve nem a si mesmo!

Há ainda de se pensar acerca da precisão de uma punição. Fato: é proveitosa a vida gregária... mas também bastante incômoda! Para se beneficiar das vantagens e evitar o enfado de uma sociedade, é necessário um acordo comum em que sejam estabelecidos direitos, deveres e conseqüências.

O Direito e as leis servem, portanto, para ponderar as vantagens e os percalços e para controlar as relações. O problema, inerente, é que quem faz as leis está inserido no contexto de sua aplicação... então chegamos à velha questão: "a serviço de quem a lei está? Para quem ela serve?". Não pretendo estender a questão para a análise do tipo penal, isto é, a eleição do comportamento a ser punido. Mas sabemos que é mais uma variável a ser considerada.

Voltando à prisão cor-de-rosa, psiquicamente falando, SE é que tudo isso tem alguma utilidade, só funciona pra atender demandas internas do xerife... como grande parte da população se identifica com o "durão", acha divertido e pensa que foi uma ótima sacada! Não foi nada e não mudou nada, mas gerou um alívio psíquico que dá a sensação de que algo foi feito. Se alguma originalidade há, é a idéia de não roubarem as roupas quando vão embora... isso parece que funcionou. Só isso!

Ocorre, neste caso, a mesma lógica do bullying: execrar o diferente destacando a diferença para gerar uma distância ainda maior. Não é que o outro seja diferente, eu é que não posso ser igual a ele, uma vez que não aceito e condeno sua diferença.

Se o criminoso é bandido por cometer um ilícito qualquer, preciso me certificar que ele é muito diferente de mim para reforçar que nunca serei criminoso, ou que nunca cometerei seus erros. Por isso somos tão complacentes com alguns comportamentos e tão ferozes com outros. Aqueles que não admitimos para nós mesmos, condenamos no outro.

É importante destacar que justamente a resistência à diferença, o horror a ela, sempre foi causa ou pretexto de inúmeros os genocídios e atos bárbaros da história da humanidade.

Não ficarei surpresa se um grande admirador instantâneo do tal xerife não reconsiderasse ao ouvir um argumento do tipo: “Os acusados de crimes violentos, como estupro e assassinato, ficam nas cadeias tradicionais em vez de em Tent City.” O que, de fato, é verdade.

Queremos matar o desejo que não aceitamos em nós! Destaco: MATAR. (Porque será que odiamos assassinos??). Quanto mais forte esse desejo, maior a repulsa e, conseqüentemente, maior a intolerância que, se não admito ser interna, projeto para fora e não sou capaz de perceber que estou sendo tão igual ao outro que condenei por ser diferente. Mais uma vez, uma válvula de escape!

Vocês não se impressionam como nosso inconsciente é habilidoso?? E, ao mesmo tempo, tão desprezado... se parássemos para ouví-lo reduziríamos a tensão do pobre Eu (ego) que esforça-se tanto para conciliar a demanda inconsciente com a censura superegóica e, ainda, com a realidade externa.

E então, finalmente, o que pode ser feito?? Penso que por mais que conheçamos melhor nossa realidade psíquica e analisemos as condições externas, não é possível imaginar uma solução mágica e completa que responda satisfatoriamente o que pode ser feito.

Entendo a angústia da necessidade de mudança e da necessidade, mais intensa, de controle. Somos acostumados à idéia de que conhecemos o mundo para melhor prever e controlar seus eventos (ao menos é este o princípio da física e de outras ciências naturais).

Existe sim uma demanda deste tipo que exige que a psicologia se adeque ao positivismo. Acredito que a psicologia trouxe sim ricas explicações e que podemos, a partir deste conhecimento, viver melhor situados e produzir importantes transformações. Mas, de fato, não há como controlar tudo isso, penso que justamente o descontrole é que pode ser útil se soubermos respeitar tudo o que é aleatório e que gera diversidade.

Ou seja, conviver com a diferença.

Texto enviado por Marie Julie em 22 de maio de 2011 como contribuição à discussão desenvolvida pelo suplemento Almanaque sobre o bullying.

Fonte: blog Sem Juízo administrado por Marcelo Semer em 20 de maio de 2011.

