11 de mar. de 2020

Assembleia Legislativa do Estado de Goiás homenageia mulheres goianas com Comenda Berenice Teixeira Artiaga - Pronunciamento de Cida Alves


“É vergonhoso que o Brasil seja o quinto país mais violento contra mulheres em um ranking de 83 países. Em 2019 ocorreram 1.314 feminicídios. Um a cada 7 horas. Um aumento de 12% em relação ao número de casos registrados em 2015, ano em que foi sancionada e entrou em vigor a lei do feminicídio.

O estado de Goiás, vergonhosamente, é o segundo mais violento para meninas e mulheres. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás dão conta de que ocorreram, em 2019, aqui 781 estupros; 15.599 ameaças; 10.497 lesões corporais e 9.441 crimes contra a honra, que são a calúnia, a difamação e a injúria contra nós, mulheres. Aconteceram ainda 40 feminicídios no estado.

É preciso lembrar ainda que de cada 13 mulheres assassinadas no Brasil, oito são negras. Mais de 60% das mulheres que denunciam violência doméstica utilizando o ligue 180 do Governo Federal são negras. Elas são as maiores vítimas de homicídio e de feminicídio no Brasil. São crimes cometidos em função da raça e do gênero”.

Adriana Accorsi – Deputada Estadual (PT – Goiás)













Boa tarde a todas e a todos!

Mais um 8 de março passou e estamos aqui nos questionando se este é um momento de comemoração ou não.  O que sabemos é que graças à luta de tantas mulheres, temos direitos à voz, à educação, ao trabalho, ao voto, à participação em todos os espaços de poder. Contudo, ainda temos um caminho muito longo a percorrer até a igualdade que sonhamos.

Pesquisa divulgada esta semana dá conta de que o mercado de trabalho brasileiro é injusto com as mulheres. Apesar do cenário ter melhorado desde 2018, quando dados do IBGE apontavam que as mulheres recebiam 70% dos rendimentos pagos aos homens na mesma função, a diferença ainda é muito grande.

A Agência Brasil divulgou esta semana que a diferença, antes de 30%, agora é de 47,24%, com os homens ganhando, em média, r$ 3.946 e nós, mulheres, r$ 2.680.

Neste cenário de desigualdade social, a mulher ainda é a responsável pelas tarefas domésticas, pela educação dos filhos, na maioria dos lares, enfrentando jornadas duplas e até triplas de trabalho.

A diferença de oportunidades para a mulher trabalhadora, para a mulher que estuda para se qualificar é muito grande.  A mulher vence, mas sabe todo o sacrifício que fez para que isso ocorra. Somos guerreiras!

É vergonhoso que o Brasil seja o quinto país mais violento contra mulheres em um ranking de 83 países. Em 2019 ocorreram 1.314 feminicídios. Um a cada 7 horas. Um aumento de 12% em relação ao número de casos registrados em 2015, ano em que foi sancionada e entrou em vigor a lei do feminicídio. 

O estado de Goiás, vergonhosamente, é o segundo mais violento para meninas e mulheres. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás dão conta de que ocorreram, em 2019, aqui 781 estupros; 15.599 ameaças; 10.497 lesões corporais e 9.441 crimes contra a honra, que são a calúnia, a difamação e a injúria contra nós, mulheres. Aconteceram ainda 40 feminicídios no estado.

É preciso lembrar ainda que de cada 13 mulheres assassinadas no Brasil, oito são negras. Mais de 60% das mulheres que denunciam violência doméstica utilizando o ligue 180 do Governo Federal são negras. Elas são as maiores vítimas de homicídio e de feminicídio no Brasil. São crimes cometidos em função da raça e do gênero.

Todos ficamos estarrecidas com a morte brutal da gerente de supermercado Fernanda Souza, de 33 anos, que desapareceu em bela vista dia 19 de fevereiro deste ano e foi morta a pauladas pelo namorado, um rapaz de 22 anos que ela havia conhecido há pouco tempo. Ele foi preso no Tocantins, confessou o crime, indicou onde havia abandonado o corpo e suicidou-se na cadeia. Este caso chocou goiás e o Brasil, demonstrando a crueldade destes crimes que tanto fazem as famílias sofrerem hoje.

É importante ter mulheres em todos os espaços de poder para que possamos pautar e trazer à tona os nossos sofrimentos, sonhos e necessidades. É de minha autoria, por exemplo, a lei que reserva vagas de empregos para as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar nas empresas prestadoras de serviços em Goiás, projetos de lei que garantem a aplicação de medida coercitiva administrativa ao agressor para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher e que institui uma campanha permanente de combate ao machismo e à valorização das mulheres na rede pública estadual de ensino. Está em andamento nesta casa, projeto de lei de minha autoria também que proíbe pessoas condenadas pela Lei Maria da Penha serem contratadas como comissionadas no estado.

