30 de jun. de 2019

"Não maltrate nunca minha fragilidade" (Pedro Guerra e Jorge Drexler) - Ipês brancos em memória do menino Bruno Diogo


“Cuídame

Cuida de mis labios,
Cuida de mi risa.
Llévame en tus brazos,
Llévame sin prisa.

No maltrates nunca mi fragilidad,
Pisaré la tierra que tú pisas.

Cuida de mis manos,
Cuida de mis dedos.
Dame la caricia,
Que descansa en ellos.

No maltrates nunca mi fragilidad,
Yo seré la imagen de tu espejo.

Cuida de mis sueños,
Cuida de mi vida.
Cuida a quién te quiere,
Cuida a quién te cuida.

No maltrates nunca mi fragilidad,
Yo seré el abrazo que te alivia.

Cuida de mis ojos,
Cuida de mi cara.
Abre los caminos,
Dame las palabras.

No maltrates nunca mi fragilidad,
Soy la fortaleza de mañana”.

Pedro Guerra e Jorge Drexler














Ipês brancos plantados na praça do setor Real Conquista (Goiânia - Goiás) em homenagem ao menino Bruno Diogo que aos dois anos e oito meses morreu após ser brutalmente espancado e violado sexualmente por mãe e padrasto. Atividade do Dia Nacional pela Educação sem violência em Goiânia, 26 de junho de 2019.
































Foto: Daniel Raylander - Atividade do Dia Nacional pela Educação sem violência em Goiânia, 26 de junho de 2019

23 de jun. de 2019

"acuda êhhh pai" - racismo, preconceito de classe e violências físicas e psicológicas para lidar com conflitos, razões da arribada do Rei do Baião.

"bate neu, tháa, tháa. Faça isso não mãe [...] Meu pai que nunca tinha me batido, acuda êhhh pai, solta Gonzaga, Santana! [...] Minha mãe me soltô e meu pai emendô. Olha só, aí eu fiquei triste. Aí eu dei no pé. Fugi!" 

Luiz Gonzaga





“No entendimento de Azevedo e Guerra (1995), a punição física interfere muito nos vínculos entre pais e filhos. Esse tipo de disciplinamento gera sentimentos de raiva, cólera, de angústia dos filhos em relação aos que lhes causam dor e sofrimento físico. Muitos pais acreditam que esse método é funcional no controle do comportamento de seus filhos, no entanto, ele é obtido por meios não-educativos, como ‘o medo e a intimidação. Portanto, o relacionamento pais-filhos não está se dando num plano de cooperação, de respeito mútuo’ (AZEVEDO; GUERRA, 1995, p. 26).



Na pesquisa A disciplina como forma de violência contra crianças e adolescentes (MARQUES et al., 1994), alguns depoimentos evidenciam o comprometimento do vínculo familiar em decorrência do padrão interacional violento. Dois relatos ilustram como a violência física afetou a vida dos sujeitos entrevistados. Em um depoimento um sujeito diz: ‘tive vários conflitos com meu pai, que era uma pessoa muito rígida. Saí de casa quando tinha 12 anos. Com 15 anos voltei para casa, mas meu pai continuava o mesmo. Por isso, fui embora e nunca mais voltei’(apud MARQUES et al., 1994). Em outra entrevista, um sujeito informa: ‘quando eu era pequena, eu era muito castigada. Meu pai era muito agressivo. Ele batia até tirar sangue, que era para a gente aprender. E por isso, eu casei muito cedo para fugir dele’(apud MARQUES et al., 1994). O casamento precoce ou o abandono do lar foi o caminho encontrado por esses dois sujeitos para romper com a relação familiar violenta.



A fuga de casa foi também a opção do jovem cantor e compositor nordestino, Luiz Gonzaga, após ter sido surrado pela mãe e pelo pai. Em uma gravação ao vivo, no show Volta pra curtir de 1972, ele conta como ocorreu a sua arribada de casa (anexo V). O cantor conhecido como o Rei do Baião conta a sua história ao som do triângulo e da zabumba:



‘Só voltei em casa 16 anos depois da minha arribada. Só fugi de casa porque eu queria casar. Mãe era mulher violenta, casar haaam! Mas eu era tocadozinho pé de serra, namorador como o diabo, neguim fiota...Namorei uma estudante. Aí menino quando o pai da moça soube deu uma polpa da moléstia. (...) Na mesma hora mãe, nós voltamos pra casa (...). Daí a pouco menino foi um São João de Rei lá dentro da Camarinha, tháa, tháa [imitando sons secos de pancadas], (...) toma, toma valente, tháa, tháa [sons de pancadas]. (...) meu pai que nunca tinha me batido aproveitou e emendou... Ah menino só voltei 16 anos depois (...)’ (GONZAGA, 1972).”



Fragmento da dissertação de SILVA, Maria Aparecida A. da. A violência física intrafamiliar como método educativo punitivo disciplinar e os saberes docentes. 2008. 224 p. Dissertação (Mestrado em Educação) -Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2008.


Foto: cena do filme “De pai para filho” de Breno Silveira