23 de mai. de 2011

Edição Especial do Almanaque: "Unidos contra o bullying"




Por
Valéria Belém
*


Paz na escola

- Obrigada!
Foi o que disse Lu**, de 6 anos, vítima de bullying, à coleguinha que a chamou de “baleia”. A menina, sem entender a resposta insperada, insistiu:

- Porque você tá me agradecendo? Eu tô te chamando de baleia!

- Por isso mesmo ué. As baleias são grandes, lindas e únicas. – explicou Lu – Iguaizinhas a mim. E todo mundo tá fazendo campanha para não serem extintas. Descobri isso no Animal Planet e no Discovery Channel. Mas gente que só asssite a porcaria na TV e não lê um livro não tem mesmo como entender isso.

Foi a mãe de Lu quem contou essa história aos amigos, em uma rede social na internet. Apesar de indignada com o fato, ela ficou impressionada com a saída inteligente da filha à provocação. “Não sei de onde ela tirou essa resposta, pois nem mesmo eu teria tamanha presença de espírito”, elogia.

Mas o problema não acabou aí. A cena se repetiu no dia seguinte. Lu inclusive, já informou à colega:

- Você sabe que isso que você faz comigo tem nome? É bullying.

A palavra, de tão repetida, nem é mais novidade. Mas não adianta ficar no blábláblá. A atitude das pessoas diante do problema tem de mudar. E um jeito bacana de começar é com um bom papo sobre o assunto. Por isso, o Almanaque levou algumas dúvidas de estudantes goianos à psicóloga Cida Alves, do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde, da Secretaria Municipal da Saúde de Goiânia. Veja as respostas.



Você acha que existe bullying em todos os países?
Pedro Henrique Moreira Cappede - 14 anos

Cida Alves
O bullying, violência de aluno contra aluno dentro ou fora da escola, acontece em todos os países, sejam eles ricos ou pobres. Mas a forma como a violência na escola acontece depende das características culturais de cada país. Nos EUA, a violência na escola já resultou em muitas mortes de crianças e adolescentes por armas de fogo. O fácil acesso de armas de fogo e a valorização sem limites da competição e do individualismo na formação escolar agravam as violências que acontecem entre os alunos nas escolas americanas. Em 20 de abril de 1999, na cidade de Columbine, dois estudantes abriram fogo contra colegas, matando 13 pessoas e deixando outras 25 feridas. Depois de Columbine, outros cinco grandes ataques contra estudantes foram registrados em escolas americanas, totalizando 53 mortes. Entre eles, está o massacre ocorrido na Universidade Virginia Tech, onde o sul-coreano Cho Seung-hui matou 32 pessoas em 2007. De 1966 a 2011 aconteceram 66 ataques em escolas americanas.

Por que o bullying virou moda hoje em dia?
Júlia Chabot de M. Machado - 13 anos

Cida Alves
Seus pais ou seus avôs certamente terão histórias para contar sobre violências entre alunos em sua época de escola. O fato novo é conceituação desse tipo de violência, denominado hoje de bullying. Estudos recentes alertaram pais e professores sobre os efeitos nocivos dessa forma de violência no desenvolvimento intelectual e afetivo de crianças e jovens. Já existe um consenso entre estudiosos do desenvolvimento humano de que a violência na escola não é algo desprezível, não é uma simples brincadeira de criança. Os meios de registro e comunicação instantâneos (celulares, câmaras digitais, internet, dentre outros) também contribuíram para que percebêssemos o bullying com mais nitidez. Agressões físicas podem ser filmadas, as ofensas verbais podem ser gravadas em celulares e distribuídas na internet para que muitas pessoas vejam Hoje, vemos, repetidamente, o que antes só conhecíamos por meio do relato das vítimas. A força da imagem em nossa mente é muito grande. Tem até um ditado que ilustra essa força: “o que os olhos não vêem o coração não sente”.

