“É vergonhoso que o Brasil seja o quinto país mais violento contra mulheres em um ranking de 83 países. Em 2019 ocorreram 1.314 feminicídios. Um a cada 7 horas. Um aumento de 12% em relação ao número de casos registrados em 2015, ano em que foi sancionada e entrou em vigor a lei do feminicídio.
O estado de Goiás, vergonhosamente, é o segundo mais violento para meninas e mulheres. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás dão conta de que ocorreram, em 2019, aqui 781 estupros; 15.599 ameaças; 10.497 lesões corporais e 9.441 crimes contra a honra, que são a calúnia, a difamação e a injúria contra nós, mulheres. Aconteceram ainda 40 feminicídios no estado.
É preciso lembrar ainda que de cada 13 mulheres assassinadas no Brasil, oito são negras. Mais de 60% das mulheres que denunciam violência doméstica utilizando o ligue 180 do Governo Federal são negras. Elas são as maiores vítimas de homicídio e de feminicídio no Brasil. São crimes cometidos em função da raça e do gênero”.
Adriana Accorsi – Deputada Estadual (PT – Goiás)
Boa tarde a todas e a todos!
Mais um 8 de março
passou e estamos aqui nos questionando se este é um momento de comemoração ou
não. O que sabemos é que graças à luta
de tantas mulheres, temos direitos à voz, à educação, ao trabalho, ao voto, à
participação em todos os espaços de poder. Contudo, ainda temos um caminho
muito longo a percorrer até a igualdade que sonhamos.
Pesquisa divulgada
esta semana dá conta de que o mercado de trabalho brasileiro é injusto com as
mulheres. Apesar do cenário ter melhorado desde 2018, quando dados do IBGE
apontavam que as mulheres recebiam 70% dos rendimentos pagos aos homens na
mesma função, a diferença ainda é muito grande.
A Agência Brasil
divulgou esta semana que a diferença, antes de 30%, agora é de 47,24%, com os
homens ganhando, em média, r$ 3.946 e nós, mulheres, r$ 2.680.
Neste cenário de
desigualdade social, a mulher ainda é a responsável pelas tarefas domésticas,
pela educação dos filhos, na maioria dos lares, enfrentando jornadas duplas e
até triplas de trabalho.
A diferença de
oportunidades para a mulher trabalhadora, para a mulher que estuda para se
qualificar é muito grande. A mulher
vence, mas sabe todo o sacrifício que fez para que isso ocorra. Somos
guerreiras!
É vergonhoso que o Brasil seja o quinto país mais violento contra mulheres em um ranking de 83
países. Em 2019 ocorreram 1.314 feminicídios. Um a cada 7 horas. Um aumento de
12% em relação ao número de casos registrados em 2015, ano em que foi
sancionada e entrou em vigor a lei do feminicídio.
O estado de Goiás,
vergonhosamente, é o segundo mais violento para meninas e mulheres. Dados da Secretaria
de Segurança Pública do Estado de Goiás dão conta de que ocorreram, em 2019,
aqui 781 estupros; 15.599 ameaças; 10.497 lesões corporais e 9.441 crimes
contra a honra, que são a calúnia, a difamação e a injúria contra nós,
mulheres. Aconteceram ainda 40 feminicídios no estado.
É preciso lembrar
ainda que de cada 13 mulheres assassinadas no Brasil, oito são negras. Mais de
60% das mulheres que denunciam violência doméstica utilizando o ligue 180 do Governo Federal são negras. Elas são as maiores vítimas de homicídio e de
feminicídio no Brasil. São crimes cometidos em função da raça e do gênero.
Todos ficamos
estarrecidas com a morte brutal da gerente de supermercado Fernanda Souza, de
33 anos, que desapareceu em bela vista dia 19 de fevereiro deste ano e foi
morta a pauladas pelo namorado, um rapaz de 22 anos que ela havia conhecido há
pouco tempo. Ele foi preso no Tocantins, confessou o crime, indicou onde havia
abandonado o corpo e suicidou-se na cadeia. Este caso chocou goiás e o Brasil,
demonstrando a crueldade destes crimes que tanto fazem as famílias sofrerem
hoje.
É importante ter
mulheres em todos os espaços de poder para que possamos pautar e trazer à tona
os nossos sofrimentos, sonhos e necessidades. É de minha autoria, por exemplo,
a lei que reserva vagas de empregos para as mulheres vítimas de violência
doméstica e familiar nas empresas prestadoras de serviços em Goiás, projetos de
lei que garantem a aplicação de medida coercitiva administrativa ao agressor
para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher e que
institui uma campanha permanente de combate ao machismo e à valorização das
mulheres na rede pública estadual de ensino. Está em andamento nesta casa,
projeto de lei de minha autoria também que proíbe pessoas condenadas pela Lei Maria
da Penha serem contratadas como comissionadas no estado.
