Brasil é denunciado na OEA por cortes em saúde e educação - CONECTA Direitos Humanos
Para 17 entidades, governo e Legislativo impulsionam medidas que ameaçam Constituição e normas internacionais
Na
próxima terça-feira (6/12), a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA) vai discutir com organizações da sociedade civil e
representantes do governo federal projetos de lei e medidas do Executivo
que, segundo as entidades, ameaçam os direitos humanos no Brasil. No
topo da lista de iniciativas que serão denunciadas ao órgão - o mais
importante no monitoramento de violações no continente - está a PEC 55/16
(PEC 241/2016 na Câmara dos Deputados), que congela gastos públicos em
áreas como saúde e educação por vinte anos, limitando os reajustes à
inflação. O texto deve ser votado em segundo turno no Senado no dia
13/12.
"Dadas
as projeções de crescimento e envelhecimento da população brasileira,
um cenário de aumento real nulo dos gastos públicos significa que o
gasto per capita será efetivamente menor", afirmam as entidades
em documento entregue aos comissionados da CIDH. "Na prática, isso
acarretará em uma erosão dos direitos sociais conquistados nas últimas
décadas, afetando principalmente os grupos sociais mais vulneráveis, que
dependem exclusivamente dos serviços públicos", completam.
As
organizações mencionam, ainda, normas internacionais que seriam violadas
com uma eventual aprovação da PEC. Um exemplo são as diretrizes do
Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU para a
aplicação de medidas de austeridade. De acordo com o órgão, qualquer
iniciativa nesse âmbito deve ser temporária e proporcional,
não-discriminatória, levar em consideração todas as alternativas
disponíveis e garantir, em sua formulação, a participação dos grupos e
pessoas afetadas. "A PEC 55 não atende a nenhum desses requisitos",
afirmam as entidades.
Lista de retrocessos
Além
da PEC 55/16, figura na denúncia o que as organizações chamam de
"desmonte da estrutura" das políticas públicas de direitos humanos: a
extinção dos ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres, da Juventude
e dos Direitos Humanos e a interrupção de programas como o Provita
(Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas), o PPCAAM
(Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados) e o PPDDH
(Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos) através de
portaria assinada pelo Ministério da Justiça e Cidadania.
Essas
iniciativas do governo do federal, afirmam as entidades, "contrariam
compromissos internacionais com a efetivação dos direitos humanos, cujos
marcos normativos implicam, demandam e recomendam a construção de uma
estrutura institucional para a sua implementação".
Outro
caso que será mencionado na audiência é o da destituição do
diretor-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Ricardo Melo,
e a extinção por meio de Medida Provisória do Conselho Curador da
instituição - colégio que era formado, em sua maioria, por
representantes da sociedade civil.
Também
receberão destaque o uso da lei de organizações criminosas para
perseguir ativistas e movimentos sociais e a violência policial em
manifestações, com ênfase na repressão ao protesto que acontecia na
Esplanada dos Ministérios no dia da votação em primeiro turno da PEC
55/16 no Senado. "O exercício do direito à liberdade de expressão, que
deveria ser garantido por um Estado Democrático de Direito, foi
transformado em um campo de batalha, no qual policiais fortemente
armados reprimiam com extrema truculência os cidadãos na capital do
país", afirmam na denúncia.
Esse é
o primeiro período de audiências temáticas na Comissão depois da posse
do presidente Michel Temer e será realizado na Cidade do Panamá, e não
em Washington, nos Estados Unidos, onde se encontra a sede do órgão. A
mudança de local se deve à grave crise financeira que atinge a CIDH desde o início do ano.
A
apresentação da denúncia pelas organizações ocorrerá diante dos
comissionados e de representantes do governo brasileiro, que terão
direito a confrontar as informações apresentadas. As audiências têm o
objetivo de informar a Comissão sobre uma situação específica de
violação de direitos ou ameaça de retrocessos.
A
audiência será transmitida ao vivo no dia 6/12, terça-feira, a partir
das 14h no horário de Brasília (11h no horário do Panamá), através do
site www.oas.org.
Fonte: Conectas - Direitos Humanos
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