Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
NEGRO HOMEM,
NEGRA POESIA
Me basta mesmo
Essa coragem suicida
De erguer a cabeça
E ser um negro
Vinte e quatro horas por dia.
(Diariamente)
Tou contigo seu Zé!
Teu papo de corimba
Protegendo invisível da rua,
Porque da lua somos,
Fico mais na minha.
Qual é a tua pilantra?!
Vamos nessa, nesse verso,
Vai dar pé.
Tou contigo seu Zé!
(Pro seu Zé)
Falando de nós dois, proibidos
Dentro dos dias normais,
E deste gosto de desespero
Que esqueço no próximo
Gole de cachaça,
Para agüentar a desgraça
Até poder estar com você
Negra negra.
(Para uma mulher)
Cansei de ser o animal amestrado
que Vocês esperam.
Afinal já são noventa e um anos
de Farsa.
Vou expor o gosto das tramas!
Estarei em cada gueto,
No grito de rebeldia,
Em cada beco,
No atrevimento de mudar no papel
Os versos dos poetas.
(Consciência)
Queria ver você negro,
Negro queria te ver,
Se Palmares ainda vivesse,
Em Palmares queria viver.
O ódio do feitor é pegajoso,
Fecundo...
Ele pode emprenhar
Até as mentes mais estéreis
Com seu pênis de chicote.
Já pensou naquele país
Da serra da Barriga?
Sei que talvez não!
Uma terra onde não fosse possível
ver
Uma negra ter que mostrar a
bunda,
Abrir as coxas, tirar das
entranhas
O pão de cada dia.
Por menos que conte a história
Não te esqueço meu povo,
Se Palmares não existe mais,
Faremos Palmares de novo!
_______
José Carlos Limeira
“Temas e sentimentos sustentados pela constante busca do código poético que melhor lhe traduza, ao modo belicamente praticado por Lima Barreto, José Carlos Limeira rejeita o fascismo do colonialismo literário brasileiro. Escreve bem. Escreve de peito aberto. Escreve em primeira pessoa” (Nelson Maca).
Novos valores da POESIA NEGRA
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