3 de jul. de 2018

CIDH - OEA e CONANDA condenam o Estado por morte de adolescentes no incêndio do CIP - Claudia Nunes/Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino


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Governo brasileiro é criticado por tragédia goiana e exortado a cumprir tratados internacionais.
Governador de Goiás será convocado para prestar esclarecimentos perante Conselho.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), com sede em Washington, nos Estados Unidos, publicou um comunicado de imprensa, no último dia 27 de junho, declarando-se alarmada com a incessante violência e as mortes de adolescentes no Sistema Sócioeducativo do Brasil.
O comunicado cita em detalhes a morte dos dez adolescentes goianos, vítimas do incêndio no Centro de Internação Provisória (CIP) de Goiânia no dia 25 de maio, e conclama o Estado brasileiro a cumprir as recomendações feitas pela CIDH durante a visita de inspeção do funcionamento do SINASE, em novembro de 2017, em que foram constatadas graves deficiências estruturais.

Ainda sobre o CIP, a Comissão Interamericana reitera a situação irregular de funcionamento dentro do 7˚ Batalhão da Polícia Militar, a falta de condições de atendimento, a superlotação e narra o histórico de atuação do Ministério Público em busca de fazer cumprir um Termo de Ajustamento de Conduta com o governo estadual, que nunca respeitado segundo a Defensoria Pública Estadual.

A CIDH tem mostrado em repetidas ocasiões sua consternação por circunstâncias desta natureza em centros de privação de liberdade para adolescentes no Brasil e manifestado que neste país existe, desde muitos anos um contexto estrutural e generalizado de atos de violência, motins, fugas, superlotação, insalubridade das instalações e falta de programas sócio-educativos nestes centros, entre outras situações de violações dos direitos humanos. Tem expressado sua preocupação pelo fato de que quando os adolescentes entram em contato com o sistema de atendimento sócioeducativo são expostos a violações de seus direitos, ao invés de representar uma oportunidade para apoiar sua inserção de modo construtivo e positivo na sociedade, para prevenir a reincidência, como prevê a legislação brasileira”, diz o comunicado.
O documento continua afirmando que identifica poucos avanços no país e vê “um limitado compromisso para priorizar esta temática com a urgência que a CIDH havia solicitado e exorta de novo o Estado Brasileiro para que leve em consideração as recomendações feitas durante a visita de inspeção e tome medidas de acordo com os compromissos que o Estado assumiu ao ratificar os tratados internacionais de direitos humanos”.

Veja a íntegra do comunicado no link: http://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2018/138.asp


CONANDA realizará uma missão em Goiânia e convocará governador do estado

Reunida nos últimos dias 26 e 27 de junho, a Comissão Nacional de Direitos Humamos e Ação Parlamentar do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA) recebeu uma comitiva goiana formada pelo defensor público de Goiás, Tiago Gregório, Mariana Carvalho Costa, assessora jurídica do Núcleo da Infância da Defensoria Pública Estadual; Luciana Pereira Lopes e Erinaldo da Costa Barbosa, pais do adolescente Lucas Ranyel, morto no incêndio do CIP; Fabrício Rosa, representante do Movimento dos Policiais Antifascismo; e Ângela Cristina, integrante da coordenação executiva do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino.

Um dos principais pontos da pauta de discussões da Comissão foi justamente a situação das ações referentes às mortes dos 10 adolescentes, vítimas do incêndio no CIP, que teve a participação dos representantes de Goiás.

Luciana Lopes fez um relato a partir da experiência de acompanhamento do atendimento de seu filho no sistema sócioeducativo goiano e apontou a completa ausência de atividades de ressocialização dos adolescentes, superlotação, situações de agressão e violência, o trauma vivido com a tragédia e a falta de apoio às famílias.
O sistema de justiça nunca acolheu as ações de denúncia sobre a rotineira superlotação da unidade e as violações de direitos humanos. A indeterminação dos prazos do cumprimento das medidas sócioeducativas e a falta de projetos socioeducativos são questões graves e se configuram como violência institucional. Existe ausência de respostas às deliberações das audiências públicas realizadas e até mesmo ausência da presença dos representantes do Estado. Se houvesse retorno ao que já foi denunciado em relatórios detalhados, o caso poderia ter sido evitado”, afirmou o defensor público Tiago Gregório.
Para o coordenador geral do SINASE, Guilherme Astolfi, a prevenção é o que mais importa. “O jovem não deveria chegar lá. Quando ele chega no sistema é porque tudo falhou. Falhamos como Estado, como professores, como sociedade. Antes de sermos integrantes de comissões de políticas públicas, somos seres humanos e ficamos muito emocionados com uma situação como essa. Ficamos muito comovidos com esses relatos. É importante chegar antes para que tragédias não aconteçam, porque um bem como a vida não se repara. É importante lutar para que o sistema sócioeducativo seja de fato educativo e não punitivo. Não podemos permitir que esses fatos aconteçam. A mobilização social também é muito importante”, disse ele.
Deliberações

Entre as principais deliberações da reunião plenária que sucedeu a audiência, está a convocação para a presença do governador de Goiás, José Eliton, na próxima plenária para responder ao Conselho sobre a situação do SINASE no estado e as devidas providências a respeito do caso ocorrido.

Além disso, será realizada uma missão no estado de Goiás com representantes do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA), Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) e Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT) para analisar a situação atual do CIP e demais unidades; e serão expedidos ofícios para o governo do estado, Ministério Público, Sistema de Justiça, CEDCA GO, Segurança Pública e GECRIA, exigindo informações sobre a investigação, as ações de reparação às famílias, e a situação dos adolescentes nas unidades de internação de todo o estado.


Entenda o caso

No dia 25 de maio de 2018, nove adolescentes morreram carbonizados no alojamento 1 da Ala A, do Centro de Internação Provisória (CIP) de Goiânia (Goiás), instalado de forma irregular no 7˚ Batalhão da Polícia Militar, onde cumpriam medidas sócioeducativas. Um outro adolescente, internado no mesmo alojamento, sobreviveu porque abriu o chuveiro e se abrigou ali até a chegada dos Bombeiros. Teve queimaduras em 90% do corpo e ficou internado em estado grave na UTI da Unidade de Queimados do Hospital de Urgências de Goiás (HUGOL) até falecer no dia 14 de junho.

Daniel de Freitas Batista, Douglas Matheus Pantoja, Elias Santos Bonfim, Elizeu Araujo de Castro, Gabriel Sena da Silva, Jhony Barbosa Cardoso, Lucas Oliveira de Araujo, Lucas Rangel Lopes e Wallace Feliciano Martins são os adolescentes mortos sob a tutela do Estado de Goiás
dentro da cela. Daniel Paulo Cardoso de Sousa foi a 10˚ vítima fatal após resistir 21 dias no hospital.

Segundo informações preliminares divulgadas pela imprensa local, os próprios internos teriam dado início ao incêndio durante um suposto protesto contra as péssimas condições da unidade. Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Mulher, Desenvolvimento Social, Igualdade Racial, Direitos Humanos e do Trabalho (Secretaria Cidadã), responsável pelo CIP, negou a versão de rebelião ou protesto, mas não deu mais detalhes sobre o incêndio.

Ainda não há uma versão definitiva sobre o que de fato ocorreu. A investigação sobre as causas e responsabilidades do incêndio que matou os dez adolescentes está sendo conduzida pela Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), cujo titular é o delegado Thiago Damasceno. Atualmente, o inquérito, que é sigiloso, é presidido pelo delegado adjunto Hellyton Carvalho, também da DIH.


Assessoria de Comunicação
Claudia Nunes GO 719 JP

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