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21 de jul. de 2010
Entre a palmada e o limite
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*Professora Dra. Silvia Rosa Silva Zanolla
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Muito se comenta sobre o projeto defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que proíbe aplicar palmadas em crianças e adolescentes. Evidente que o problema da violência nos lares e famílias não será resolvido com uma ação isolada do contexto econômico, social e cultural; ou seja, é notório que a violência é desdobramento de variados fatores sociais, entre os quais se destacam a pobreza e a falta de educação no sentido amplo cultural. Não obstante, causa espanto acompanhar a revolta instalada em boa parcela da população em relação á proibição transformada em lei. Essa revolta reflete a inversão da lógica da ação educativa quando se pensa chegar ao ponto de se ter de lutar por uma lei que proíba a violência infantil.
Obviamente que as crianças não deveriam ser agredidas por adultos. Na prática, estima-se que o número de agressões seja muito maior do que aquele que se apresenta pelos meios de comunicação. Mas uma questão precede a esta: seriam as palmadas atos violentos? As opiniões divergem entre especialistas e senso comum, entretanto prevalecem opiniões voltadas para experiências pessoais justificando a importância de “corrigir” os filhos para que possam lidar com o limite na vida. Frases são comuns: “Se não apanhar dos pais, apanha da vida”; “Quem apanha valoriza os pais e a vida”, “uma palmadinha não faz mal”, etc. São frases ouvidas no cotidiano e simbolizam formas de lidar com a fragilidade e o despreparo no ato de educar e colocar limites nas ações consideradas inadequadas das crianças.
A opiniões apaixonadas deixam pouca margem para lúcidas reflexões. A prática sugere exercitar aquilo que na teoria seria ideal: conseguir algum resultado coerente com os princípios e valores que se esperam de uma sociedade mais humana e menos violenta. Uma vez que o problema está sendo discutido de modo simplista e reducionista deve-se ampliar os reflexos da inocentes palmadas para além da etapa da infância, para encontrar, num sentido mais amplo, explicações para a violência familiar e doméstica em outras fases da vida do ser humano.
As palmadas refletem formas de lidar não apenas com o limite na infância, mas com a maneira que se projeta a relação de amor e autoridade entre pais e filhos quando estes se encontram na fase adulta e da velhice. As crianças apreendem tudo à sua volta e levam conteúdos de maneiras peculiares de amor ou agressividade para seu desenvolvimento. A palmada funciona tanto como uma ação legitimadora da incapacidade de dialogar e de construir autoridade quanto pelo convencimento em meio à ameaça pela força física daquele que tem o poder se fazer obedecer.
Bater não se trata de uma questão moralista, ou, no extremo, de demonstração de culpa dos pais. O ato reflete incapacidade para sublimar a agressividade inerente á constituição humana que teima em prevalecer até mesmo nas justificativas mais racionais para atos violentos.
*Silvia Rosa Silva Zanolla
Possui graduação em Serviço Social e Psicologia, ambos os cursos pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO), Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professora efetiva da Graduação e da Pós-graduação da Faculdade de educação da Universidade Federal de Goiás (FE/UFG), com experiência em pesquisas com ênfase em psicologia social e educacional a partir da abordagem teórico crítica da Escola de Frankfurt. Desenvolve estudos e pesquisas sobre indústria cultural; infância, consumo e violência; concepção de infância em Adorno; jogos eletrônicos e formação de valores; comunicação e teoria crítica; metodologia e espistemologia. Possui trabalhos, artigos e pesquisas sobre a identificação de crianças com o videogame, comunicação e cultura, teorias da aprendizagem, teoria crítica e sociedade, arte, poder e cultura.
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Há por parte dos pais, cuidadores e responsáveis por crianças, adolescentes e jovens, opiniões diversas no que se refere ao Projeto de Lei que proíbe os castigos físicos e humilhantes em crianças e adolescentes. Percebe-se que a preocupação em enfatizar a agressão punitiva como forma de educar, revela uma verdadeira reprodução de violência registrada na história de vida de cada um, o que gera a real violência vivida nos dias de hoje até de "forma natural". Muitos até levatam slogan "PAZ SIM, VIOLÊNCIA NÃO". Há então uma ambiguidade em relação a uma Lei tão séria que iniciará um processo de segurança para muitos que vivem em situação de risco em meio a vivência absurda de humanos que dominam outros humanos. Há de se pensar sim em outras possibilidades que ensinará a criança a respeitar, dialogar, refletir e resolver situações sem conflitos e agrssões. Professora Leila Oliveira Rodrigues
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