29 de ago. de 2020

Sam Cooke - A Change Is Gonna Come


I was born by the river in a little tent
Oh, and just like the river I’ve been a-runnin’ ever since.
It’s been a long, a long time comin’,
but I know, oh-oo-oh,
a change gon’ come, oh yes, it will.

It’s been too hard living but I’m afraid to die
‘Cause I don’t know what’s up there beyond the sky
It’s been a long, a long time comin’,
But I know, oh-oo-oh,
A change gonna come, oh yes, it will.

I go to the movie and I go downtown
Somebody keep tellin’ me don’t hang around.
It’s been a long, a long time coming, but I know, oh-oo-oh,
A change gon’ come, oh yes, it will.

Then I go, oh-oo-oh, to my brother and I say, brother, help me please.
But he winds up knocking me back down on my knees, oh.

There’ve been times that I thought I couldn’t last for long
But now I think I’m able to carry on
It’s been a long, a long time comin’,
But I know, oh-oo-oh, a change gonna come, oh yes, it will.




Uma mudança virá


Eu nasci nas proximidades de um rio, em uma pequena cabana
E, como aquele rio, eu corro desde então
Tem sido um longo tempo, longo tempo esperando
Mas eu sei que uma mudança virá, sim, ela virá
Foi também difícil viver e eu estou com medo de morrer
Eu não sei o que acontece do lado de lá, além do céu
Tem sido um longo tempo, longo tempo esperando
Mas eu sei que uma mudança virá, sim, ela virá
Eu vou ao cinema e vou ao centro da cidade
Lá todos me param e dizem: “não fique à toa por aí”
Tem sido um longo tempo, longo tempo esperando
Mas eu sei que uma mudança virá, sim, ela virá
Então, eu vou ao meu irmão
E digo “irmão, por favor, me ajude”
Mas ele apenas conclui, me criticando
“Desista”
Algumas vezes pensei que eu não aguentaria por muito mais tempo
Mas agora eu acho que estou pronto para enfrentar isso
Tem sido um longo tempo, longo tempo esperando
Mas eu sei que uma mudança virá, sim, ela virá


Sam Cooke

 

21 de ago. de 2020

Los mundos sutiles - Antonio Machado por Eduardo Chapero-Jackson


“yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón”.

Antonio Machado




Imprescindibles - Los mundos sutiles, Antonio Machado – Película completa


 

O direito de ser criança roubado pela violência sexual e pelo medo - Maris Assis, Diário da Manhã

 

Presentes, balões e mensagens de anônimos foram entregues no hospital onde menina de 10 anos ficou internada. Imagem: Carlos Ezequiel Vannoni/Estadão Conteúdo


O bom de ser criança é ter a leveza nos pensamentos, a diversão na mente e um sorriso presente. É ter a oportunidade de crescer ouvindo histórias, cultivando sonhos e momentos, preocupando apenas com os ralados nos joelhos. Tudo isso recebendo muito amor, educação, cuidado, carinho e principalmente respeito. Entretanto, a realidade é que muitas crianças perdem de maneira muito precoce o direito de serem crianças. Em muitos casos, por serem vítimas de violência sexual.

O caso da capixaba de 10 anos, que chocou o país, é um exemplo. A menina do Espírito Santos, viu sua infância ser impedida aos 6 anos quando a pessoa que ela tratava como tio começou a abusar sexualmente dela. Os abusos, por conta das ameaças que eram feitas por ele, duraram até a última semana quando, após o teste de gravidez feito por exame de sangue dar positivo, a criança confessou a violência sexual que era submetida à assistente social e ao médico que acompanharam o caso.

Casos como o dela são recorrentes em nosso país. De acordo com o anuário brasileiro de segurança pública de 2019, a cada hora quatro meninas de até 13 anos são vítimas de violência sexual no Brasil. Além disso, segundo dados oficiais do país, seis meninas, com faixa etária de 10 a 14 anos, que engravidaram após serem estupradas, são internadas diariamente para fazerem aborto no território nacional. Dados tabulados pela BBC news Brasil, no sistema de informações hospitalares do SUS, mostram que 642 internações foram registradas só em 2020.  

