É preciso criar meninos que se tornem homens que saibam que esposas e filhos não são seus objetos, que eles não são donos dos seus corpos e de sua vida. É urgente que eles saibam, desde cedo, que podem expressar seus sentimentos de outras formas, que é permitido chorar, que pedir ajuda é essencial e que precisam aprender a lidar com os 'nãos' vida.Precisamos criar meninos que saibam perder e errar sem precisar agir com brutalidade. Precisamos desconstruir essa criação de meninos que se baseia em banalizar o bater, o lutar, as agressões. Brutalidade não é 'coisa de menino' . É coisa de agressor. Que aprendam os meninos de hoje para que não se tornem os futuros agressores e assassinos.
________________
Um marido desempregado entrou em desespero e matou sua mulher e seus filhos na Barra da Tijuca, RJ.
Outro pai matou os filhos de 3 e 4
anos e deixou uma
carta alegando que o "componente infidelidade" foi a motivação do
crime. Um ex-marido matou a
filha de 7 anos e feriu a ex-mulher porque, segundo familiares, não
aceitou o fim do relacionamento. Outro é suspeito de matar filha
de 5 anos na Tijuca e
a notícia diz que ele teria tido um surto por estar desempregado.
Todas
essas notícias têm algo em comum: esses homens decidiram quem viveria, quem morreria
e quem sofreria ou não por conta das mortes. Os três agiram como se fossem
deuses soberanos que decidem sobre a vida alheia, sobretudo de suas mulheres e
filhos. Homens sufocam, jogam do prédio, esfaqueiam e atiram em seus filhos e
suas mulheres porque sentem-se donos deles. Mães e filhos são tratados como
meros objetos comprados e mantidos financeiramente por eles e acham que podem,
a qualquer momento, descartar as pecinhas do seu jogo.
Analisando
as notícias, o homem é posto num local seguro que o torna vítima:
"desempregado entra em desespero" e "ele teve um surto" são
exemplos categóricos da naturalização de crimes contra mulheres e seus filhos.
Homens que cometem crimes para punir mulheres são descriminalizados pela
sociedade por conta do seu "desespero", da sua "loucura" e
das suas "paixões". Por outro lado, a mulher - vítima - aparece no
papel de vilã: "infiel", "rompeu o relacionamento",
"brigava com ele".
Homens que
cometem essas barbaridades não são dignos, bons pais de família, deprimidos ou
preocupados com o futuro da família. Eles são apenas assassinos misóginos,
objetificadores e machistas cuja dignidade é tão frágil quanto a vida. É
importante entender que romantizar esses crimes é validar o machismo legitimar
a violência contra mulheres.
É preciso
criar meninos que se tornem homens que saibam que esposas e filhos não são seus
objetos, que eles não são donos dos seus corpos e de sua vida. É urgente que
eles saibam, desde cedo, que podem expressar seus sentimentos de outras formas,
que é permitido chorar, que pedir ajuda é essencial e que precisam aprender a
lidar com os "nãos" da vida.
Precisamos
criar meninos que saibam perder e errar sem precisar agir com brutalidade.
Precisamos desconstruir essa criação de meninos que se baseia em banalizar o
bater, o lutar, as agressões. Brutalidade não é "coisa de menino". É
coisa de agressor. Que aprendam os meninos de hoje para que não se tornem os
futuros agressores e assassinos.
Fonte: Brasil Post, em 26 de outubro de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)