Senhor senador Renan
O senhor preside o Senado Federal da República e não apenas a facção que apoia o golpe e o governo interino usurpador.
Antes de me dirigir ao senhor
escrevi a dois senadores. Um deles parece ser meramente parte do senso
comum de torcedores, que se emocionam e até brigam por suas opções
esportivas e por seus times, mas não mudam o mundo. Suas lágrimas e
gritos passam e o mundo continua do mesmo jeito, injusto e socialmente
cruel.
O aludido senador era bom
jogador de futebol e até jogou pela Seleção Brasileira de Futebol. Fez
muitos gols que o consagraram. Não sei se fez algum gol contra.
No entanto, no Senado da
República optou por fazer o gol do golpe. Suas razões são as mesmas dos
mais reacionários e golpistas, que não pensam e não amam o Brasil.
Pensam em si e amam-se a si, tão somente.
Pessoas como esse senador até
são bem votadas e conduzidas ao poder, mas não pensam e não agem para
intervir na realidade, com as naturais perdas momentâneas e vitórias
para o povo. Flutuam sobre as ondas do momento e da opinião conjuntural,
sem análise e sem compromisso. São consumidoras de claques, não
militantes nem transformadoras do mundo. Buscam a posição que lhes renda
mais e as pessoas que lhes dão vantagens e cargos no poder. Se forem os
golpistas que mais lhes oferecem atrativos é ao seu lado que se postam,
ainda que de costas para o povo e para a democracia, que nunca ajudaram
a construir.
Pobre do senador e ex-jogador
que gosta de torcidas e de aplausos. O futuro, com sua omissão e seu
voto golpista, lhe dará lugar não nos campos de protagonismos, com
torcidas delirantes, mas a sarjeta da história, que em muitos lugares é
esgoto a céu aberto.
Escrevi para outro senador com o
objetivo de lhe pedir que votasse contra o golpe e a favor da
democracia, absolvendo a Presidenta Dilma, uma mulher honesta e honrada.
Não somente eu lhe escrevi, mas
muitos dos seus ex-alunos, ex-eleitores e até intelectuais brasileiros e
de outras partes do mundo.
Nada. O senador, como burro
atolado, a ninguém ouviu. Prefere negar seu passado como intelectual,
como procedente da ala progressista da Igreja Católica Romana e como
governador que deu ênfase à educação inclusiva e a programas sociais de
alto valor humano.
A tudo jogou fora para seguir
incólume rumo aos refugos da história. Mais lamentável, põe seus
assessores a caçar críticos nas redes sociais e sites para ameaçá-los de
processos. Rumar ao lixo como golpista não lhe é suficiente,
interessa-lhe pavimentar a senda dos alienados, os que negam o
intelectual pensante, para ser reconhecido como autoritário e
antidemocrático.
Agora me dirijo ao senhor.
Numa seção desta sexta feira 26
de agosto, o senhor se mostrou um homem assustado motivado por algo não
declarado, quando discursou como machista e indelicado com a senadora
Gleisi Hoffman. Acostumado a presidir seções conturbadas no Congresso
Nacional sem demonstrar irritação e sem perder a elegância e o sorriso
gentil, nessa o senhor comportou-se como um homem contrariado com uma
verdade dita pela senadora Gleisi de que o Senado não tem moral para
julgar a Presidenta Dilma. No seu descontrole o senhor se esqueceu dos
senadores investigados e muito próximos de serem condenados pela justiça
e que a opinião pública, através de pesquisa, dá apenas 9 % de
reconhecimento à casa que o senhor preside. O senhor mesmo já foi alvo
de processos e agora é investigado, senador Renan Calheiros.
Apesar disso tudo, o senhor é presidente do Senado da República do Brasil.
Venho, portanto, pedir ao senhor
que não se permita o futuro como traidor e golpista, trilhando os
caminhos do jogador “Maria vai com as outras” e do ex-intelectual e
ex-democrata, a quem escrevi.
O senhor terá a ampla opção que a
vida e a história lhe dão de escolher entre o caminho do golpe, seguido
pelos covardes, fisiologistas e oportunistas e o da coragem de
ingressar na história como o senador presidente que soube ser exemplo de
brilho democrático.
Inspire-se nos/nas
brasileiros/as cidadãos/ãs que moram e lutam em vários lugares do mundo,
que escreveram carta ao senhor e a todos/as os/as senadores e todas as senadoras a votar contra o golpe.
Motive-se com essa ideia da
carta dos/as signatários/as que valorizam e respeitam o Senado como
suporte e defesa da democracia: “Nós, brasileiras e brasileiros de todas
as regiões do País, residentes no exterior, em pleno exercício da nossa
cidadania, exigimos que o voto da maioria da população seja respeitado
no julgamento final do processo de impeachment contra a presidenta
eleita Dilma Rousseff. O Senado, como uma das instituições responsáveis
pela estabilidade democrática do País, tem o dever de fazer valer as
regras da democracia, que tão arduamente foi conquistada pelo povo – o
soberano nas decisões e rumos do nosso país” (releia aqui).