Ademais, dados do relatório do disque 100 de 2019 mostram que tanto a Negligência como a Violência Sexual são cometidas, na maioria dos casos, na casa da vítima (56% e 45%, respectivamente) ou na casa do suspeito (19% e 28%, respectivamente). Na violação com negligência, a mãe figura como a suspeita em 56% das denúncias. Nos casos de Violência Sexual, pais e padrastos representam 40% dos suspeitos. Isso significa que a maioria das crianças e adolescentes no Brasil sofrem esse tipo de violência dentro da própria casa, por pessoas pelo qual possuem vínculos afetivos.

Essas informações apresentadas representam a realidade de muitas crianças e adolescentes no Brasil, como gera muitas dúvidas a população brasileira. Por que muitas crianças omitem a violência sexual? Como ela é conduzida nesses tipos de caso? O que a lei fala? Como prevenir esse tipo de situação? Como denunciar? Esses são alguns dos vários questionamentos que são feitos diariamente.

A causa da omissão por ser vítima de violência sexual; é o medo

A menina do Espírito Santo tinha 10 anos quando decidiu contar a violência que vivenciava desde os 6 anos. O motivo segundo ela era as ameaças que eram proferidas pelo tio, cujo dizia que caso a criança contasse a alguém, ele mataria o avô dela. O medo é um dos principais motivos para uma vítima não denunciar o caso de abuso sexual.

Raiane dos Santos, de 24 anos, relembra momentos dolorosos de quando sofria abuso pelo próprio padrasto. “Eu tinha cinco anos de idade e morava na roça com a minha avó. Meu padrasto tinha muito ciúmes de mim e eu chamava o de pai. Um dia ele chegou de uma viagem e eu lembro como se fosse a primeira vez do primeiro toque. Eu estava dormindo e eu senti uma mão fria sobre o meu corpo. A cena até hoje eu lembro e dá vontade de vomitar, me dá raiva, enjoo ”, relata Raiane que foi vítima de abuso sexual durante anos pela pessoa que ela considerava como pai. A jovem ainda conta que o medo de perder quem mais amava era o principal motivo para não denunciar. “Os abusos foram acontecendo com frequência e quando eu falava que eu ia denunciar, falar pra minha vó, ele falava que ia me matar e matar todo mundo quando estivesse dormindo. Aquilo eu tinha muito medo! ”.

Os abusos constantes faziam com que Raiane fosse uma criança diferente, instável. “Na sala de aula eu era inquieta. Nunca tinha amizade com ninguém, tinha dia que eu chegava sorrindo, tinha dia que eu tava chorando. Do nada eu começava a chorar e eu chorava porque pensava -meu Deus! Quando chegar em casa será a mesma coisa! ”, diz a jovem.

Cida Alves, psicóloga e doutora em educação, trabalha com o acompanhamento de vítimas de violência na saúde pública de Goiânia há 23 anos. A psicóloga comenta que o caso de Raiane é uma história que se repete entre muitas crianças e demonstra aversão ao questionamento do porque as vítimas não contaram antes.

Cida comenta sobre um dos casos marcantes que passaram por ela durante os 23 anos de atuação. Ela conta sobre o caso de duas garotas que vieram da Bahia e que foram abusadas sistematicamente pelo padrasto. “Elas eram pequenininhas e de uma inteligência enorme!” , relembra a psicóloga. As meninas relataram que eram ameaçadas e violadas constantemente pelo padrasto. “Olha, não conta pra ninguém não! Se vocês contarem, eu mato a mãe de vocês!” , ameaçava o autor.

“Elas suportaram aquilo morrendo de medo de que a ameaça fosse cumprida, até que um dia elas não conseguiram suportar tanta dor e contaram. O padrasto matou a mãe com várias facadas. ”, afirma Cida. Com isso, a psicóloga enfatiza a importância de as pessoas pararem de questionar o porquê das crianças não contarem antes. “As crianças não contaram antes porque estão com medo, porque são ameaçadas, porque estão confusas, porque geralmente quem as abusa são pessoas ligadas a própria família, pessoas que muitas vezes são aquelas que mantém a casa, que cuida da família, e elas sabem do peso que terão se elas saírem desse cenário. ”, explica a profissional.  