Muitos projetos e leis aprovadas para favorecer as mulheres são resultado de um trabalho árduo aqui na Assembleia Legislativa, onde apenas a deputada Lêda Borges e eu representamos o universo feminino goiano. É preciso aumentar o número de mulheres na política. Ocupamos apenas 20% das cadeiras nos legislativos municipais, estaduais e no federal. Somos minoria, apesar de representarmos a maior parcela dos eleitores brasileiros. É preciso conquistar mais espaços de poder em sindicatos, associações, empresas, governos.

Comemorar o 8 de março e tudo o que ele representa é fortalecer a luta por direitos e por igualdade de oportunidades. A luta é para fortalecer as estruturas de combate à violência como delegacias de atendimento à mulher, por exemplo.

Em Goiás, apenas 10% das cidades goianas possuem DEAMS e em muitas faltam estrutura, faltam delegados, não funcionam nos finais de semana ou à noite. Não cumprem sua finalidade. É preciso estruturá-las. É preciso fazer abrigos para mulheres e seus filhos vítimas de violência doméstica e, com uma rede de apoio, transformar a vida dessas famílias.

Importante também é transformar a cultura machista, origem de toda essa violência contra a mulher. Fazer entender que a mulher não serve ao homem, que ela não é um objeto de prazer. Quero chamar a atenção dos homens goianos. Esta luta contra a violência contra a mulher é deles também porque a mulher agredida ou morta pode ser, a qualquer momento, a mãe, a esposa, a filha dele. É preciso romper com hábitos machistas no dia a dia, como piadas que desvalorizam mulheres, que inferiorizam o papel da mulher na nossa sociedade. É salutar que modifiquem esses comportamentos que reforçam o machismo.

Estamos em um momento muito perigoso no nosso país. O Governo Federal, que além de cortar recursos, de fechar a secretaria especial de políticas públicas para a mulher, cortou todos os recursos que vinham para estados e municípios para projetos de combate à violência contra a mulher, e, com suas falas e atitudes, demonstra ódio e desprezo pelas mulheres e isso repercute na sociedade como um mau exemplo, e com certeza é um dos fatores para a gente ter hoje o maior número de feminicídios de nossa história.

Exigimos respeito e isso passa por direitos iguais no trabalho, em casa, nas leis. Respeitem nossa dignidade e a nossa vida!

Por isso tudo é tão importante reconhecer hoje a luta de duas mulheres que dedicam suas vidas a esta luta, tenho a honra de homenagear com a comenda Berenice Artiaga as queridas Maria Aparecida Alves, psicóloga, doutora em educação pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás em intercâmbio com a Univerdat de Barcelona e que há mais de 20 anos atua no atendimento às pessoas em situação de violência. Integrante da Rede "Não bata. Eduque!". Minha querida amiga Cida Alves é psicóloga do Núcleo de Vigilâncias das Violências e de Promoção da Saúde da Secretaria Municipal de Aaúde de Goiânia e administradora do blog Educar Sem Violência e cofundadora do Bloco Não é Não, em Goiânia. 


Homenageio hoje também a querida e combativa jornalista, membro da Diretoria do Sindicato dos Jornalistas de Goiás, ativista e artesã licoreira, Laurenice Noleto. Nonô Noleto tem décadas de trabalho como ativista dos direitos das mulheres no estado de Goiás. Ela é formada pela Universidade Federal de Goiás. Foi a primeira editora do telejornal da TV Brasil Central, onde trabalhou por 23 anos, tendo chegado à direção geral do complexo de comunicação (rbc-am, rbc-fm e tbc). Trabalhou em Brasília, na cobertura da constituinte, em 1988, para a folha de São Paulo e Correio Braziliense. De volta à Goiânia, trabalhou por quase 5 anos como correspondente regional do jornal o Estado de São Paulo. Reafirmo aqui que é uma honra para mim homenagear essas duas amigas, que tanto fizeram pelas mulheres em Goiás. 


Vamos continuar a luta por igualdade, companheiras, para que em breve possamos comemorar sem ressalvas o 8 de março!
Obrigada a todas e a todos!

Deputada Estadual Adriana Accorsi – PT Goiás
 

 






Fotos: Corado, Maianí Gontijo e Michelly Matos - Goiânia, Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, 10 de março de 2020.

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