4 de set. de 2011

"Race to nowhere": uma crítica a competitividade do ensino americano

Corrida para lugar nenhum


Sucesso nos EUA, o documentário faz
crítica à cultura da alta performance nas escolas






"Temos uma ideia limitada do sucesso"
Vicki Abeles



Confira abaixo a entrevista com a diretora Vicki Abeles
Por Camila Guimarães


Quem é:
Vicki é mãe de duas adolescentes, é advogada, mas largou a carreira executiva para virar documentarista.
O que fez:
O documentário Race to nowhere (Corrida para lugar nenhum), que virou sensação nos EUA e gerou uma onda de discussões sobre os limites da competitividade


De origem simples, a americana Vicki Abeles aprendeu, logo cedo, que só conseguiria sucesso na vida se estudasse muito. Chegou lá depois de bastante esforço. Formou-se em Direito e fez carreira como executiva de finanças. Quis que suas duas filhas seguissem o mesmo caminho, mas percebeu da pior maneira possível que havia algo errado. Sob pressão da escola por boas notas, sua caçula adoeceu. Vicki viu, então, que havia algo de errado na cultura competitiva imposta pelas escolas americanas. Largou o trabalho para se dedicar a um documentário que mostra os efeitos negativos dessa cultura nas crianças. "Criamos uma geração de jovens doentes e sem inspirações", diz ela.

ÉPOCA - A senhora é uma mãe preocupada com a educação dos filhos. Por que resolveu criticar as escolas mais rigorosas, com melhores resultados?

Vicki Abeles - Tudo começou com uma preocupação gradual com a alta demanda da escola de minha filha que cursava a 7a série. Em uma reunião na escola, percebi que era um assunto que preocupava também outros pais. Quando cheguei em casa, às 11 da noite, encontrei minha filha ainda acordada, fazendo lição de casa. Mas a gota d'água veio com o diagnóstico de depressão. Ela teve diversas doenças por causa disso. Resolvi, então, pegar uma câmera e sair gravando histórias iguais à dela.

ÉPOCA - Qual é sua ideia de sucesso para suas filhas?

Abeles
- Espero que cresçam felizes, confiantes, saudáveis, curiosas, criativas e conectadas. Espero que elas encontrem suas paixões e maneiras de fazer do mundo um lugar melhor. Especialmente, espero que elas tenham habilidades sociais e emocionais para estabelecer relações positivas com a família e os amigos.

ÉPOCA - Estudar com afinco não é importante?

Abeles
- Temos uma visão limitada do que é ter sucesso e do que é educação de boa qualidade. Somos conduzidos pelo medo de que nossas crianças não sejam capazes de competir globalmente. E nossa resposta para isso tem sido definir de forma limitada o que é ser um jovem de sucesso: ter boas notas e bom desempenho em rankings.

ÉPOCA - Mas a competitividade das escolas não melhorou a educação nos EUA?

Abeles - Não acredito nisso. O que mudou foi o foco do ensino. Ensinar agora é preparar para fazer prova. Não temos mais uma base curricular diversificada. Artes e educação física foram reduzidas ou eliminadas. E isso não funciona. Ainda temos falhas de aprendizado. A qualidade do aluno que chega à universidade é ruim e a evasão alta. Temos de fugir do modelo baseado em alto desempenho em avaliações e dar aos professores a chance de aplicar um currículo e provas que funcionem para as crianças.

ÉPOCA - Você acha que os pais confundem boa educação com ensino rigoroso?

Abeles - É fácil culpar os pais ou os professores, mas a verdade é que criamos um sistema que desvia a atenção do que é realmente importante. Queremos desenvolvimento acadêmico, é claro, mas também social, emocional e criativo. Acho que devemos lembrar que há outras habilidades na vida, inclusive cometer erros. Então deveríamos nos perguntar se ficar acordado durante horas à noite fazendo lição de casa, ou contratar um exército de professores particulares, vai ajudar em alguma coisa.


Veja ainda a reportagem de
Martha Mendonça


O ponto fraco do ensino forte

"A estudante de artes Chanel Rodrigues, de 18 anos, faz desenhos em casa, no Rio.
Ela entrou em depressão nos anos em que estudou em um colégio tradicional


"Por que as escolas tradicionais - as primeiras colocadas nos exames nacionais de avaliação - podem causar danos aos alunos"


Foram os piores anos da minha vida.” A frase ainda é dita com sofrimento pela estudante carioca Chanel de Andrade Rodrigues, de 18 anos. Ela está no 1o ano da faculdade de artes, mas não esquece o período em que estudou no Santo Agostinho, do Rio de Janeiro, um dos colégios mais tradicionais e bem-conceituados do país. Do 7o ano do ensino fundamental ao 1o ano do ensino médio, passou seus dias perdida entre aulas que não acompanhava, um enorme volume de conteúdos para memorizar, provas difíceis, notas baixas e um séquito de professores particulares a cada final de ano letivo. Na escola, não gostava de sair para o recreio e não comia nada. Em casa, compensava a ansiedade comendo demais. Na escola anterior, menos rígida, onde tirava boas notas, costumava nadar e fazer aulas de dança. No Santo Agostinho, evitava as aulas de educação física. Chanel entrou em depressão e engordou 20 quilos.

A mãe tentou convencê-la a fazer terapia, mas ela se recusava. “Eu só queria ser invisível”, afirma. “Odiava a competitividade que estava sempre no ar.” Só depois que Chanel foi reprovada, no 1o ano, sua mãe decidiu trocá-la de escola. (Procurado por ÉPOCA, o Santo Agostinho não respondeu aos pedidos de entrevista.) O caso de Chanel é apenas um entre centenas que revelam uma realidade incômoda: o custo emocional alto – muitas vezes altíssimo – do modelo de eficiência adotado naquelas escolas que exigem alto desempenho dos alunos e garantem todo ano boas colocações nos melhores vestibulares" (trecho da matéria)

Acesse a reportagem completa no site da REDE PRIMEIRA INFÂNCIA

Fonte: Revista Época/01 de agosto de 2011.

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