Por
Intervozes em
Nesta
segunda-feira (10/04), depois de ampla mobilização do movimento feminista nas
redes sociais, de diversas denúncias feitas pelo Disque 180 e da atuação da
Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro, a Rede Globo decidiu expulsar da edição
17 do Big Brother Brasil o participante Marcos Harter. A conclusão da
emissora, após consulta a especialistas – como explicou o apresentador Tiago
Leifert – foi a de que a participante Emilly Araújo foi vítima de agressão
física na madrugada deste domingo (09), após uma das festas do programa.
Diante
do ocorrido e em função do nosso compromisso com a defesa dos direitos das
mulheres nos meios de comunicação de massa, a Rede Mulher e Mídia – articulação
que reúne dezenas de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e
centenas de ativistas de todo o país – vem a público manifestar sua indignação
e repúdio diante da postura da Rede Globo. Ao contrário do que a produção do
programa tenta fazer o público acreditar, a emissora não agiu imediatamente
para garantir a integridade de Emilly, muito menos para combater a violência
dentro da “casa do BBB”.
Quem
acompanhou o programa viu, mesmo com as edições do conteúdo registrado, que a
estudante, de 20 anos, foi vítima de inúmeras e diversas formas de violência,
caracterizadas pela Lei Maria da Penha. A lei, em vigor desde 2006 no país,
estabelece como tipos de violência contra a mulher a psicológica, a sexual, a
patrimonial e a moral. E determina, em seu artigo 8o, inciso III, “o
respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da
pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem
ou exacerbem a violência doméstica e familiar”.
Ao
longo desta edição do BBB, as cenas exibidas pela Rede Globo na TV aberta já
vinham mostrando a repetição e o agravamento de uma postura agressiva e
machista por parte de Marcos, marcada por gritos, ameaças e violência
psicológica, atitudes que caracterizam claramente um relacionamento abusivo,
enquadrados como crime na legislação vigente. As agressões não se limitaram à
Emilly, parceira de Marcos no programa. Em outras ocasiões, o médico agrediu
verbalmente outras participantes. Outras cenas também mostraram situações de
violência contra a mulher envolvendo os demais integrantes da casa.
Tais
episódios seriam motivos mais do que suficientes para que a emissora agisse e
impedisse que a violência se naturalizasse naquele ambiente de confinamento.
Mas não. Em vez de cumprir com a finalidade educativa de uma concessão pública
de televisão, conforme dispõe a Constituição Federal, a Rede Globo, em busca de
manter a audiência do programa e supostamente entreter os telespectadores com
as brigas do casal, optou por aproveitar do sensacionalismo e das posturas
inquestionavelmente abusadoras e agressivas do participante.
Mesmo
alegando que alertava o casal sobre as agressões mútuas, a emissora permitiu
que Emilly seguisse submetida a toda sorte de constrangimento, decorrente da
exposição pública de sua imagem e da convivência com seu agressor. Marcos Harter
não foi punido pela violência psicológica a que submeteu, dia após dia, sua
colega de programa; só foi expulso do BBB depois que uma lesão física foi
comprovada. Ou seja, além de transmitir uma ideia de permissividade diante de
agressões – o que as legitima e perpetua –, este triste episódio faz crer que,
para o Grupo Globo, a violência contra a mulher é tão somente circunscrita à
violência física.
Necessário
lembrar que não é a primeira vez que assistimos a casos de violência contra a
mulher no Big Brother Brasil. Na edição veiculada em 2012, a Rede Mulher
e Mídia chegou a enviar representação ao Ministério Público Federal pedindo a
responsabilização da Rede Globo diante de um caso de violência sexual. Na
ocasião, uma das participantes foi vítima de estupro presumido quando,
embriagada e dormindo, teve a dignidade de seu corpo violada por outro
participante.
Infelizmente,
cinco anos depois, fica explícito que as condições a que os e as participantes
do Big Brother Brasil são submetidas e as “regras do jogo” definidas
pela Rede Globo estão longe de respeitar os princípios constitucionais
previstos para o serviço de radiodifusão no país.
A
agressão a que foi submetida Emilly diz respeito não só a ela, nem às demais
participantes confinadas nessa edição do reality. Trata-se de mais uma
agressão a todas nós, que assistimos, doloridas, à principal emissora de TV do
Brasil explorar comercialmente uma situação que, cotidianamente, oprime,
violenta e mata milhares de mulheres. Numa sociedade em que uma mulher é agredida
a cada 5 minutos, aproveitar-se de uma situação de violência para acumular
índices de audiência, até o ponto em que uma agressão física chega a ser
praticada de fato, é, para nós, mais que omissão. É cumplicidade.
Sendo
assim, uma vez mais, solicitamos que o Ministério Público Federal analise o
caso em questão e, além das providências que a Delegacia da Mulher do Rio de
Janeiro já está tomando, envolvendo Emilly e Marcos, avalie a responsabilidade
da Rede Globo em silenciar durante semanas sobre a violência praticada diante e
transmitida por suas câmeras.
Rede
Mulher e Mídia
Rio de Janeiro, 11 de abril de 2017
Rio de Janeiro, 11 de abril de 2017
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