A justiça pela criança

Mayara Batista Braga, Defensora Pública do Núcleo de Defensoria Pública Especializadas em Infância e Juventude de Goiânia há 3 anos, explica ao Diário da Manhã como funciona o processo jurídico diante ao caso de violência contra crianças e adolescentes. “Quando a gente trabalha nessa perspectiva de atendimento à criança vítima de violência, sendo ela como um todo, a gente fala que existe várias pautas de entrada ”, explica a Mayara.

Ela esclarece que a denúncia pode chegar através da Defensoria Pública, conselho tutelar, pela escola que muitas vezes identifica os sinais de violência sendo ela física ou sexual, pelo Disk 100 que é o canal de denúncias anônimas, e pela Polícia Militar. “Existem vários órgãos dentro dessa rede de Sistema dos Direitos e Garantias da Criança e Adolescente, em que todos esses podem ser a porta de entrada para a criança junto com a família vai procurar”, diz a defensora.

Mayara explica que logo após, a justiça percorre a situação em dois eixos: a de responsabilização do agressor e o eixo de proteção da vítima. Para a defensora, o grande desafio é conseguir dialogar entre os órgãos e conseguir estabelecer um fluxo único para que a criança receba um atendimento especializado integral, sendo que para isso ela precisa de um atendimento especializado a um centro de saúde para as devidas precauções como risco de morte, gravidez, doenças. A partir disso, ela é encaminhada para a delegacia para registro de ocorrência, realizar o corpo de delito sobre o acompanhamento da assistente social que passa a observar a criança e a família para verificar se o âmbito familiar é considerável para o bem-estar daquela criança.

A defensora afirma que toda essa situação pode ser bastante dolorosa para a criança e que, para tentar amenizar essa situação, cabe a justiça seguir todos os procedimentos estabelecidos pela Lei n° 13.431/7, de 4 de abril de 2017 onde está determinado nos artigos 7º e 10º respectivamente, que a escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade e que a escuta o depoimento especial têm que ser realizados em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência.

No demais, Mayara comenta a importância de todo o processo ser mantido em sigilo, protegendo a integridade moral e física da criança como rege o artigo 2° das disposições gerais da Lei n° 13.431/7 –  “A criança e o adolescente gozam dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhes asseguradas a proteção integral e as oportunidades e facilidades para viver sem violência e preservar sua saúde física e mental e seu desenvolvimento moral, intelectual e social, e gozam de direitos específicos à sua condição de vítima ou testemunha.”

A psicóloga Cida Alves comenta também sobre a importância de haver um sigilo. Para ela, a partir do momento que terceiros ficam sabendo do caso da vítima, a sociedade passa a enxerga-la somente como uma vítima. “Quanto mais pessoas ficam sabendo, mais ela passa ser tratada a partir daquela experiência”, afirma a profissional. Ela alega que a criança pode ficar ainda mais constrangida perante a essa situação que lhe foi imposta.

A criança e o direito à vida

A partir do momento que uma criança é vítima de abuso sexual, ela já corre um grande risco de vida devido às complicações que tal ato pode ocasionar fisicamente. Quando a criança engravida, ela corre um risco ainda maior, afinal, biologicamente falando a criança não tem condições físicas e muitos menos psicológica para manter uma gravidez por um período de 9 meses.

A Constituição Federal brasileira permite o aborto em três casos. Quando há má formação do feto, risco de vida à gestante e em casos de violência sexual.

A criança vítima de abuso no caso, segundo informações de profissionais da saúde e perante a justiça, se encaixa em duas situações: risco de vida e violência sexual.

Art 227 da Constituição ordena que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Com base nisso, a pessoa que estiver contra e proliferar o ódio, o desrespeito e a ofensa à criança e ao adolescente em qualquer situação, deve estar ciente que está cometendo um crime constitucional e que o comportamento pode sujeitar a punições judiciárias.

A importância da família e da educação para a prevenção do abuso sexual

Para a Psicóloga Cida Alves, ter um bom vínculo familiar é essencial para medidas protetivas contra o abuso sexual infantil. Segundo ela, estabelecer um vínculo de confiança entre pais e filhos é importante para que a criança tenha segurança de que pode contar qualquer situação sem medo de ser julgada. Em relação a políticas, ações educacionais voltadas a prevenção do abuso.

