12 de mar. de 2012

Uma vergonha: cinco militares presos na Operação Sexto Mandamento, deflagrada pela Polícia Federal (PF) foram homenageados com a Medalha Pedro Ludovico Teixeira

 

Medalha Pedro Ludovico

Legislativo banaliza honraria

Se passou menos de um mês desde o início oficial de suas atividades em 2012, no dia 15 de fevereiro, mas a Assembleia Legislativa já entregou 219 medalhas Pedro Ludovico Teixeira. As honrarias foram concedidas em apenas duas sessões especiais realizadas nos dias 17 e 27 do mês passado e tiveram um custo total estimado de R$ 66,13 mil, sendo R$ 302,68 por unidade. Todas foram para militares do Estado de Goiás.

O número atingido em apenas duas sessões representa quase um terço do total das medalhas, consideradas a “condecoração máxima” do Parlamento, concedidas nos primeiros 15 anos de sua existência, entre 1991 e 2006, e é quatro vezes maior do que a média anual no mesmo período, quando foi entregue a apenas 706 pessoas (veja quadro).

Medalhas Banalizadas

Conforme mostrou o POPULAR no ano passado, a honraria está banalizada. Entre 2007 e 2011 foram entregues dez vezes mais medalhas do que nos primeiros 15 anos. Foram 2.339 só no último ano (leia reportagem ao lado).

R$ 2,6 milhões

A Assembleia Legislativa entregou 2.339 medalhas Pedro Ludovico Teixeira em 2011. O custo estimado das honrarias chegaram a R$ 706,37 mil no primeiro ano da 17° Legislatura. Apesar de alto, o número é inferior a 2010, quando o Parlamento estadual distribuiu 2.667 honrarias.

No total, a Casa condecorou 8.600 pessoas desde 1991, quando a medalha foi criada. Em valores atuais, a Assembleia já gastou mais de R$ 2,6 milhões com as homenagens.

Motivo da Banalização

Um dos motivos para a banalização, relatado à reportagem pelos deputados estaduais, é o valor que as medalhas têm na promoção de policiais militares. Apesar da inexistência de critérios objetivos e de nenhuma das fontes consultadas, inclusive da Polícia Militar, informar detalhes da influência da Pedro Ludovico na mudança de patente, todos confirmaram que a honraria tem peso.

Responsável pela entrega mais de 500 medalhas desde que assumiu seu primeiro mandato de deputado, em 2011, Major Araújo (PRB) é o autor de uma das duas sessões deste ano, quando homenageou 90 policiais e bombeiros militares, suas principais bases eleitorais. A outra sessão especial, de autoria de Misael Oliveira (PDT), condecorou 129 PMs.

Major Araújo diz que o excesso de honrarias se deve à grande procura por parte dos militares. “Os deputados militares anteriores concederam muitas medalhas. Hoje, os militares nos procuram muito, pedindo”, disse, ressaltando que não só militares buscam a condecoração. “Pesa no currículo do empresário, do professor, de qualquer profissional”.

Outros parlamentares contam que o benefício dado a militares é revertido em voto. Situação que, diz um deputado governista, se repete com civis. “Imagina uma liderança do interior. É claro que quando ele vem aqui na Assembleia, acompanhado da família, e volta para sua cidade com uma medalha no pescoço, o deputado ganha o apoio dele.”

Quantidade da “condecoração máxima” concedida em fevereiro é 1/3 do total distribuído em 15 anos

 

Homenageados após serem presos pela PF

A falta de critérios para a medalha Pedro Ludovico pode também explicar o fato de que entre os agraciados estão pelo menos cinco militares presos na Operação Sexto Mandamento, deflagrada pela Polícia Federal (PF) com o objetivo de coibir ação de grupos de extermínio em Goiás.

São eles: tenente-coronel Ricardo Rocha (veja texto abaixo), capitão André Ribeiro Nunes, capitão Durvalino Câmara Santos Júnior, tenente Vitor Jorge Fernandes e o capitão Alexsandro Souza Santos.

