7 de nov. de 2012

Violência na infância: para além das consequências psicológicas

 

cerebro e violencia

Estimado leitor,

Posto abaixo um fragmento do capítulo “Agressividad y Violência” do livro “El laberinto de la Violência” coordenado por José Sanmartín - ex catedrático de Lógica e Filosofia da Ciência da Universidade de Valência e ex diretor do Centro Rainha Sofia de Estudos da Violência. Nesse pequeno texto José Sanmartín elucida como a violência pode afetar a morfologia e fisiologia cerebral de uma criança.

 


“(...) há sempre mais que meras consequências psicológicas de um maltrato infantil que podem abordar-se com medidas psicoterapêuticas eficazes (SANMARTÍN, 2002). Certamente, hoje começamos a saber que o maltrato infantil pode levar alterações no desenvolvimento básico da anatomia e da fisiologia cerebral. E não me refiro só ao maltrato físico, ainda que seja ele que vou abordar a seguir.

Há pais e outras pessoas que agitam fortemente a criança para fazê-la calar, castigá-la, etc. A criança sacudida pode sofrer lesões cerebrais importantes. O sacudir pode, por exemplo, romper as conexões entre o sistema límbico e o córtex pré-frontal, mais exatamente as que medeiam a amígdala e algumas áreas do córtex pré-frontal, como a orbitofrontal ou a ventromedial. Os golpes reinterados na cabeça da criança podem causar essa mesma ruptura cuja consequência principal é que o circuito da agressividade fica fora do controle do córtex pré-frontal, pois é ele que exerce o controle consciente desse referido circuito. As emoções se escapam, assim, da regulação que se impõem pela razão. E, em circunstâncias que a amígdala não é suficiente para manter o equilíbrio entre os mecanismos inatos que ativa a agressividade e aqueles outros, também inatos, que a controla, o comportamento do indivíduo talvez se torne muito danoso e destrutivo (PINCUS, 2001; PERRY, 1996; PERRY & POLLARD, 1998).

Mas não só o sacudir e os golpes na cabeça podem danar o cérebro de uma criança de forma, em certas circunstâncias, irreparável. Também o fazem o maltrato emocional e, em geral, todo tipo de maltrato, cuja consequência primeira, biologicamente falando, seja o incremento do cortisol no sangue.

Em efeito, como antes indiquei, o hipotálamo, através da hipófises, faz chegar ao córtex suprarrenal as ordens pertinentes para se secrete o cortisol, hormônio que incrementará o estado de tensão do organismo antes de determinada circunstâncias. O cortisol, despejado na corrente sanguínea, alcança o hipocampo (…), entre outras estruturas. Quando isso sucede, o hipocampo envia sinais ao hipotálamo para que cesse a ordem de secreção deste hormônio. Existem circunstâncias em que a amígdala segue com força ordenando ao hipotálamo que prossiga a secreção do cortisol, este por sua vez ignora os sinais em contrario emitidos pelo hipocampo. Sofrer maltrato gera circunstâncias desse tipo. E é bem certo que a presença excessiva do cortisol [hormônio do stress] no sangue pode acabar danando o hipocampo, um dos poucos lugares onde há neurogênese* e que executa um papel decisivo na implementação da agressividade (TEICHER, 2000).

Em efeito, o hipocampo é encarregado de integrar em um contexto os diversos estímulos sensoriais que desencadeiam uma conduta agressiva. (…) um ser humano com lesões no hipocampo pode deixar de sentir medo em contextos de riscos, com as consequências nefastas a que ele pode dar lugar” (SANMARTÍN, 2004).

 

Veja mais sobre a pesquisa de TEICHER AQUI

*Ver sobre neurogênese Aqui


REFERENCIAS:

SANMARTÍN, José. El laberinto de la violencia. Causas, tipos y efectos. José Sanmartin (coord.). 2ª Edição. Editorial Ariel: Barcelona, 2004.

THEICHER, M. H. (2000): “Wounds that time won’t heal: the neurobiology of hild abuse”, Cerebrum (Dana Press), 2(4): 50-67.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)