26 de jul. de 2010

Jornalista esclarece a sua posição em debate na TV

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Luiz Carlos Bordoni disse...

Cara senhora, sou professor. Não defendo e nunca defendi palmadas. Abomino a violência, inclusive a sua, tão pior ou tão perigosa quanto, que é a de distorcer ou de colocar palavras não ditas em bocas alheias.
Sou um dos entusiastas de O. S. Neil e de seu programa pedagógico "Summerhill" (Liberdade sem medo), onde a criança é o sujeito e não o objeto. À exceção da culpa que tenta nos imputar, há pertinência e importância no texto supra.
Luiz Carlos Bordoni

Prezado professor Bordoni,

Com entusiasmo e alegria recebo os seus esclarecimentos. É alentador saber que um professor não defende a prática de violências físicas e psicológicas na educação e no cuidado de crianças e adolescentes. Pela relevância do que foi dito pelo senhor, resolvi dar um destaque especial ao seu comentário. Aproveito a oportunidade para convidá-lo a somar forças na luta pela garantia do direito de crianças e adolescentes crescerem e se desenvolvorem livres de práticas punitivas e disciplinares que causam dores, sofrimentos e humilhações.


Mais algumas considerações sobre o programa:

Como estudiosa do fenômeno da violência física intrafamiliar como método punitivo-disciplinar é de meu interesse perceber como esse arcaico costume se expressa no discurso cotidiano dos brasileiros. Faz parte dos meus procedimentos de pesquisa o registro e arquivamento de pronunciamentos, de entrevistas jornalísticas, de anúncios de campanhas publicitárias, de cartoons, de letras de músicas e demais manifestações culturais que tratam da tradição familiar de se educar os filhos por meio de castigos físicos. Por isso, registrei as falas proferidas por cada participante do debate.

Em um determinado momento do debate o senhor diz que deveríamos nos preocupar mesmo era com as “palmadinhas dos políticos”. Para ilustrar o que seria as “palmadinhas dos políticos” faz um gesto com as mãos que costumeiramente significa roubar, surrupiar. Por acreditar que uma das formas de se desqualificar uma proposta ou idéia é minimizar sua importância ridicularizando-a, apreendi que o senhor estava se posicionando contra o movimento nacional e internacional que luta pela erradicação do uso de castigos físicos e humilhantes na educação e no cuidado de crianças e adolescentes.

Eu e outros telespectadores (dentre eles jornalistas e psicólogos) que acompanhamos o programa não conseguimos perceber claramente que o seu posicionamento era favorável ao projeto de Lei que proíbe o uso de castigos físicos e humilhantes.

Acredito que a má condução do programa dificultou a correta interpretação de suas falas. Percebi a ocorrência de imperícias na mediação do debate. A distribuição do tempo para os pronunciamentos dos convidados não ocorreu de forma equânime. Por diversas vezes a fala da psicóloga Marta Gedda foi bruscamente interrompida. Ela teve até que fazer um apelo para que permitissem que sua argumentação fosse concluída. No entanto, considero que o maior equívoco ocorrido na mediação do debate foi não conduzi-lo com a austeridade que o tema exigia.

Anedotas jocosas foram feitas sobre a prática de se educar as crianças por meio de castigos físicos e humilhantes. Foi dito até que “se a criança não apanhar em casa ela irá apanhar da polícia”. Essa pequena frase é de uma barbárie impressionante, pois incentiva a violência intrafamiliar e simultaneamente autoriza e naturaliza a violência policial.

Um alerta:

O debate sobre o projeto de lei que propõe equipará os direitos de crianças e adolescentes aos dos adultos deve ser feito com muita seriedade e profundidade. Considerar que a luta pela erradicação dos castigos físicos e humilhantes é uma questão menor, que os políticos e a sociedade devem se preocupar com problemas maiores é uma visão no mínimo ingênua. Com a aprovação deste projeto de lei a criança e o adolescente terão o direito à mesma proteção que os adultos têm em relação à sua integridade física e psicológica.

Um abraço afetuoso.

Cida Alves

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