Qual a ligação entre preconceito, racismo e bullying?
Letícia Araújo Luiz - 13 anos

Cida Alves
Tem tudo a ver. Se reparar bem, vamos perceber que os meninos e as meninas que cometem bullying escolhem os colegas que vão agredir e humilhar. Os alvos preferenciais são os tímidos, calados, mais magros, mais gordos, de baixa estatura, mais altos, de credo, raça ou orientação sexual diferente. São aqueles que estão fora do padrão de beleza ou de sucesso definido pela indústria da moda ou pelos valores individualistas e consumistas de nossa sociedade. A violência sempre tem muitas causas, mas acredito que a não aceitação das diferenças tem o maior peso na prática do bullying. Os meninos e meninas que comentem bullying não conseguiram desenvolver a capacidade de conviver com pessoas que são diferentes deles. Eles acreditam que os diferentes não merecem fazer parte de sua turma, pois são tidos como inferiores, desprezíveis, defeituosos. No entanto, é importante lembrar que não são os jovens que criam sozinhos essa intolerância, eles apenas reproduzem os valores que a nossa sociedade construiu.

Existe algum tipo de pessoa que mais sofre bullying?
Lucas Gonçalves de Oliveira - 10 anos

Cida Alves
Sim, existem crianças e jovens que estão mais vulneráveis ao bullying, seja pelas suas características físicas ou comportamentais. Mas nunca devemos responsabilizar as vítimas do bullying pela violência que são cometidas contra elas. Elas não são culpadas. Muitas vezes, as vítimas não denunciam por medo de serem culpabilizadas pela violência sofrida. Certos adultos, pais e professores, costumam dizer aos meninos e meninas que sofrem bullying que eles são fracos demais, incapazes de se defenderem ou que fizeram algo para provocar a violência. Essa atitude dos pais e dos professores só atrapalha, pois faz com que a violência não seja revelada.

Por que a escola, na maioria das vezes, é o cenário do bullying?
Fernanda Sampaio Medeiros - 14 anos

Cida Alves
Existem muitas formas de violências que acontecem dentro da escola: violência entre professores e alunos, violência contra o patrimônio da escola, violência do crime organizado que invade o espaço escolar. O bullying é o tipo de violência (física ou não), intencional e repetitiva, contra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de se defender das agressões sofridas. É uma violência que acontece entre os próprios alunos, podendo acontecer dentro ou fora da escola.



É possível alguém sofrer bullying dentro de casa?
Ana Elisa Soares - 11 anos

Cida Alves
A violência que acontece dentro de casa é chamada de violência doméstica. A violência que acontece entre vizinhos de rua ou bairro, entre colegas de esportes, entres torcedores de times rifais, no trânsito é chamada de violência urbana. O bullying é a violência que acontece entre colegas de escola. Nessa forma de violência os alunos mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. Com pancadas, surras e palavras humilhantes os valentões querem mostrar que mandam no pedaço.

O que a família de uma pessoa que sofreu bullying deve pensar?
Victor Hugo Arantes Lima - 11 anos

Cida Alves
O mais importante é acolher, fortalecer e proteger a criança ou o jovem que sofreu a violência. Nada de menosprezar o sofrimento dessas pessoas, com frases assim: isso é bobagem, você vai esquecer, deixa para lá, logo passa. Nem tão pouco tratá-los como incapazes. O alvo principal de quem comete bullying é a auto-estima de sua vítima. Os meninos e meninas que comentem essa forma de violência sempre vão atacar o que eles consideram ser o ponto fraco do colega. Eles vão cutucar a ferida do outro. Por tanto, pais e professores devem atuar no sentido contrário dos agressores, sempre criando condições para fortalecer a auto-estima e auto-imagem do aluno que foi vítima do bullying.

Como podemos evitar o bullying?
Rodrigo Alvares - 10 anos

Cida Alves
Primeiro: a escola, a família e a sociedade têm que parar de fazer vista grossa para essa forma de violência. Temos que parar de sermos indiferentes à dor e ao sofrimento do outro, em especial, ao sofrimento de nossas crianças e jovens que estão em uma fase especial de seu desenvolvimento. Segundo: precisamos ensinar e aprender em cada ato educativo, familiar ou escolar, a tolerância as diferenças. Ninguém é igual ao outro, nem melhor ou pior: somos diferentes. E todos devem ser tratados com respeito e dignidade. No entanto, é importante destacar que nós adultos, pais ou professores, não ensinaremos a tolerância apenas com discursos, palestras, mas sim com atitudes, com exemplos cotidianos. Nosso discurso só será verdadeiro se for coerente com os nossos atos. Como ensinar nossas crianças e adolescentes a serem solidários e gentis se nós mesmos humilhamos e discriminamos as pessoas, seja por sua religião, condição econômica, raça ou orientação sexual. Não é uma tarefa fácil enfrentar e superar a violência na escola. Mas nós, pais, educadores e governantes, podemos começar tentando responder para nossos filhos e alunos essas duas perguntas: O que é ter sucesso na vida? Nesse ideal de sucesso, que valor deve ser dado à vida e ao sentimento do outro?