A psicóloga como doutora em educação fala que é importante trabalhar no autoconhecimento da criança com relação aos direitos e ao corpo. Para que ela futuramente esteja ciente do que é um carinho ou um ato de abuso para que não se cale e fale para os seus responsáveis para haver uma intervenção judicial. 


20 de ago. de 2020

Psicóloga fala sobre caso de estupro e interrupção da gravidez de uma menina de 10 anos no Espírito Santo - Rádio Universitária 870 AM


"A especialista ressalta como as violações sofridas pela criança podem implicar na sua recuperação

O estupro e a gravidez de uma menina de 10 anos, no Espírito Santo, foram expostos por grupos que defendiam a continuidade da gestação, que oferecia risco de morte para a criança. Mesmo o aborto sendo garantido por lei, nestes casos, grupos religiosos protestaram para que a interrupção não fosse feita.

Sobre o assunto, conversamos com a psicóloga Cida Alves. Ela é doutora em Educação e trabalha há 23 anos no acompanhamento de vítimas de violência que são atendidas na saúde pública municipal de Goiânia (GO)."

Ouça aqui 

19 de ago. de 2020

A educação do Não #Bloconãoénão #GravidezAos10Mata














A educação do Não!


Contrapondo-se à divulgação das violências sexuais que vinham sendo praticadas há mais de quatro anos contra uma menina de 10 anos, do Espírito Santo, que resultaram na sua gravidez; e cobrando da Justiça a garantia do acesso dessa criança aos procedimentos médicos para a realização de um aborto legal, há muitas décadas previstos em lei, o Bloco Não é Não, de Goiânia, Goiás, produziu e publicou às pressas nas redes sociais um vídeo com a participação de algumas integrantes, mostrando sua indignação e exigindo um fim ao sofrimento daquela menina: "Parem de fazer essa menina sofrer!"


Nas redes sociais apareceram muitos comentários de mulheres e homens indignados com o sofrimento da criança que foi estuprada pelo tio, dos 6 aos 10 anos. Algumas dessas mulheres e mesmo alguns homens propuseram até a castração dos autores de tais violências. Reconhecemos e acolhemos a indignação. Ela é justa! Entretanto, é nosso dever esclarecer que essa medida não resolve.


Aproveitamos para convidar todos e todas que sentiram empatia autêntica pelo sofrimento da criança capixaba que venham participar de nossa luta diária e sem fim para que as meninas, meninos e mulheres vivam livres de violências sexuais. A raiva, a indignação, a revolta e a tristeza são sentimentos que demonstram que não somos indiferentes à dor de uma criança.


“O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença", há tempos diz Érico Veríssimo. Nos afetarmos com o sofrimento do outro é o princípio, depois vem o verbo, a palavra que nomeia e delata a todas as crueldades. Homens e mulheres de afetos, palavras e atos, assim os queremos em nossa luta ancestral por respeito, valorização, autonomia e felicidade. A palavra é a maior obra civilizatória construída pela humanidade, mas são os atos que salvam o mundo.
E vocês - homens e mulheres, mas principalmente os homens que querem nos ajudar a acabar com essa nódoa que lhes está sendo impregnada na história da humanidade - sugerimos que comecem com atos simples e diários:


1. Fortaleçam a autoestima das crianças e das mulheres.
2. Encorajem as crianças e as mulheres a exercerem a autonomia de seus desejos, respeitem-nas e as apoiem quando elas dizerem NÃO.
3. Reconheçam e valorizem, nas meninas e mulheres, qualidades que não se restrinjam apenas a padrões de beleza.
4. Não reprimam a agressividade das crianças e das mulheres, agressividade é uma potência que, bem desenvolvida, estará sempre a serviço da auto defesa delas.
5. Não incentivem a obediência cega. É importante que as crianças e as mulheres entendam que há ordens que necessitam serem desobedecidas. É amoral obedecer a ordens que podem ferir a integridade física, psicológica e moral da própria menina, mulher ou de outra pessoa. Não podemos obedecer a ordens injustas!
6. Ensinem, desde muito cedo, às crianças o conceito de consentimento. O corpo do outro não pode ser tocado sem consentimento. E isso você faz no cuidado diário de seus filhos, filhas, sobrinhos, sobrinhas, netos e netas. Expliquem que toda criança só pode ser tocada nas suas partes íntimas quando é para a higiene e cuidado em saúde.
7. Apoiem a educação sexual nas escolas e as iniciativas públicas (governamentais ou não-governamentais) que democratizem conhecimentos sobre as fases do desenvolvimento infantil e a saúde sexual. Existe uma correlação significativa entre conhecimento sobre o próprio corpo e a capacidade de autodefesa contra situações de violências sexuais.
8. Estimulem meninos e homens a expressarem seus sentimentos quando vivencia situações de perdas ou frustrações.
9. Ensinem aos meninos que é natural um homem se sentir vulnerável. Que ele não precisa ser forte o tempo todo e não tem que ganhar sempre!
10. Ensinem aos meninos e aos homens que as meninas e mulheres são donas de seus corpos e desejos, que elas não são posses de ninguém e que é normal levar um fora! Faz parte da vida.
11. Protejam os corpos e as mentes das crianças da erotização precoce. Criança não namora.
12. Não atribua à condição masculina valores de supremacia e controle sobre o outro.
13. Parem de tocar o pênis dos meninos e dizer palavras de conteúdo sexual ou machistas, tais como “Deixa de ser mole! Você parece uma menininha!"; “Esse daí vai pegar todas!”; “Mostra quem manda!”, dentre outras.
14. A identidade masculina não deve ser associada a valores violentos.
15. Homem não é máquina de sexo. Como as mulheres, eles podem aprender a lidar com a sua libido, sua potência sexual. A capacidade de expressão e autocontrole da libido (desejo e energia sexual) é um bom indicador de saúde sexual.
16. Manifestem contra discursos ou práticas machistas e misóginas de outros homens.
17. Parem de compartilhar e consumir imagens ou produtos que objetificam crianças e mulheres!
18. Ofereçam ajuda a uma criança e a uma mulher que esteja sendo importunada ou assediada sexualmente.
19. Acreditem na palavra das crianças e das mulheres!
20. Denunciem as violências sexuais contra crianças e mulheres. Não se omita!
21. Ensinem aos filhos que "não" é "não". Tem que se respeitar a vontade da mulher. Se ela aceita um beijo, um abraço, uma transa, tudo bem! Mas se ela diz "Não", é Não! E se isso não for respeitado, é assédio sexual, violência, estupro! É crime!
22. Amem de verdade as crianças e as mulheres: mães, irmãs, sobrinhas, filhas e netas. Amem porque são seres humanos e não porque possuem laços de sangue. Assim, vocês compreenderão o sentido do amor para todas as mulheres!


Goiânia, 19 de agosto de 2020
BLOCO NÃO É NÃO
  

18 de ago. de 2020

Nota de repúdio ao infame pronunciamento de Soleny Almeida - Diário da Manhã

 



“O Jornal Diário da Manhã vem manifestar o seu repúdio em decorrência das declarações no feitas no Facebook, pelas quais o Jornal vem sofrendo um bombardeio de críticas de leitores após Sonely Almeida, cunhada de Batista Custódio ter feito um infeliz comentário acerca do aborto autorizado pela justiça onde figura como parte uma criança de apenas dez anos.

Ocorre que tais declarações não se coadunam com a dignidade humana, mostrando apenas amplo desconhecimento a respeito do tema, uma vez que comentários feitos por fanáticos religiosos como Sonely disseminam ódio gratuito a uma criança, além de questionar o amplo e irrevogável poder de decisão da justiça.

Estamos atentos à expressões e atitudes desta natureza e não toleramos em nenhuma hipótese tais práticas, o Jornal Diário da Manhã e Batista Custódio reiteram que não compactuam com atos fanáticos e desumanos e desaprovam integralmente o infeliz comentário de Sonely Almeida.

Goiânia, 17 de Agosto de 2020.”

16 de ago. de 2020

Pela criança que fui - José Saramago


"Quando me for deste mundo, partirão duas pessoas.
Sairei, de mão dada, com essa criança que fui.
Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui.
Em meio ao agitado caleidoscópio dos dias e das horas atuais, quem ainda encontra tempo para pensar na criança que um dia foi?

