A Capoeira, o Afoxê e toda a cultura ancestral da mamãe África está de luto por Mestre Moa do Katendê.
Um homem da paz e de fé que se preocupava com a formação cultural e humana das novas gerações, tanto que suas últimas palavras foram de compreensão e tolerância em relação ao homem que logo seria o seu cruel assassino. Reginaldo Rosário, irmão de Mestre Moa declarou que:“Moa ponderou que era negro [seu agressor] e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder”.Reginaldo Rosário, que também foi ferido, relatou ainda que a discussão começou após o agressor defender a candidatura de Bolsonaro e ouvir críticas do capoeirista. Após a discussão terminar, o agressor foi até sua casa e voltou com uma faca, golpeando covardemente Mestre Moa com 12 facadas pelas costas.
Romualdo Rosário da Costa (Mestre Moa do Katendê , 29 de outubro de 1954 – 8 de outubro de 2018), não festejará seus 64 anos, mas será sempre lembrado pelas mulheres e homens que amam a paz, a arte e a cultura. Caetano Veloso alude na letra de Beleza pura ao fato de "o moço lindo" ser um integrante do Afoxé Badauê, grupo do qual Romualdo foi um dos fundadores na década de 1970, em Salvador (BA).
Mestre Moa do Katendê ao lado
de grandes mestres capoeiristas
“Misteriosamente
O Badauê surgiu
Sua expressão cultural
O povo aplaudiu”
"Moço
lindo do Badauê
Beleza
Pura!
Do
Ilê-Aiê
Beleza
Pura!
Dinheiro
hié!
Beleza
Pura!
Dinheiro
não!...
Dentro
daquele turbante
Do
filho de Gandhi
É o
que há
Tudo é
chique demais
Tudo é
muito elegante"
Artistas e ativistas políticos lamentam o brutal assassinato de Mestre Moa do Katendê
“Moa do Catendê, a quem devo a revelação que foi ver e ouvir o grupo de pessoas na rua cantando "Misteriosamente o Badauê surgiu", foi morto a facadas por ter dito que votara em Haddad. O assassino, um bolsonarista apaixonado, foi encontrado quando tentava fugir. [...] Moa era meu amigo e foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador. Estou de luto por ele. Não olho redes sociais. Abri o Yahoo! pra chegar ao email e vi a foto de Moa, sorrindo, o que me fez parar, meio alegre de vê-lo, e ter a terrível notícia que contei aqui resumidamente. [...] Fundador do Badauê, compositor, mestre de capoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país” (Caetano Veloso).
"Que tempos são esses? Mestre Moa, meu maior respeito pelo senhor. Morreu lutando contra o que sempre lutou: a intolerância. Seguiremos aqui lutando sua boa luta. À família, meu abraço mais fraterno" (Daniela Mercury).
"Não, gente! capoeirista mestre Môa... assim morreremos todos um pouco a cada dia" (Fernanda Takai).
"A capoeira perde um grande mestre e eu perco vários amigos. Digo ‘vários’ porque ver um capoeirista apoiar um político declaradamente racista, pra mim, é pior que cair de cara no chão após uma rasteira alta. É preciso entender a história da arte. É preciso saber que pouco mudou e que, agora, o racismo saiu do armário e não tem vergonha de destilar o seu ódio. Por trás de interesses escusos, aí está a Casa Grande Senzala se armando novamente. Que a morte do mestre não seja em vão! E viva ‘seu’ Moa, agora mártir da nossa batalha" (Bruno Gagliasso).
"Mestre Moa, assassinado em Salvador, vítima do ódio e da violência que ganha estímulo e força com Bolsonaro! Não podemos permitir que o fascismo vença nas urnas. Moa Presente!" (Guilherme Boulos)."Já começaram. Puta que o pariu. Que pânico. Quem não tá enxergando que Bolsonaro vai legimitimar a barbárie não escapará da barbárie. [...] Um sujeito berrava Bolsonaro. Mestre Moa, 63 anos, disse que naquele lugar ‘preferiam o PT’. Tomou doze facadas. Nas costas. Morreu" (Gregório Duvivier).
Foto:
acervo do Portal Capoeira, do abc de velhos mestres da Capoeira, do Congo de
Ouro.
Fonte: Correio,
9 de outubro de 2018.
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