Por que não são proibidos desenhos como Pica Pau e Turma da Mônica, que incentivam o bullying?
Sabrina Rodrigues Gomes - 13 anos

Cida Alves
É interessante como aprendemos a nos divertir vendo o sofrimento do outro. Por que será que ver alguém cair, se machucar, se da mal nos faz dar boas risadas? Essa é para mim a principal pergunta sobre o Bullying: por que ficamos satisfeitos com o sofrimento do outro? Tem algo muito errado nessa história, não é mesmo! E desenhos como o “Pica Pau” deixa claro isso. A solidariedade e o companheirismo estão perdendo a graça? Bem, mas acho que proibir os desenhos não é o melhor caminho. Temossim, que esclarecer as crianças sobre as formas de violência que aparecem nesses desenhos e principalmente oferecer outras opções de desenhos que não naturalize a violência. E olha: temos muitas coisas boas por aí para nos divertir.


É possível sofrer bullying sem saber quem é agressor?
Sabrina Cardoso Rodrigues - 11 anos

Sim! Essa forma de bullying costuma acontecer mais entre meninas. Geralmente elas atacam a moral de outra colega inventando mentiras sobre seu comportamento sexual. O agressor do bullying também pode se omitir por meio da internet: é o que denominamos de ciberbullying.



Quando podemos perceber que algumas brincadeiras já viraram bullying?
Júlia Ramos Perchi, 13 anos

Cida Alves
Quando não nos sentirmos bem com a brincadeira. Não existe brincadeira quando alguém está sofrendo ou se sentindo humilhado.

Qual é o pior tipo de bullying?
Pedro Carneiro - 13 anos

Cida Alves
A gravidade do bullying depende de muitos fatores: idade da vítima, frequência e gravidade das violências, quem são os autores da violência, se a escola ou a família protege ou apóia a vítima, dentre outros. Mas destaco aqui duas formas que considero graves: a violência física e o cyberbullying. Algumas violências físicas são tão graves que deixam nas vítimas sequelas permanentes ou podem até levar a morte. Em 2009, no Rio de Janeiro, um garoto de 16 anos apanhou tanto dos colegas que teve traumatismo craniano. Nesse mesmo ano, em São Joaquim da Barra (SP), um menino de 9 anos foi espancado na saída da escola, tendo como consequência uma lesão na coluna cervical. O cyberbullying extrapola o alcance do bullying tradicional (que ocorre usualmente na escola). Com o cyberbullying, não há mais lugar seguro - a ameaça pode chegar pelo celular, no seu e-mail, por sms, a qualquer momento, em qualquer lugar.

O ato de defesa também pode ser considerado bullying?
Fabio Costato Ferrari, 13 anos

Cida Alves
Todos nós temos o direito de nos defendermos! Ninguém tem que se conformar ante uma violência sofrida. Mas é importante que a nossa defesa não seja um revide, tipo “tomou, levou”. A vingança só faz a roda da violência girar. É importante que a vítima do bullying não tente resolver a sua situação sozinha. É preciso que ela procure ajuda. A escola e os pais têm o dever de proteger e ajudar as crianças e os jovens que estão sofrendo essas violências. É fundamental também responsabilizarmos os meninos e meninas que comentem o bullying. Caso seja necessário, solicitar aos pais e responsáveis que busquem um tratamento profissional para os autores de violência.

