Finalmente chega às manchetes a absurda taxa de cesarianas no Brasil, prática que o Secretario de Atenção à Saúde, Helvecio Magalhães, chamou de epidemia e explicou, em matéria na Folha de São Paulo, o óbvio. A remuneração e a praticidade proporcionadas pela cesariana, - é possível um médico fazer quatro cirurgias no tempo em que acompanha um único parto normal, - elevaram para 52% a taxa, que não deve ultrapassar 15%, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Ainda no final dos anos 90, alguns obstetras levantaram a questão, que um deles, em entrevista às páginas amarelas da Veja, chamou de cesariana Guarujá, denunciando colegas que marcavam os partos de suas clientes às quintas-feiras para passar o fim de semana na praia point da época. De lá para cá, tentativas oficiais de conter a prática nem chegaram à rede privada e duraram pouco na rede pública.
Mamães que “detestam sentir dor” acreditam até que o bebê nasce mais bonito, sem ter que passar pelo “sofrimento’ de abrir caminho para fora do ventre da mãe. Para obstetras, nada de gemidos, de fazer força, de segurar a mão. A paciente quietinha, anestesiada, ela e o bebê, o papai filmando. Outro dia, numa academia especializada, aqui em Salvador, uma gestante revelou às suas 14 colegas que tentaria o parto normal. Você vai parir feito vaca?, perguntou uma delas. Isso é coisa pra bicho, disse outra.
Não pensam assim os países civilizados. Na Holanda, como em outros países da Europa, apenas 14% dos partos são cesarianas, nos Estados Unidos, são 26%.
Criado para tentar resolver situações de risco para a parturiente ou o bebe, o uso indiscriminado do parto cirúrgico constitui grave violação de direitos humanos, contra a qual deveriam se unir instituições, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, para garantir a todas as crianças o direito de nascer quando chegar a hora, de se arrastar do escuro uterino até ver a luz além da vagina de sua mãe, como uma fruta madura que cai na hora certa, como os pássaros furando a casca do ovo.
Eleonora Ramos – Jornalista e Coordenadora do Projeto Proteger
Públicado no Jornal da Tarde de Salvador (BA), em 24 de novembro de 2011.
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