Muitos projetos e
leis aprovadas para favorecer as mulheres são resultado de um trabalho árduo
aqui na Assembleia Legislativa, onde apenas a deputada Lêda Borges e eu
representamos o universo feminino goiano. É preciso aumentar o número de
mulheres na política. Ocupamos apenas 20% das cadeiras nos legislativos municipais,
estaduais e no federal. Somos minoria, apesar de representarmos a maior parcela
dos eleitores brasileiros. É preciso conquistar mais espaços de poder em
sindicatos, associações, empresas, governos.
Comemorar o 8 de
março e tudo o que ele representa é fortalecer a luta por direitos e por igualdade
de oportunidades. A luta é para fortalecer as estruturas de combate à violência
como delegacias de atendimento à mulher, por exemplo.
Em Goiás, apenas 10%
das cidades goianas possuem DEAMS e em muitas faltam estrutura, faltam
delegados, não funcionam nos finais de semana ou à noite. Não cumprem sua
finalidade. É preciso estruturá-las. É preciso fazer abrigos para mulheres e seus
filhos vítimas de violência doméstica e, com uma rede de apoio, transformar a
vida dessas famílias.
Importante também é
transformar a cultura machista, origem de toda essa violência contra a mulher. Fazer
entender que a mulher não serve ao homem, que ela não é um objeto de prazer. Quero
chamar a atenção dos homens goianos. Esta luta contra a violência contra a
mulher é deles também porque a mulher agredida ou morta pode ser, a qualquer
momento, a mãe, a esposa, a filha dele. É preciso romper com hábitos machistas
no dia a dia, como piadas que desvalorizam mulheres, que inferiorizam o papel
da mulher na nossa sociedade. É salutar que modifiquem esses comportamentos que
reforçam o machismo.
Estamos em um momento
muito perigoso no nosso país. O Governo Federal, que além de cortar recursos,
de fechar a secretaria especial de políticas públicas para a mulher, cortou
todos os recursos que vinham para estados e municípios para projetos de combate
à violência contra a mulher, e, com suas falas e atitudes, demonstra ódio e
desprezo pelas mulheres e isso repercute na sociedade como um mau exemplo, e
com certeza é um dos fatores para a gente ter hoje o maior número de
feminicídios de nossa história.
Exigimos respeito e
isso passa por direitos iguais no trabalho, em casa, nas leis. Respeitem nossa
dignidade e a nossa vida!
Por isso tudo é tão
importante reconhecer hoje a luta de duas mulheres que dedicam suas vidas a
esta luta, tenho a honra de homenagear com a comenda Berenice Artiaga as
queridas Maria Aparecida Alves, psicóloga, doutora em educação pelo Programa de
Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás em intercâmbio
com a Univerdat de Barcelona e que há mais de 20 anos atua no atendimento às
pessoas em situação de violência. Integrante da Rede "Não bata. Eduque!".
Minha querida amiga Cida Alves é psicóloga do Núcleo de Vigilâncias das Violências
e de Promoção da Saúde da Secretaria Municipal de Aaúde de Goiânia e
administradora do blog Educar Sem Violência e cofundadora do Bloco Não é Não,
em Goiânia.
Homenageio hoje
também a querida e combativa jornalista, membro da Diretoria do Sindicato dos
Jornalistas de Goiás, ativista e artesã licoreira, Laurenice Noleto. Nonô Noleto
tem décadas de trabalho como ativista dos direitos das mulheres no estado de Goiás.
Ela é formada pela Universidade Federal de Goiás. Foi a primeira editora do
telejornal da TV Brasil Central, onde trabalhou por 23 anos, tendo chegado à
direção geral do complexo de comunicação (rbc-am, rbc-fm e tbc). Trabalhou em Brasília,
na cobertura da constituinte, em 1988, para a folha de São Paulo e Correio Braziliense.
De volta à Goiânia, trabalhou por quase 5 anos como correspondente regional do
jornal o Estado de São Paulo. Reafirmo aqui que é uma honra para mim homenagear
essas duas amigas, que tanto fizeram pelas mulheres em Goiás.
Vamos continuar a
luta por igualdade, companheiras, para que em breve possamos comemorar sem
ressalvas o 8 de março!
Obrigada
a todas e a todos!
Deputada Estadual Adriana Accorsi – PT Goiás
Fotos: Corado, Maianí Gontijo e Michelly Matos - Goiânia, Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, 10 de março de 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe! Adoraria ver publicado seu comentário, sua opinião, sua crítica. No entanto, para que o comentário seja postado é necessário a correta identificação do autor, com nome completo e endereço eletrônico confiável. O debate sempre será livre quando houver responsabilização pela autoria do texto (Cida Alves)