O que leva uma pessoa a fazer bullying?
Heitor Barroso Knupp - 10 anos

Cida Alves
São muitos os motivos, mas todos têm a ver com a dificuldade de respeitar o outro. Alguns meninos e meninas aprenderam que as pessoas que são consideradas por elas inferiores devem ser tratadas com desprezo e humilhação. Elas podem ter aprendido isso observando como seus pais ou familiares tratam seus empregados, seus subalternos. Outros não desenvolveram a capacidade de aceitar regras sociais que criam condições de igualdade entre os alunos da escola, pois não querem ser igual e sim melhor – querem sempre tratamento especial, privilégios. Outros associam o sucesso, popularidade e aceitação, com a imagem do caro violento, “do mal”. Os comportamentos solidários são associados à idéia de fraqueza. Nos motivos apresentados acima existe uma clara influência de valores familiares e sociais. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família, dentre outros fatores. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir é, portanto, circunstancial. E, por fim, temos crianças ou adolescentes que cometem bullying por uma dificuldade estrutural em suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do altruísmo: a empatia. Esse sentimento permite que nos coloquemos no lugar do outro. Esses casos representam uma minoria e sempre devem ser encaminhados para um profissional da saúde mental.

Como denunciar um agressor e permanecer anônima?
Mariana Castro Braga, 13 anos

Cida Alves
Você pode ligar no Disque 100. Nesse número você pode denunciar qualquer tipo de violência cometida contra crianças e adolescentes. A ligação é gratuita e você pode fazer a denúncia de forma anônima. Outros locais para encaminhar as denúncias: Delegacia de Proteção a Crianças e Adolescentes (3201-1176 e 3201-1177), Centro Operacional de Apoio a Infância, Juventude e Educação do Ministério Público (3243- 8029) e 11º Promotoria de Execução do Ministério Público (3243-8099 e 3243-8097). No Tocantins - Centro Operacional de Apoio a Infância, Juventude e Educação do Ministério Público, (63) 3216 - 7638.



Minha amiga sofre bullying fisicamente. Posso denunciar o agressor mesmo que ela não aceite, com medo de ser agredida ainda mais? O que vai acontecer depois?
Jéssica Urzeda Jorge, 13 anos

Cida Alves
É muito bacana a preocupação que tem com sua amiga. O mundo pode se tornar um lugar insuportável sem a presença de um amigo sincero e solidário. Olha, já atendi muitas crianças, adolescentes e mulheres que sofreram violências. Essas pessoas me ensinaram muito sobre os seus sentimentos em relação à violência sofrida. Elas sentem raiva, ódio do agressor. Isso é muito forte nelas! Mas existe também outro sentimento que as atormentam demais: a magoa. Elas sentem uma magoa profunda da pessoa que antes amavam e confiavam, mas que, na verdade, nunca as protegeram de verdade. Se queremos ajudar as vítimas, só tem um caminho: não ser cúmplices das violências, não negligenciar o sofrimento do outro. Temos que denunciar! Não tem outro jeito, mesmo que ela não queira, você precisa procurar alguém na escola que tenha a capacidade e o compromisso de ajudá-la de verdade. Sozinha e enfraquecida será muito difícil ela conseguir se livrar dessas violências físicas.

Bullying dá cadeia?
Karolina Alves Veloso - 15 anos

Cida Alves
De acordo com a lei brasileira só pode ir para a cadeia pessoas que tenham mais de 18 anos. As crianças e adolescentes que comentem bullying deverão ser responsabilizadas de acordo com as penalidades previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. De acordo com a gravidade da violência cometida, as penalidades vão da prestação de serviços comunitários a privação de liberdade assistida.

Uma pessoa pode receber indenização por ter sofrido bullying?
Lívia Marinho

Cida Alves
Sim, a vítima de bullying tem direito a indenização. Mas precisa abrir um processo na justiça solicitando essa indenização. A vítima pode processar tanto a escola como o autor da violência. A indenização pode ser por danos morais, lesões corporais, gastos com tratamentos de saúde, perdas no rendimento escolar em decorrência das violências sofridas. Se o autor da violência for alguém com menos de 18 anos, a indenização deve ser custeada pelos pais ou adultos responsáveis.