Beba e se fortaleça na história do Brasil para ser exemplo na decisão justa de votar
contra o golpe covarde. Recolho do grande brasileiro e ex-deputado
federal, o engenheiro Haroldo Lima, a lembrança da grandeza do gesto de
um senador presidente da mesma casa que o senhor preside, que tinha tudo
para trair o Brasil e sua classe trabalhadora, mas que teve
sensibilidade e grandeza para perceber o lado certo a seguir.
“Representando Pernambuco, eleito pela Arena, o senador Nilo Coelho
presidia o Senado em 1983. O governo ditatorial havia editado o Decreto
Lei 2024/83, por imposição do FMI, arrochando os salários. A 22 de
setembro do mesmo ano, uma sessão do Congresso preparava-se para
derrubar o dito decreto. Seria a primeira vez na história da ditadura
que isto aconteceria. Nilo Coelho, que era o presidente do PDS,
sucedâneo da Arena, e que presidia a sessão do Congresso, começou a
receber pressões para virar o jogo. De repente, anunciou que queria
fazer um pronunciamento e foi à tribuna, donde, enfático, declarou: “eu
não estou aqui como presidente do Congresso do PDS, mas sim como
presidente do Congresso do Brasil”. ‘Foi aclamado. E o Dec. 2014 foi
rejeitado’ (leia todo o artigo aqui).
Convido-o, senador Renan, a ser
aclamado pelo povo brasileiro e a ser respeitado historicamente como o
presidente do Senado que em 2016 soube ser corajoso, sensível com a
verdade e honesto com a democracia. Vote contra o impeachment e o golpe.
Some-se à democracia.
Solicite para votar primeiro
para dar o exemplo que influenciará a todos/as e emocionará o Brasil.
Daí em diante prepare-se para os novos desafios que o futuro lhe
garantirá. Do contrário nada espere se não a tristeza e o desprezo do
povo brasileiro.
Alimente-se na
profecia de mais um brasileiro e intelectual que a libertação nacional
resgatou das prisões para ajudar o Brasil nessa hora difícil. Hamilton
Pereira da Silva, o Pedro Tierra, poeta, militante e sobrevivente da
furiosa ditadura civil-militar, numa entrevista na qual analisa a
cruzada tenebrosa que todos fazemos, foi direto ao ponto da crise
massificada pelo golpe contra a democracia, quando disse: “Temos que
preparar a sociedade brasileira para grandes campanhas de desobediência
civil. Acho que nós temos que começar a fazer isso…” (aqui).
Hamilton se refere ao caso de passar o impeachment, que culpa a Presidenta Dilma de crimes que ela não cometeu.
A desobediência civil em todos
os setores somente crescerá. À medida que a sociedade se conscientizar
de que foi enganada e usada como massa de manobra por um grupo sem votos
e sem democracia, para dar um golpe de Estado, a onda de inconformidade
e desobediência civil crescerá.
Descobrirá que não haverá nenhuma razão para obedecer um falso presidente que emergiria da traição e da desonestidade política.
Senadores e senadoras que votarem no impeachment optarão pela desobediência civil, pelos choques e conflitos sem proporções, com perdas para todo o País.
A prudência e a sabedoria pedem
que o senhor vote pela democracia e contra o golpe. O bom senso grita
para que o senhor faça a sua voz ecoar por todo o Brasil abençoando a
Constituição e defendendo o direito dos cidadãos e cidadãs, respeitando
os cinquenta e quatro e meio milhões de brasileiros que votaram em Dilma
Rousseff para que ela executasse um programa inclusivo e socialmente
mais justo do que o que o golpismo apresenta ao Brasil.
Diante do senhor, na hora de
optar entre o impeachment e a democracia, se postarão, um de cada lado,
dois ex-presidentes do Senado. Um será o senador Auro de Moura Andrade,
notório mentiroso, golpista e assassino da democracia, que na madrugada
de 2 de abril de 1964 declarou que o cargo de presidente da República
estava vago, dando inicio oficial, a partir desta casa do povo, ao golpe
militar que sangrou e cuspiu na Constituição e matou milhares de
brasileiros, abrindo caminhos para o terror e para entrega do Brasil aos
interesses imperialistas.
Com diferença de sua trajetória
democrática, estará de seu outro lado, em sua consciência, outro
ex-presidente do Senado, já mencionado acima. Nilo Coelho, por momentos,
desamarrou-se das correntes da ditadura e votou a favor do Brasil,
derrotando o projeto de lei do Fundo Monetário Internacional, cujo
receituário apresentava o cardápio do arrocho, do desemprego e de
miséria para os trabalhadores.
Eu e milhões de brasileiros/as
nos postaremos, muitos de nós à frente do Senado, e diante da TV Senado
com áudio e imagens para todo o território nacional para chorarmos de
emoção com sua honradez por votar na democracia ou nos decepcionarmos
com mais um traidor que será parte da escumalha do universo.
Venha para a democracia, senador
Renan Calheiros. Nós o esperamos de braços abertos para que o senhor
seja para sempre nosso irmão prestigiado e honrado!
- Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
- Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário, trabalhando duro sem explorar ninguém.
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