Adriana Accorsi foi delegada titular da Delegacia de Proteção de Crianças e Adolescentes, Superintendente de Direitos Humanos da Secretária de Segurança Pública e Justiça de Goiás e atualmente é Delegada Geral da Polícia Civil do Estado de Goiás.
Jornalista Andréia Bahia — O que a sra. pensa sobre a chamada Lei da Palmada, pela qual se quer coibir o pai de educar seu filho?
Não concordo que essa lei tenha essa intenção. Não fui criada com castigo físico e não acredito no castigo corporal. Tenho três filhos já saindo da adolescência e não os crio assim. Aliás, esse nome, “Lei da Palmada”, é totalmente equivocado. O que a lei diz é que o castigo e a humilhação não devem estar junto à educação dos filhos, com o que concordo plenamente. Participei das discussões e de audiências públicas. O abuso físico é tão grave ou mais grave até do que a pedofilia, porque as pessoas ainda acham que isso é certo, dar um tapa na cara de uma criança! As pessoas acham que isso é uma palmada. Se alguém der um tapa em um adulto vai preso, porque é injúria qualificada. Por que, então, a criança, que ainda está aprendendo as regras, pode levar um tapa na cara? Para ver o tanto que bater é errado, basta ver que o adulto faz coisas erradas o tempo todo: traições, trapaças, furtos etc. Mas, se alguém bater na gente, a gente vai até a polícia. A gente deveria saber as regras da vida, mas se for corrigido com violência física é crime, é tortura. Então, por que a criança tem de ser corrigida com violência? É a maior forma de humilhação, algo como dizer “eu sou mais forte, por isso (simula um tapa) fica quieto!”. E as pessoas denunciadas não dão palmadas: quem se acha no direito de educar com castigo físico arrancam cabelos, quebram dedos, quebram braços, esquenta colher e queimam a criança. As pessoas fazem isso, coisas assim chegam todo dia na delegacia! É por isso que temos de dizer não ao castigo corporal, porque as pessoas frequentemente passam do limite, fazem isso bêbadas, drogadas, fora de si. Por isso tudo, acho que essa lei não vem dizer como educar, mas, sim, alertar para o fato de que a violência, o castigo físico não é uma forma de educar.
Acesse a entrevista completa “Lugar de bandido é na cadeia”
Fonte: Jornal Opção, edição 1902 de 18 a 24 de dezembro de 2011
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