Sua missão era comprar armas, mas acabou salvando 40 mil vidas
José Arturo Castellanos Contreras
O coronel salvadorenho José Arturo Castellanos Contreras (1893-1977), que salvou provavelmente mais de 40 mil judeus e só recentemente teve sua história reconhecida.
É uma grande história.
Nos anos 1930, Arturo Castellanos foi enviado à Europa (para comprar armas) pelo governo de Maximiliano Hernández Martínez. Cumprida a tarefa, decidiu voltar, mas, percebendo-o como possível adversário político, Hernández Martínez decidiu indicá-lo para o cargo de cônsul-geral em Liverpool, na Inglaterra. Mais tarde, foi enviado para Hamburgo (onde atuaram Guimarães Rosa e Aracy Moebius) e, de lá, para Genebra.
Na Suíça, onde conheceu sua futura mulher, María Schürman, o diplomata fez um grande amigo, o empresário húngaro Gyorgy Mandl, o homem que “puxou” Arturo Castellanos para a missão que o tornou um personagem histórico internacional.
Gyorgy Mandl chegou a ser preso pelo Gestapo, sob a acusação de ser “judeu”, e iria ser enviado para um campo de concentração. Por ter passaporte de El Salvador, acabou sendo liberado.
Atuando juntos, Arturo Castellanos e Gyorgy Mandl começaram a assinar salvo-condutos para milhares de judeus, que assim escaparam dos campos de extermínio de Auschwitz-Birkenau.
O trabalho do diplomata não tinha a aprovação do governo de El Salvador. Mesmo assim, sem recear as consequências, o diplomata seguiu concedendo vistos — por conta própria. Mesmo atuando na neutra Suíça, Arturo Castellanos e Gyorgy Mandl correram riscos, pois havia simpatizantes do nazismo no país.
O método de salvamento era o seguinte: Arturo Castellanos, com o apoio de Gyorgy Mandl, enviava milhares de passaportes para os judeus húngaros em veículos que entravam clandestinamente na Hungria. Os motoristas conseguiram burlar as barreiras impostas pelos nazistas alemães. O diplomata e o empresário trabalharam durante meses, dia e noite, na expedição de salvo-condutos. Os judeus se tornaram salvadorenhos e, assim, foram salvos pela corajosa ação de Arturo Castellanos e Gyorgy Mandl.
Mas como transformar judeus brancos, de cabelos claros, em salvadorenhos? Segundo o blog Trébede, os soldados alemães de 1944 não tinham ideia de como era El Salvador e não sabiam como era a aparência de seu povo. Eles só observavam a documentação, o que facilitava a escapada dos judeus húngaros, tchecos, franceses, alemães e poloneses, que “não” eram mais judeus, e sim salvadorenhos.
Entre 1942 e 1944, o diplomata emitiu pelo menos 13 mil documentos. Como alguns documentos contemplavam até onze pessoas, chega-se à cifra de 40 mil pessoas. De repente, ficou-se sabendo que os salvadorenhos “eram” a maior comunidade estrangeira da Hungria. “Em 4 de julho de 1944, o governo de El Salvador solicitou formalmente ao governo suíço que os salvadorenhos” que estavam na Hungria fossem colocados “sob proteção do consulado suíço em Budapeste”.
Os corajosos, generosos e justos não merecem o esquecimento
Apesar de sua façanha, Arturo Castellanos morreu pobre e esquecido, em 1977. Sua trajetória só se tornou pública graças aos esforços do infatigável historiador Carlos Cañas-Dinarte.
Ao encontrar documentos nos arquivos nacionais de San Salvador, em El Salvador, Cañas-Dinarte escreveu sua história e, em 2010, sessenta e cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Arturo Castellanos passou a ser considerado, pelo Yad Vashem, “justo entre as nações”.
Fonte: Euler Bélem - Jornal Opção on Line
A notável história de Arturo Castellanos pode ser verificada, de modo mais amplo, com fotografias e documentos, no blog “Rescoldos en la Trébede”.
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