“...isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.”
Paulo Leminsky
Com a poesia de Paulo Leminsky e voz de Arnaldo Antunes deixo aqui o meu agradecimento público a todos e todas que estiveram presentes, de fato ou em pensamento, na defesa da tese “Alforria pelo Sensível – Corporeidade da Criança e a Formação Docentes”.
Segue abaixo algumas informações da pesquisa “Alforria pelo Sensível – Corporeidade da Criança e a Formação Docentes”.
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Educação
Programa de Pós-graduação em Educação
Linha de Pesquisa Formação, Profissionalização Docente e Práticas Educativas
Pesquisa vinculada a REDECENTRO – pesquisa a produção acadêmica sobre professores – estudo interinstitucional da Região Centro – Oeste (UFG, UFT, UnB, UFMS, UFMT, UFU e UNIUBE).
Orientadora
Profa. Dra. Ruth Catarina Cerqueira Ribeiro de Souza
Tese da pesquisa
Somente uma formação docente que integre conhecimentos objetivos e subjetivos, ou seja, que integre o pensar, o sentir e o agir, poderá criar condições e possibilidades para uma real crítica à prática de bater para educar crianças.
Objetivo geral
Construir fundamentos pedagógicos para uma formação docente que contribua para a desnaturalização da violência física intrafamiliar como método educativo punitivo disciplinar.
A fim de alcançar esse objetivo central investiguei e analisei experiências formativas que fazem a crítica à prática de bater para educar crianças e adolescentes e experiências formativas que, de maneira exemplar, realizavam a integração entre conhecimentos objetivos e subjetivos na formação docente.
Metodologia
Esta tese se configura como uma pesquisa qualitativa, tipificada como estudo de caso (MINAYO, 1992). Em razão da interligação dos temas, formação docente e violência física contra crianças, a pesquisa empírica teve duas frentes de investigação:
A primeira teve como objeto de estudo as disciplinas “Docência Universitária” do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás e “Investigación en Didáctica, Formación y Evaluación Educativa - Saberes pedagógicos y entornos complejos” (Bloque Experiencia educativa y saber didáctico) do Màster Oficial de la Faculdade de Pedagogia de la Universidad de Barcelona.
O acompanhamento da disciplina “Docência Universitária” aconteceu no segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre de 2011. Esses dois semestres totalizaram 32 encontros acadêmicos de quatro horas/aulas cada. A observação participante da disciplina “Investigación en Didáctica, Formación y Evaluación Educativa - Saberes pedagógicos y entornos complejos” ocorreu no segundo semestre de 2012 em oito encontros de duas horas/aula cada. Ao todo foram 144 horas de experiência vivida em sala de aula nessas duas disciplinas que trabalharam com o tema da formação de professores.
A segunda investigação aconteceu junto a formadores de referência que atuam com o tema da violência física intrafamiliar contra crianças. Os formadores de referência foram indicados pela Rede Não Bata Eduque - Salvador (BA), Fortaleza (CE), Brasília (DF), São Paulo (SP), São Carlos (SP), Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Rio do Sul (SC). O total de horas gravadas nas entrevistas narrativas foram de dez horas e doze minutos.
Formadores de Referências Entrevistados:
Benedito Rodrigues dos Santos (Região Centro-Oeste)
Vannuzia Leal Andrade Peres (Região Centro-Oeste)
Célia Maria Stolze Silvany (Região Nordeste)
Eleonora Ramos (Região Nordeste)
Francisco Sulivan Bastos Mota (Região Nordeste)
Dalka Chaves de Almeida Ferrari (Região Sudeste)
Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams (Região Sudeste)
Marina Rezende Bazon (Região Sudeste)
Rachel Niskier (Região Sudeste)
Mariza Silveira Alberton (Região Sul)
Mariane Steffen (Região Sul)
Questões que me guiaram
¿Lo que es educar un niño? (CONTRERAS, 2012) e
Para que educam a criança? (SILVA, 2008).
Considerações Finais
A naturalização da violência, da ordem em que os mais fortes se sentem no direito de oprimir os que julgam mais fracos, não se estrutura apenas por intermédio de forças externas ao sujeito. Ao contrário, ela se sedimenta em um entrelaçamento dialético entre objetividades e subjetividades, em que as forças sociais que regem e organizam o modelo relacional dominação-sujeição, comando-obediência são historicamente incorporados nos sujeitos. No plano subjetivo, essa incorporação se opera na negação em si e no outro do sofrimento e dos efeitos deletérios que a violência provoca. Embrutecidos, os homens e as mulheres entendem e aceitam ser natural a brutalidade.
Se o torpor do embrutecimento cria condições para a formação do sujeito da indiferença, acredito que será pelo resgate da sensibilidade que romperemos com a naturalização da violência na educação familiar das crianças. A carta de alforria que deslegitima a relação dominação-sujeição não poderá ser escrita com a mesma régua e compasso que projetam a arquitetura desse modelo relacional. Se a violência é o cimento que sela os elos da corrente que aprisionam a vontade, a livre expressão de sentimentos, de pensamentos e de ações para que os sujeitos se submetam ao arbítrio, acredito que não será por intermédio dela que construiremos uma práxis pedagógica promotora da emancipação e da autonomia dos sujeitos.
O fragmento do poema Paulo Leminsky foi enviado pela amiga e companheira de caminhada em defesa da infância, Isabel Ferradans, no dia 30 de agosto de 2013.
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