As três irmãs: Elisa (ao centro), Tania (à esquerda), e Clarice, em
setembro de 1927
"Entendo que as crianças são as portadoras das grandes questões essências da vida humana. Elas configuram, em sua condição de início, o estado de máxima incompletude existencial, ou seja, um estado de ser e ao mesmo tempo de não ser ainda. Tal estado é narrado pelo texto de Clarisse Lispector “O ovo e a galinha”*, no qual ela diz:O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. [...] Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer. Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida (LISPECTOR, 1998, p. 51-52).Como expressa Lispector (1998), o que é em essência potencialidade exige cuidado, zelo. O ser que porta a semente da revolução, do que nunca existiu no mundo, é a maior grandeza da cultura humana" (Cida Alves).
Vídeo: Facebook de Enio Verri
*LISPECTOR,
Clarice. O ovo e a galinha, In: Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro,
Rocco, 1999, 1ª edição, p. 51- 52).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)