Que mudanças físicas e psicológicas acontecem com a vítima do bullying?
André Luiz M. V. Peres - 14 anos

Cida Alves
Um dos primeiros sinais que a criança ou adolescente manifesta é a vontade não ir para escola. Fica nervosa ou agitada com a proximidade da hora de ir para a aula. Ela tende também a se afastar dos amigos do colégio. Se isolar. Outras mudam seu jeito costumeiro de ser: passam de expansivas para introspectivas, chorosas, de tranquilos para inquietas e às vezes agressivas. Seu rendimento escolar tende a cair, podendo ainda ter dificuldades alimentares ou de sono. Se a violência não for interrompida de imediato e as vítimas de violências não forem cuidadas, elas poderão crescer com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento. Poderão assumir, também, um comportamento agressivo. Mais tarde poderão vir a sofrer ou a praticar violências no trabalho. Em casos extremos, alguns deles poderão tentar ou cometer suicídio.


O bullying pode chegar ao ponto de causar mortes?
Felipe Sousa Nery - 12 anos

Cida Alves
Sim, às vezes o sofrimento da vítima de bullying é tão intenso que ela desenvolve uma grave depressão, podendo até mesmo cometer ou tentar o suicídio. Como foi o caso do jovem Tyler Clementi, de 18 anos, que se matou 3 dias depois da divulgação na internet de imagens dele trocando carícias com outro rapaz. Tyler era tímido e nunca falou com a família sobre sua orientação sexual. Ele avisou pela internet que iria se jogar de uma ponte e se matou. Existem ainda os atos de vingança que se transformam em homicídios, com foi o caso de dois adolescentes de Columbies e do jovem sul-coreano Cho Seung-hui, da Universidade de Virginia Tech, ambos nos EUA.

Depois que as crianças sofrem bullying, têm de procurar um psicólogo?
Gabriel Ribeiro - 11 anos

Cida Alves
Não necessariamente. Tudo depende de como cada criança ou o adolescente lida com o bullying. Alguns têm tantas coisas boas em suas vidas (amigos solidários, família que sempre o apóia, uma boa imagem de si mesmo, são bem sucedidos nos estudos ou em atividades esportivas e culturais) que o bullying acaba tendo pouco impacto no seu desenvolvimento. Outros têm uma grande capacidade de superação, de dar a volta por cima. Mas se a criança ou o adolescente estiver manifestando dificuldades de lidar com a violência sofrida, não podemos culpá-las por isso, temos sim que procurar a ajuda de um psicólogo.

O agressor nasce querendo fazer bullying?
Beatriz Araújo Mercado - 10 anos

Cida Alves
Não, ninguém nasce violento! A violência não é de origem biológica, mas sim cultural. O ser humano não é como os animais que sempre agem guiados por instintos. Quando nascemos herdamos certas características que podem ou não se desenvolver. Vou dar um exemplo: nós, humanos, nascemos com a capacidade de falar, mas se uma criança ficar isolada do contato humano e não for ensinada a falar, ela não desenvolverá essa capacidade. A potencialidade para a fala é herdada, mas a capacidade de falar é adquirida. Portanto, ser violento ou não dependerá de uma complicada combinação entre as características de cada pessoa, sua história familiar e as interferências do meio social.

Como o agressor pode se curar?
Ana Carolina Fernandes - 10 anos

Por intermédio de um diálogo franco, uma reflexão profunda, a escola e a família podem ajudar o autor do bullying a entender os reais motivos que o levaram a agir de forma violenta. O grande desafio da escola e da família é promover no menino ou menina uma auto-reflexão, um autoconhecimento. Eles precisam fazer algumas perguntas a si mesmos. Cito alguns exemplos: Por que tenho a necessidade de agir assim? Como me sinto em situações de disputa ou stress? O que eu posso fazer para me acalmar quando sinto que estou perdendo a cabeça? A quem eu quero agradar ao agir com violência? O que quero que pensem de mim? Faço qualquer coisa para poder agradar a minha turma de amigos? Como me sentiria se alguém me ferisse e humilhasse na frente de meus colegas de aula? Que tipo de pessoa eu quero ser na vida? Quando nos conhecemos melhor, identificamos nossas qualidades e dificuldades, conseguimos assim agir com mais maturidade e serenidade. A violência é a arma dos fracos. Os fortes não impõem suas vontades, mas convencem, ganham aliados e amigos por seus argumentos e exemplos. Alguns autores de violência conseguem realizar esse autoconhecimento e mudança de atitude apenas com um suporte da escola e da família, outros necessitarão de uma ajuda profissional.

* Valéria Belém é jornalista e editora do suplemento Almanaque do jornal O Popular (Goiás - Tocantins).
** O nome foi trocado para preservar a identidade da criança.

