A segunda maior população indígena do país, segundo dados do IBGE, vive espremida em reservas ou em acampamentos improvisados em fazendas e às margens de rodovias.
Eles dizem querer voltar para o local de onde foram expulsos, seus "tekohás", terras sagradas onde afirmam que seus antepassados viveram e hoje estão enterrados.
Mas a terra agora está nas mãos dos fazendeiros, que produzem soja, cana, milho e gado em áreas adquiridas do governo federal desde o fim da Guerra do Paraguai (1864-70), quando o Império começou a colonizar a região.
A partir da década de 1950, a expulsão dos índios e a concessão de títulos de propriedade a fazendeiros se intensificou. Nativos eram retirados das terras pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) - órgão federal que mais tarde daria lugar à Funai (Fundação Nacional do Índio) - e levados para reservas.
Os índios relatam ataques e enfrentam disputas judiciais. Aqueles que não resistem ao clima tenso ajudam a colocar o Estado no topo do ranking de suicídios. Também há registro de homicídios em enfrentamentos relacionados à luta pela terra.
A maioria dos guaranis-caiovás vive em terras indígenas: segundo a Funai, eles têm hoje 15 territórios regularizados, que ocupam uma área de 20 mil campos de futebol. O primeiro é de 1915.
Mesmo nas terras oficialmente indígenas, como a Reserva de Dourados (a 229 km de Campo Grande), os guaranis-caiovás vivem em situação de confinamento, que a Folha testemunhou no fim de outubro durante viagem de uma semana pela região.
Em Dourados, num espaço de 3.470 hectares, cortados pela rodovia MS-156, vivem 14 mil índios.
É como se quatro índios fossem obrigados a viver, plantar e rezar no espaço de um campo de futebol.
De acordo com a antropóloga Lucia Helena Rangel, o espaço é pequeno se levado em conta que eles sobrevivem da agricultura. "Assentamentos de reforma agrária na região Sul chegam a ter 50 hectares por família", compara.
A vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, já definiu a reserva como "a maior tragédia conhecida na questão indígena em todo o mundo".
MORTE
Levantamento do Ministério da Saúde mostra que, de 2000 a 2011, 555 índios se suicidaram, em geral por enforcamento. Só neste ano, até julho, 32 casos foram confirmados pela pasta. Praticamente todos eram da etnia guarani-caiová.
Enquanto na média nacional a taxa de suicídio em 2007 foi de 4,7 por 100 mil habitantes, nas áreas indígenas do sul de Mato Grosso do Sul, chegou a 65,68 por 100 mil.
Em média, um índio se suicida a cada seis dias no Estado. A maioria é do sexo masculino e tem entre 15 e 29 anos.
Os índios consideram o suicídio previsível: dizem que o céu fica vermelho quando alguém vai tirar a própria vida. "A doença fica no corpo durante sete dias. Ela procura os mais jovens. [O suicida] quer gritar, fica com raiva. Aqui já teve muito suicídio", afirma o cacique Getúlio.
Enviado pelo jornalista Rosimar Silva em 19 de novembro de 2012.
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