Nestes tempos tumultuados que nos foi dado a viver, quem toma o cuidado de não fazer nada que possa envergonhar a criança que um dia foi?
Da criança pequena que um dia fomos, o que foi que sobrou?
Da criança pequena que um dia fomos, o que foi que o mundo não nos roubou?
A criança pequena que era capaz de se encantar com uma poça d'água, e que sabia o valor das coisas que não tem preço.

Viver talvez seja isso, a jornada sem fim rumo à criança que um dia fomos, o resgate do nosso melhor.
O retorno à nossa versão mais pura, mais humana, mais amorosa e solidária.
O retorno à simplicidade é a verdadeira felicidade.
Quem de nós se mostra digno de tão elevado propósito?


José Saramago

 


Foto: Divulgação na internet

14 de ago. de 2020

#GravidezAos10mata - Uma campanha para que a Justiça autorize uma criança de 10 anos a fazer um aborto, está em pleno andamento nas redes sociais.

 


"Entenda o caso: 

Uma criança de 10 anos engravidou depois de ser estuprada, em São Mateus, no Norte do Espírito Santo. O suspeito do crime é o tio da vítima. A menina denunciou o caso para a polícia no sábado (8).

De acordo com a Polícia Militar, a menina deu entrada no Hospital Estadual Roberto Silvares acompanhada de um familiar informando ter sido vítima de estupro e estar grávida.

Para a polícia, a menina contou que era vítima do crime desde os seis anos e que não denunciou com medo das ameaças.

A gravidez foi confirmada por um exame de sangue.

A polícia foi até a casa do suspeito, mas ele já tinha fugido. 

O tio da vítima, foi indiciado pelos crimes de ameaça e estupro de vulnerável, ambos praticados de forma continuada. Ele ainda não foi encontrado e agora é considerado foragido.

De acordo com a Polícia Civil, o inquérito que investigava o caso foi concluído nesta quinta-feira (13). 

Agora, está em análise, pela Justiça do Espírito Santo, se a menina pode ter a gestação interrompida. 

Como a Justiça está demorando a tomar decisão uma campanha está tomando as redes sociais. Ela traz a hashtag Gravidez ao 10 Mata. Confira aqui: 

#GravidezAos10Mata 


Fonte: PensarPiauí

7 de ago. de 2020

A Música de Minha Vida - Gurinder Chadha (Blinded By The Light)

Thunder Road

And my car's out back
If you're ready to take that long walk
From your front porch to my front seat
The door's open but the ride it ain't free
And I know you're lonely
For words that I ain't spoken
But tonight we'll be free
All the promises'll be broken
There were ghosts in the eyes
Of all the boys you sent away
They haunt this dusty beach road
In the skeleton frames of burned out Chevrolets

 

Bruce Springsteen

 

5 de ago. de 2020

Hannah Arendt e suas histórias britadeiras de ilusões

Bolsonaro ergue cloroquina para apoiadores - FOTO: Reprodução/Facebook


A cultura fascista (STANLEY, 2018) busca promover uma identificação total do individuo com a propaganda (mentira contada mil vezes) disseminada pelo “Líder”. Todavia, a propaganda não cresce em terreno infértil, ela se enraíza em alguma crença que é constitutiva da identidade do sujeito. Do ponto de vista subjetivo, o terreno fértil para essa cultura são as pessoas que apresentam uma elevada rigidez de pensamento e que se apegam piamente ao julgamento externo para se valorar como indivíduo. A desconstrução de uma crença basilar de uma identidade é vivenciada por essas pessoas como um ataque frontal ao seu eu ideal (homem forte, mulher escolhida, portador do bem, ser superior aos demais, dentre outros exemplos).

A morte do senhor Angel Spotorno é mais um triste e fatal exemplo da dificuldade que alguns sujeitos têm de enfrentar suas autoverdades. Angel Spotorno tinha 74 anos e como muitos macristas fanáticos promoveu campanhas contra as medidas de isolamento argumentando que elas seriam “uma tentativa do governo de Alberto Fernández de reinstalar o comunismo e atentar contra a liberdade das pessoas”. De acordo com o relato de sua prima Marita Riera, “dos 90 dias que passamos entre o início da quarentena e a sua morte, creio que ele passou ao menos 85 fora de casa”.

