Link do livro "Infância Roubada – Crianças atingidas pela Ditatura Militar no
Brasil" AQUI
___________________Com o poema "NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI" de Eduardo Alves Costa, expresso minha fúria, estampada como bandeira solene, contra todos aqueles que defendem torturadores.Cida Alves
NO CAMINHO COM
MAIAKÓVSKI
Assim como a
criança
humildemente
afaga
a imagem do
herói,
assim me
aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o
que me possa acontecer
por andar
ombro a ombro
com um poeta
soviético.
Lendo teus
versos,
aprendi a ter
coragem.
Tu
sabes,
conheces
melhor do que eu
a
velha história.
Na
primeira noite eles se aproximam
e
roubam uma flor
do
nosso jardim.
E não
dizemos nada.
Na
Segunda noite, já não se escondem:
pisam
as flores,
matam
nosso cão,
e não
dizemos nada.
Até
que um dia,
o mais
frágil deles
entra
sozinho em nossa casa,
rouba-nos
a luz, e,
conhecendo
nosso medo,
arranca-nos
a voz da garganta.
E já
não podemos dizer nada.
Nos dias que
correm
a ninguém é
dado
repousar a
cabeça
alheia ao
terror.
Os humildes
baixam a cerviz;
e nós, que não
temos pacto algum
com os
senhores do mundo,
por temor nos
calamos.
No silêncio de
meu quarto
a ousadia me
afogueia as faces
e eu fantasio
um levante;
mas amanhã,
diante do
juiz,
talvez meus
lábios
calem a
verdade
como um foco
de germes
capaz de me
destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por
repetir
são mentiras.
Mal sabe a
criança dizer mãe
e a propaganda
lhe destrói a consciência.
A mim, quase
me arrastam
pela gola do
paletó
à porta do
templo
e me pedem que
aguarde
até que a
Democracia
se digne a
aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não
estou amedrontado
a ponto de
cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar
as costelas
e o riso que
nos mostra
é uma tênue
cortina
lançada sobre
os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos
ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo
da colheita
lá estão
e acabam por
nos roubar
até o último
grão de trigo.
Dizem-nos que
de nós emana o poder
mas sempre o
temos contra nós.
Dizem-nos que
é preciso
defender
nossos lares
mas se nos
rebelamos contra a opressão
é sobre nós
que marcham os soldados.
E por temor eu
me calo,
por temor
aceito a condição
de falso
democrata
e rotulo meus
gestos
com a palavra
liberdade,
procurando,
num sorriso,
esconder minha
dor
diante de meus
superiores.
Mas dentro de
mim,
com a potência
de um milhão de vozes,
o coração
grita – MENTIRA!
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