19 de ago. de 2020

A educação do Não #Bloconãoénão #GravidezAos10Mata














A educação do Não!


Contrapondo-se à divulgação das violências sexuais que vinham sendo praticadas há mais de quatro anos contra uma menina de 10 anos, do Espírito Santo, que resultaram na sua gravidez; e cobrando da Justiça a garantia do acesso dessa criança aos procedimentos médicos para a realização de um aborto legal, há muitas décadas previstos em lei, o Bloco Não é Não, de Goiânia, Goiás, produziu e publicou às pressas nas redes sociais um vídeo com a participação de algumas integrantes, mostrando sua indignação e exigindo um fim ao sofrimento daquela menina: "Parem de fazer essa menina sofrer!"


Nas redes sociais apareceram muitos comentários de mulheres e homens indignados com o sofrimento da criança que foi estuprada pelo tio, dos 6 aos 10 anos. Algumas dessas mulheres e mesmo alguns homens propuseram até a castração dos autores de tais violências. Reconhecemos e acolhemos a indignação. Ela é justa! Entretanto, é nosso dever esclarecer que essa medida não resolve.


Aproveitamos para convidar todos e todas que sentiram empatia autêntica pelo sofrimento da criança capixaba que venham participar de nossa luta diária e sem fim para que as meninas, meninos e mulheres vivam livres de violências sexuais. A raiva, a indignação, a revolta e a tristeza são sentimentos que demonstram que não somos indiferentes à dor de uma criança.


“O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença", há tempos diz Érico Veríssimo. Nos afetarmos com o sofrimento do outro é o princípio, depois vem o verbo, a palavra que nomeia e delata a todas as crueldades. Homens e mulheres de afetos, palavras e atos, assim os queremos em nossa luta ancestral por respeito, valorização, autonomia e felicidade. A palavra é a maior obra civilizatória construída pela humanidade, mas são os atos que salvam o mundo.
E vocês - homens e mulheres, mas principalmente os homens que querem nos ajudar a acabar com essa nódoa que lhes está sendo impregnada na história da humanidade - sugerimos que comecem com atos simples e diários:


1. Fortaleçam a autoestima das crianças e das mulheres.
2. Encorajem as crianças e as mulheres a exercerem a autonomia de seus desejos, respeitem-nas e as apoiem quando elas dizerem NÃO.
3. Reconheçam e valorizem, nas meninas e mulheres, qualidades que não se restrinjam apenas a padrões de beleza.
4. Não reprimam a agressividade das crianças e das mulheres, agressividade é uma potência que, bem desenvolvida, estará sempre a serviço da auto defesa delas.
5. Não incentivem a obediência cega. É importante que as crianças e as mulheres entendam que há ordens que necessitam serem desobedecidas. É amoral obedecer a ordens que podem ferir a integridade física, psicológica e moral da própria menina, mulher ou de outra pessoa. Não podemos obedecer a ordens injustas!
6. Ensinem, desde muito cedo, às crianças o conceito de consentimento. O corpo do outro não pode ser tocado sem consentimento. E isso você faz no cuidado diário de seus filhos, filhas, sobrinhos, sobrinhas, netos e netas. Expliquem que toda criança só pode ser tocada nas suas partes íntimas quando é para a higiene e cuidado em saúde.
7. Apoiem a educação sexual nas escolas e as iniciativas públicas (governamentais ou não-governamentais) que democratizem conhecimentos sobre as fases do desenvolvimento infantil e a saúde sexual. Existe uma correlação significativa entre conhecimento sobre o próprio corpo e a capacidade de autodefesa contra situações de violências sexuais.
8. Estimulem meninos e homens a expressarem seus sentimentos quando vivencia situações de perdas ou frustrações.
9. Ensinem aos meninos que é natural um homem se sentir vulnerável. Que ele não precisa ser forte o tempo todo e não tem que ganhar sempre!
10. Ensinem aos meninos e aos homens que as meninas e mulheres são donas de seus corpos e desejos, que elas não são posses de ninguém e que é normal levar um fora! Faz parte da vida.
11. Protejam os corpos e as mentes das crianças da erotização precoce. Criança não namora.
12. Não atribua à condição masculina valores de supremacia e controle sobre o outro.
13. Parem de tocar o pênis dos meninos e dizer palavras de conteúdo sexual ou machistas, tais como “Deixa de ser mole! Você parece uma menininha!"; “Esse daí vai pegar todas!”; “Mostra quem manda!”, dentre outras.
14. A identidade masculina não deve ser associada a valores violentos.
15. Homem não é máquina de sexo. Como as mulheres, eles podem aprender a lidar com a sua libido, sua potência sexual. A capacidade de expressão e autocontrole da libido (desejo e energia sexual) é um bom indicador de saúde sexual.
16. Manifestem contra discursos ou práticas machistas e misóginas de outros homens.
17. Parem de compartilhar e consumir imagens ou produtos que objetificam crianças e mulheres!
18. Ofereçam ajuda a uma criança e a uma mulher que esteja sendo importunada ou assediada sexualmente.
19. Acreditem na palavra das crianças e das mulheres!
20. Denunciem as violências sexuais contra crianças e mulheres. Não se omita!
21. Ensinem aos filhos que "não" é "não". Tem que se respeitar a vontade da mulher. Se ela aceita um beijo, um abraço, uma transa, tudo bem! Mas se ela diz "Não", é Não! E se isso não for respeitado, é assédio sexual, violência, estupro! É crime!
22. Amem de verdade as crianças e as mulheres: mães, irmãs, sobrinhas, filhas e netas. Amem porque são seres humanos e não porque possuem laços de sangue. Assim, vocês compreenderão o sentido do amor para todas as mulheres!


Goiânia, 19 de agosto de 2020
BLOCO NÃO É NÃO
  

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