Ángel Spotorno foi encontrado morto em seu apartamento por uma equipe médica depois que sua filha acionou o serviço de emergência por que seu pai não atendia as chamadas do interfone. A investigação de óbito realizada pela equipe de legistas concluiu que sua morte foi causada pelo coronavírus. Alguns familiares acreditam que o aposentado escondeu os sintomas para não ter que admitir que estava com a doença.

Trago essa triste história para colocar em questão outra crença que circula por aí, que é a ideia de que quando a morte por Covid 19 deixar de ser uma estatística e assumir a forma de um rosto amado as pessoas vão se conscientizar da gravidade da pandemia. Lo siento, ¡pero no! Sei que sou a portadora de mais essa má noticia, entretanto tenho que trazê-la a vocês por que acredito que ilusões não irão nos proteger. E para dar mais potência a minha argumentação, trago duas histórias narradas por Hanna Arendt no livro “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, que são duas potentes britadeiras de ilusões. Vamos à primeira história:

“Reck-Malleczewen, que mencionei antes conta de uma mulher da Baviera, uma ‘lider’ que fazia discursos animadores aos camponeses no verão de 1944. Ela parecia não perder muito tempo com ‘armas milagrosas’ e com a vitória, encarando francamente a perspectiva de derrota, que não devia preocupar nenhum bom alemão porque o Führer ‘em sua grande bondade preparou para todo o povo alemão uma suave morte por asfixia de gás no caso da guerra ter um final infeliz’. E o escritor acrescenta: ‘Oh, não, não estou imaginando coisas, essa bela dama não é uma miragem, eu a vi com meus próprios olhos: uma mulher de pele amarela beirando os quarenta, com olhos enlouquecidos [...] E o que aconteceu? Os camponeses bávaros pelo menos a jogaram no lago local para esfriar sua entusiasmada prontidão para a morte? Eles não fizeram nada disso. Foram para casa, sacudindo as cabeças’” (ARENDT, 2007 pg. 126 a 127).

Segunda história:

“Essa história é contada pelo conde Hans von Lehnsdorff, em seu Ostpreussisches Tagebch (1961). Ele havia ficado na cidade como médico para cuidar de soldados feridos que não podiam ser evacuados e foi chamado a um dos vastos centros de refugiados do campo, que já estava ocupado pelo Exército Vermelho. Lá, foi perseguido por uma mulher que lhe mostrou uma veia varicosa que tinha havia anos e que queria tratar agora, porque tinha tempo. ‘Tentei explicar que seria mais importante para ela sair de Königsberg e deixar o tratamento para depois. ‘Aonde você quer ir?’, perguntei a ela. Ela não sabe, mas sabe que serão todos levados para o Reich. E acrescenta, supreendentemente: ‘Os russos nunca vão nos pegar. O Führer nunca vai permitir. Antes disso ele nos pões na câmara de gás’, Olho em volta, disfarçando, mas ninguém parece achar a frase fora do comum’. Dá para sentir que a história, como toda história verdadeira, está incompleta. Devia haver uma outra voz, de preferência feminina que, suspirando profundamente, respondesse: ‘E agora aquele gás tão bom e tão caro é desperdiçado com judeus!” (ARENDT, 2007 pg. 127).

 

O senhor argentino e as damas alemãs, em tempos e lugares distintos, demonstram que mesmo ante ao risco eminente da morte algumas pessoas não conseguiram encarar a realidade dos fatos. Para manterem-se leais às crenças que sustentam suas distorcidas autoimagens e autoverdades, homens e mulheres com as características citadas no início desse texto colocam-se em risco e na atualidade, podem até morrer de Covid-19. Pobres mortos tão ricos de razões!

Cida Alves – Goiânia, 26 de julho de 2020

REFERÊNCIAS:

ARENDT, Hannah, Eichmann em Jerusalém, Um relato sobre a banalidade do mal. Hannah – Hannah Arendt; tradução José Rubens Siqueira. – São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”. 1ª ed. – Porto Alegre [RS]: L&PM, 2018.