27 de fev. de 2016

Assim nasce o conservador - Por Mauro Luis Iasi.

Assim nasce o conservador

De todos os invernos
De todas as noites sangrentas
De todos os infernos
De todos os céus desterrados de perdão.

De toda obediência burra
Ao oficial, burocrata,
À coroa, ao cetro,
Ao papa, ao cura.

De todo medo
“Agora não, ainda é cedo”,
de todo gesto invertido para dentro,
de toda palavra que morre na boca.

Do obscurantismo, de todo preconceito,
de tudo que te cega, de tudo que te cala,
de tudo que lhe tolhe, de tudo que recolhes,
de tudo que abdicas, de tudo que te falta.

Um beijo o assusta,
um abraço o enfurece,
a dúvida o enlouquece,
a razão se esvanece no vácuo.

Germina, assim, uma impotência tão grande,
que deforma as feições e torna tenso o corpo,
o dedo em riste, a veia que salta no pescoço,
a boca transformada em latrina.

Assim nasce o conservador.
Ele teme tudo que é novo e se move.
É um ser frágil, arrogante, assustado…
e violento.




Mas para a sorte do processo civilizatório e humanístico todo conservador tem bem ao seu lado um dissidente. Na aguda e inteligente ironia de Chico Buarque, a dissidente do conservador era uma filha apaixonada e sensual, que não se assustava com dengos, enrosques, abraços e beijos.

"Ela gosta do tango, do dengo
Do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisca, belisca, petisca
Me arrisca e me enrosca"



Fonte do poema: Blog da Boitempo, em 13 de agosto de 2015.

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