“Nunca vi uma mulher ser estuprada lavando louça na
cozinha”
Sórdido comentário feito em rede social sobre o
estupro coletivo cometido contra uma menina de 16 anos na Zona Oeste do Rio de
Janeiro
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Uma frase curta que encerra em si toda uma cultura, a
naturalização da violência contra os corpos femininos. Corpos que são entendidos
como públicos, que todos podem ter acesso, passar a mão na rua, encoxar no
ônibus ou no trem, exibir como troféu de predador mor por meio de vídeos e fotos
íntimas e até mesmo violentar se a situação for favorável (ver abaixo
reportagem sobre estudo liderado pelo professor Sarah Edwards e publicado em
Violence and Gender).
Na cultura do estupro o corpo da mulher é público.
Entretanto, sua condição feminina exige o claustro da vida privada. Às mulheres é negado o espaço público, pois
este é o lugar legítimo da vida política e da cidadania dos homens livres. Sob a égide da cultura do estupro, as mulheres não
acenderam ainda à condição de cidadãs livres, são meros objetos sexuais, servas
dos trabalhos domésticos, que devem limitar suas vidas às sombras do mundo privado.
Para além da delimitação do espaço público e privado,
a pequena frase esconde um mito e ostenta uma ameaça. O mito de que as
violências ocorrem apenas no espaço público, na rua e que os algozes são os estranhos.
NÃO, CARA PÁLIDA!
A BÉLICA AMEAÇA!
A violência sexual é também uma arma de combate à emancipação e autonomia feminina. A violência sexual
cometida contra as mulheres serve muito bem ao moralismo patriarcal. Parece uma
contradição, mas de fato não é, o moralismo, a repressão sexual e as violências
sexuais são diferentes faces da mesma moeda. O moralismo e a repressão sexual
têm por finalidade inibir ou bloquear a liberdade sexual das mulheres. A violência sexual por vezes assume a função de punir as manifestações de avanço e liberdade sexual das
mulheres. Nesse sentido, o estupro é uma “lição”, tem feito pedagógico. Por mais cruel que seja, ele é muito oportuno à moral patriarcal. Com o estupro fica dado o recado:
- tá vendo menina, quem mandou querer ser uma igual a nós homens.
Você não é cidadã. Você não é livre, nós que é mandamos no pedaço e podemos
fazer com seu corpo o que bem entendermos.
Cida Alves
Goiânia, 27 de maio de 2016
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*ÉCORCHÉ – ESTUDOS DE ANATOMIA
Grande parte dos artistas que retratam a figura humana buscam
conhecimento de anatomia para entender a estrutura que sustenta o corpo, a
disposição dos ossos, o funcionamento das articulações, a origem e inserção dos
músculos, acúmulos de gorduras, veias e tudo aquilo que constitui a figura que
estão vendo e que buscam representar.
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