2 de dez. de 2011

Juventude perdida nas pistas

Breno Fortes/CB/D.A Press

Juventude perdida na pista 1

O filho de Beth morreu aos 25 anos, no Eixão: "Espero que os governantes deem condições de as pessoas se locomoverem com segurança".

 

Juventude perdida na pista 2

O mais recente levantamento do Ministério da Saúde mostra que metade dos mortos nas vias do DF tinha entre 15 e 39 anos. O número de fatalidades entre motociclistas aumentou 27,3%, saltando de 95 mortes em 2009 para 121 em 2010.

Quase metade das vítimas de trânsito no Distrito Federal morrem no auge da juventude e da vida adulta. Com parte delas são enterrados também casamentos recentes, o direito das crianças de conviver com os seus pais e carreiras promissoras. Uma perda inesperada que subverte a ordem natural da vida e faz mães enterrarem seus filhos.

Em 2010, 548 pessoas morreram em acidentes de trânsito no DF. De todas as vítimas, 241 (44%) tinham entre 20 e 39 anos. O percentual sobe para metade se forem acrescentados os casos de quem tinha entre 15 e 19 anos. A constatação está em uma pesquisa recente do Ministério da Saúde a que o Correio teve acesso com exclusividade (veja arte).

Quando morreu, em 2006, Pedro Davison tinha 25 anos. Era biólogo formado e comemorava a aprovação em um concurso público do Ministério do Meio Ambiente. Fazia planos de se mudar para a Bahia e desenvolver um projeto de educação e sustentabilidade com comunidades litorâneas. Morreu enquanto pedalava no Eixão. "É uma perda insuperável", resume Beth Davison, mãe de Pedro e hoje vice-presidente da ONG Rodas da Paz.

Após a morte do filho, Beth passou muito tempo sem subir em uma bicicleta, mas com o trabalho na Rodas da Paz superou o medo. "Fui abraçada pela ONG e devolvi o abraço. Dessa forma, você transforma o luto em luta. Acredito que a bicicleta é o meio de transporte do futuro. O Pedro defendia isso e espero que os governantes deem condições de as pessoas se locomoverem com segurança", completa.

Desafios

A pesquisa do Ministério da Saúde confirmou uma tendência observada nos últimos três anos em todo o país. "Os dados chamam a atenção porque, no passado, o homicídio era a primeira causa de morte na faixa etária de 15 a 19 anos e, agora, são os acidentes de trânsito", explica a coordenadora da área técnica de prevenção de violências e acidentes do Ministério da Saúde, Marta Silva.

Também chama a atenção no estudo, a quantidade de motociclistas mortos. No DF, o número de fatalidades entre essa parcela de condutores aumentou 27,3%, saltando de 95 mortes em 2009 para 121 em 2010. "Isso se deve, em parte ao crescimento acelerado da frota, à imprudência do motociclista e a má-formação nos centros de formação de condutores", comenta o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves Júnior.

As razões para o trânsito matar tanto são variadas: falta de manutenção do veículo, problema de infraestrutura viária, deficiência de transporte público e o aumento da frota. Mas o comportamento humano aparece como um fator importante, segundo os especilistas. "Especialmente entre os jovens, a associação álcool e direção e o excesso de velocidade estão entre as causas de acidentes. Quando as duas coisas ocorrem juntas, agravam ainda mais o problema", destaca Marta Silva.

O foco do governo federal é atuar na prevenção e mudança de comportamento do motorista. Segundo Marta Silva, é preciso atuar nos fatores de risco para acidentes, especialmente, álcool e direção, uso do capacete e do cinto de segurança - tanto pelo motorista como passageiros do banco da frente e de trás -, uso da cadeirinha ou assento para crianças e o uso do celular ao volante. "Este é um problema que exige política pública mas também é um problema de cada um nós. As pessoas precisam ser mais prudentes, tolerantes e solidárias, buscando a paz no trânsito", defende.

Três perguntas para

Marta Silva, coordenadora da área técnica de prevenção de violências e acidentes do Ministério da Saúde Diante do retrato de acidentes de trânsito no Brasil, qual caminho seguir para reduzir as mortes?

Não existe uma única solução para um problema tão complexo. Algumas ações já estão em curso e, entre elas, destaco a iniciativa do governo federal em assumir, por meio do Ministério das Cidades e da Saúde, o pacto nacional pela redução das mortes no trânsito em até 50% até 2020. Estamos construindo um plano de redução de acidentes e segurança viária com participação de setores da sociedade civil e sociedade científica.

Quando esse plano será concluído?

Ele está em discussão na Casa Civil e deve ser lançado nos próximos meses, com metas a curto, médio e longo prazos. Entre os seus eixos estão a fiscalização, a segurança veicular, infraestrutura viária e mudança de comportamento do motorista. O Ministério da Saúde entra com a assistência pré-hospitalar no local da ocorrência e atenção integral no hospital e unidades de pronto atendimento e, posteriormente, no atendimento às vítimas com sequelas.

Existe algum programa de redução de acidentes em funcionamento?

Já tem iniciativa em curso desde 2003, que é o projeto de redução da mortalidade por acidentes no trânsito. Funciona em 15 capitais e no DF, além de municípios de pequeno e médio porte. São ações de prevenção por meio da articulação de vários órgãos, entre eles os Detrans, a sociedade civil, órgãos de infraestrutura e planejamento urbano. Consiste no levantamento e análise da estatística com dados da Saúde, da Polícia Civil e dos institutos de medicina legal, para se chegar a informações mais precisas sobre os locais, horários e tipo de ocorrência para se fazer um trabalho mais direcionado de prevenção.

 

Marta foto sorriso

 

Marta Maria Alves da Silva - Coordenadora da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes, Coordenação Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Departamento de Análise de Situação de Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde - Ministério da Saúde

Fonte: Correio Brasiliense em 02 de dezembro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)