“O que se viu foi um verdadeiro
espetáculo de horror.
Depois de perderem uma proposta, militares agrediram
verbalmente professores e estudantes, chamando-os — mais uma vez — de
“vagabundos”.
Nas votações subsequentes, intimidaram-nos fazendo
pessoalmente a contagem dos votos e filmando, fotografando e olhando de modo
ameaçador cada um que votava contra a posição deles.
Ao longo da noite, a comunidade acadêmica correu sérios
riscos.
Foi aprovada a supressão de qualquer referência a direitos
humanos no plano estadual; foi eliminado o item que obrigava o Estado a
garantir a permanência e combater a evasão escolar das minorias; foi suprimida
a obrigação de formar agentes de segurança pública com base nos princípios dos
direitos humanos.
Apesar do temor, a comunidade acadêmica resistiu
pacificamente”.
__________
NOTA DE
REPÚDIO
Manifestamos nosso mais profundo repúdio ao que ocorreu na
Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, na noite de 11 de
agosto de 2017, durante a Audiência Pública convocada pelo Conselho Estadual da
Condição Humana para discutir o texto do Plano Estadual de Educação em Direitos
Humanos de São Paulo.
Desde às 18h o campus foi ocupado por policiais, muitos fardados
e inicialmente armados (foi exigido que guardassem as armas).
A
calçada do portão principal ficou abarrotada de viaturas da Polícia Militar.
A
comunidade acadêmica que ali se encontrava para as atividades diárias tinha
pouca informação a respeito e ficou estarrecida quando soube que se tratava de
uma audiência em que seriam definidos os rumos da educação em direitos humanos
e, mais ainda, quando compreendeu que os policiais militares (que a esta altura
chegavam a quase cem) defendiam a proposta de eliminar conteúdos fundamentais à
educação pública.
Estes
bradavam por “direitos humanos aos humanos direitos”, “mudar a nomenclatura
Ditadura Militar de 1964 para Revolução de 1964”, “retirar a discussão de
gênero nas escolas”, etc
Professores,
técnicos e estudantes que estavam no campus, após tomarem conhecimento do que
ocorria, decidiram participar da audiência e foram hostilizados pela tropa, que
tentou impedir que votassem, sob o argumento de que não estavam lá desde o
início.
Houve
até gritos de “vagabundos”.
Se
fazem isso contra quem estava no próprio espaço de trabalho e estudo (muitos
descendo da sala de aula), o que não farão com pessoas mais vulneráveis em um
país com cerca de treze milhões de desempregados?
Estudantes
e professores que se manifestaram pacificamente com cartazes em defesa da
Escola Pública e dos Diretos Humanos também foram hostilizados.
Ouviram-se
frase macabras, como “Depois morre e não sabe o porquê!” ou “Quando precisarem
da polícia, chamem o Batman”.
Além
disso, um grupo de militares e seus apoiadores começou a fazer cartazes com
“Bolsonaro 2018”, “Liberdade sem libertinagem”, “Pode confiar #”.
Situação
preocupante em que os que defendem a “escola sem partido” partidarizam sua
atuação portando as vestes e as insígnias de uma corporação militar.
Ainda
mais lamentável: a alta patente fardada nada fez para controlar seus
subordinados que, aliás, quase agrediram fisicamente algumas docentes e
estudantes.
Feita
a leitura do texto-base do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de
São Paulo, começou a “votação”.
O
que se viu foi um verdadeiro espetáculo de horror.
Depois
de perderem uma proposta, militares agrediram verbalmente professores e
estudantes, chamando-os — mais uma vez — de “vagabundos”.
Nas
votações subsequentes, intimidaram-nos fazendo pessoalmente a contagem dos
votos e filmando, fotografando e olhando de modo ameaçador cada um que votava
contra a posição deles.
Ao
longo da noite, a comunidade acadêmica correu sérios riscos.
Foi
aprovada a supressão de qualquer referência a direitos humanos no plano
estadual; foi eliminado o item que obrigava o Estado a garantir a permanência e
combater a evasão escolar das minorias; foi suprimida a obrigação de formar
agentes de segurança pública com base nos princípios dos direitos humanos.
Apesar
do temor, a comunidade acadêmica resistiu pacificamente.
Externamos
nossa forte preocupação com quem pretende, na base do grito, se sobrepor à
produção de conhecimentos, à liberdade de pesquisa, à democracia e à autonomia
universitária.
A
Adunifesp-SSind entende que este ato abusivo e autoritário se insere num
movimento maior de ataques à democracia e aos direitos humanos em curso em nosso
país.
Também
o fato de que ele tenha ocorrido dentro da Unifesp escancara o processo de
demonização e ataque às Universidades Públicas que é impetrado hoje em dia por
setores reacionários da sociedade.
Por
fim, repudiamos veementemente o modo como ocorreu a votação e solicitamos que o
Conselho Estadual da Condição Humana desconsidere o resultado desta “consulta”.
Queremos
esclarecimentos sobre a utilização do espaço da Universidade Federal de São
Paulo para episódios desta natureza.
Manifestamos
nossa preocupação com a integridade física dos professores, técnicos e
estudantes que ali defendiam o ensino público e de qualidade, a escola sem
mordaça, a permanência dos direitos humanos como princípio norteador da
educação.
Exigimos
que as chamadas autoridades competentes manifestem posição urgente e clara
sobre o ocorrido, especialmente no tocante às relações entre disciplina da
tropa e Estado de direito.
ADUNIFESP – SSind
Fonte: Viomundo, 13 de agosto de 2017.
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