31 de mai. de 2012

Xuxa ficou grande–Gilberto Dimenstein


 

Giberto Dim

 

Giberto Dimenstein

 

Até o domingo passado, Xuxa era apenas uma daquelas celebridades cercadas pela futilidade da fama. Exibia uma infantilidade mercadológica de quem não sabia envelhecer. Sua principal mensagem com as crianças era intermediada pelo consumo, embora tivesse um trabalho social em sua fundação. Mas domingo ela ficou grande.


Ao ter a coragem de revelar traumas de seu passado, ela se despiu. Usou seu poder de celebridade para projetar, como nunca foi projetado no Brasil, o tema da violência sexual. Coincidiu com a divulgação de dados oficiais mostrando como é disseminado o abuso sexual nas famílias.


Há exatos 20 anos, divulguei uma investigação que realizei pelo Brasil sobre violência sexual contra meninas, intitulada Meninas da Noite, quando descobri o manto de silêncio e impunidade. Vi sobretudo que as vítimas sentiam-se não apenas envergonhadas, mas culpadas pelo abuso, muitas vezes acobertado pela mãe. Por mais que mostrássemos dados, relatos e até fotos, pouco ocorria, especialmente por causa desse silêncio das famílias e do desinteresse, em geral, da mídia.


Coube a Xuxa, com seu poder midiático, quebrar o silêncio e, quem sabe, fazer mais gente lidar com o problema e falar. Agiu, em suma, como uma educadora e ficou grande.

Ela foi protagonista em um daqueles marcos de consciência que ocorrem num país.

Aproveitando o tema da família: estudos nos Estados Unidos revelam que o hábito de jantar com os pais regularmente ajuda na estabilidade emocional das crianças e adolescentes, reduzindo o risco de abuso de drogas, gravidez precoce e depressão. Há um projeto criado em Harvard para detalhar essas descobertas (veja aqui). Daí se vê o impacto da família.


Gilberto Dimenstein

Enviado por Angelica Goulart, coordenação da Rede Não Bata Eduque em 29 de maio de 2012.

Fonte: Folha de São Paulo, coluna do Gilberto Dimenstein em 22 de maio de 2012 – 07h26

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