Conforme o levantado pelo POPULAR no portal da Assembleia na internet, André Ribeiro e Alexsandro receberam a honraria após as prisões, que foram feitas em fevereiro de 2011. Enquanto o primeiro foi homenageado pelo Parlamento no último dia 17 de fevereiro por Misael Oliveira, o segundo recebeu sua medalha das mãos de Sônia Chaves (PSDB) em outubro do ano passado.

Paulo César Martins (PMDB) entregou a Pedro Ludovico a Vitor Jorge em 17 de setembro de 2010 e o ex-deputado Coronel Queiroz (PTB), também policial, homenageou Ricardo Rocha e Durvalino na mesma sessão especial, em 3 de agosto de 2009.

Misael, Paulo César, Sônia e Coronel Queiroz não foram encontrados pela reportagem até a conclusão desta edição.

 

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Mato por satisfação

Mato por satisfação 1

 

Prazer em matar

 

O texto abaixo revela um pouco da “atuação” do Tenente Coronel Ricardo Rocha:

“Papai faz, mamãe cria e nós mata”, diz adesivo
Rosana Melo

Uma das figuras mais emblemáticas da Polícia Militar da atualidade, o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista, de 37 anos, está fora de combate até segunda ordem da Justiça. Ontem ele foi preso preventivamente e será transferido para o presídio federal de Catanduvas (PR), com outros 16 militares.

Ricardo Rocha entrou para a PM em 1991. Já comandou as Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) em 2004 - ano que a PM mais matou em Goiás -, esteve nos comandos de Rio Verde, Formosa e atualmente estava no Grupo de Patrulhamento Aéreo (Graer) da PM. Ano passado, chegou a se candidatar a deputado estadual, mas teve a candidatura cassada pela Justiça Eleitoral.

O tenente-coronel responde na Justiça goiana a processos criminais de homicídios, todos qualificados, contra Rodrigo da Costa Torres, morto em setembro de 2002, em Goiânia, e Marcelo Coka da Silva, morto em setembro de 2004 também em Goiânia.

Em Rio Verde, ele é acusado de matar Cláudio Antônio Schu, Paulino de Almeida, Natron Rodrigues da Silva, Longuimário Coelho de Andrade e Aleandro Ribeiro Silva, às margens de um córrego, em 10 de outubro de 2003.

Ele é suspeito das mortes de Cleiton Silva Sousa, Gilson da Silva Rocha, Nilton Alves Rocha Júnior, Marcondes da Silva Carvalho e Amilton Pereira Rocha, em Cachoeira Alta, no dia 6 de março de 2006.

Consta ainda na Justiça contra o militar, processo que apura a morte de Alessandro Ferreira Rodrigues, o Nego Léo, morto em setembro de 2006; o assassinato do adolescente David Morais, em 11 de março de 2001; de Bruno dos Anjos Ribeiro, em junho de 2004; além de denúncias de abuso de autoridade e de ameaças contra testemunhas.

Afastamento


Quando comandava o batalhão de Formosa, o então major foi acusado de envolvimento em assassinatos ocorridos em Flores de Goiás e Alvorada do Norte. O Ministério Público chegou a pedir o afastamento dele do cargo e Ricardo Rocha e outros seis militares, os sargentos Wanderley Ferreira dos Santos, Gerson Marques Ferreira e Gilson Cardoso dos Santos e os soldados Francisco Emerson Leitão de Oliveira, Ederson Trindade e Lourival Torres Inez, foram presos temporariamente. Geson Marques Ferreira e Ederson Trindade foram presos ontem pela PF junto com Ricardo Rocha.

Eles teriam matado três pessoas acusadas de furtar propriedades rurais naqueles municípios. Em uma das ações, testemunhas contaram que no carro usado pelos militares havia um adesivo com os dizeres: "Papai faz, mamãe cria e nós mata" (fonte: Jornal O Popular de 16 de fevereiro de 2010).

Fonte: Jornal “O Popular” de 12 de março de 2012.

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