Fonte: Almanaque, suplemento do jornal O Popular publicado em 22 de maio de 2011.
Observação: o texto postado no blog é o original, o publicado passou por alguns ajustes e cortes para se adequar melhor ao formato e à linguagem do suplemento que é dirigido ao público infanto juvenil.

Essa é a última oração para salvar seu coração...

“Coração não é tão simples quanto pensa,
nele cabe o que não cabe na dispensa (....)”.




"Mas... podemos nos alegrar um pouco com a beleza humana!
Quando esta se dá ao direito de aparecer"!

Vídeo e frase enviada por Josué Vieira Filho - terapeuta de família, assistente social do Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc da Secretaria Municipal da Saúde de Goiânia e mestrando em Políticas Sociais pela PUC GO , em 21 de maio de 2011.

21 de mai. de 2011

Sucesso do Seminário sobre Experiências de Legislação Contra Castigos Corporais de Crianças e Adolescentes

No dia 19 de maio, em um auditório lotado, aconteceu a Cerimônia de Abertura do Seminário sobre Experiências de Legislação Contra Castigos Corporais de Crianças e Adolescentes. No pronunciamento oficial a rainha Silvia, da Suécia, pediu aos parlamentares brasileiros que aprovassem o Projeto de Lei que proibir os castigos físicos e humilhantes na educação e no cuidado de crianças e adolescentes.






A proibição pode consolidar liderança
do Brasil em direitos da criança, diz Marta Santos Pais,
Representante Especial da ONU sobre Violência contra Crianças.


Adolescentes de projeto social entregaram flores a Elisabeth Dahlin, Marta Suplicy, Maria do Rosário, rainha Silvia, Xuxa e Manuela D’Avila


A secretária da organização Save The Children, da Suécia, Elisabeth Dahlin arrebatou os aplausos do auditório ao encerrar o seu discurso com uma bem humorada solicitação a todos os brasileiros. Ela trouxe um par de chinelos e sugeriu ao país que aposentasse o “símbolo nacional para bater em crianças”. Depois de seu pronunciamento dividiu o par e entregou um pé para a senadora Marta Suplicy (PT-SP) e outro para Maria do Rosário.


A apresentadora Xuxa defendeu a aprovação do projeto, o qual chamou de “lei do amor”. "Eu até gostaria de entender um pai que bate. Mas eu não consigo. Eu só consigo me colocar no lugar da criança. Para quem ela vai pedir proteção se o pai e a mãe são os primeiros a ensiná-los a sentir dor?" questionou a apresentadora.


A mesa sobre os “Estudos e Marco Legal sobre Castigos Corporais contra Crianças e Adolescentes” contou com a participação de Paulo Sergio Pinheiro, Especialista Independente da ONU, de Staffan Janson, Professor da University of Karlstad da Suécia, de Ulrika Carlsson, Membro do Parlamento Sueco, de Margarita Percovich, Senadora do Uruguai e de Érika Kokay, Deputada Federal do Brasil. O moderador foi o Deputado Federal Osmar Terra


O encerramento do Seminário ficou a cargo da Primeira Secretária da Embaixada Sueca Annika Markovic e da Representante da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República Carmen Oliveira.



Representantes das delegações de Costa Rica, Suécia, Uruguai e
Venezuela e integrantes da Rede Não Bata Eduque.


Veja um pouco da repercussão do Seminário na impressa:

Congresso começa a discutir fim dos castigos físicos no Brasil

Nova comissão vai discutir proibição de castigos físicos em crianças

Brasil pode ser 30º país a proibir castigos físicos, diz ONU

Castigos corporais em crianças violam direitos humanos, diz rainha

Câmara realiza seminário contra castigos corporais com participação de Xuxa e rainha da Suécia

Rainha da Suécia e Xuxa defendem fim dos castigos corporais

Contra o reinado da palmada

Xuxa e a rainha da Suécia pedem proibição de castigos físicos

Xuxa defende projeto de lei que proíbe palmadas em crianças

'Não se aprende com dor', diz Xuxa na Câmara sobre castigos

Em visita ao Congresso, Xuxa diz que é política 'só da criança'

Apresentadora condenou as palmadas na educação de crianças