2 de fev. de 2013

Sobre o amor e o cuidado com o outro

A palavra é a maior obra civilizatória construída pela humanidade, mas são os atos que salvam o mundo” (Cida Alves).

Sobre o amor e o cuidado

 

É muito difícil conceituar o amor, mesmo por que ele se configura diferente em cada tipo de relação humana, pai e filho, mestre e aprendiz, irmãos, amigos, companheiros…

O amor pode ser manso, intenso, recatado, espontâneo, alegre, contemplativo, firme, delicado, mas com certeza ele não se sustenta na distância, na frieza, na polidez de palavras vazias de afeto e na pieguice.

Acredito que o amor só cumpre sua missão se for convertido em gestos de cuidados que considerem as dificuldades e as reais necessidades do outro.

Estimado leitor,

Nesse domingo deixo com você algumas tentativas de definição do amor. Ashey Montagu, Marta Medeiros e o filme “Intocáveis” estão aqui para apresentar as suas versões desse sentimento.

 

 

Pai Canguru

Foto de pai canguro em uma UTI neonatal

 

“Amor, uma palavra frequentemente usada, mas poucas vezes por cientistas em seu papel científico, raramente é definida. Uma definição breve seria: comportamento calculado para conferir a um outro benefícios de sobrevivência, de forma criativamente ampliada. Para a criança dependente, consiste na satisfação de suas necessidades básicas, assim como das necessidades perceptivas como tato, visão, audição e experiência vestibulares, orais e gastrointestinais, para enumerar as mais óbvias. Ainda mais importante que isso é a comunicação do sentimento de profundo envolvimento no bem-estar do outro, de que a criança possa depender de você para o apoio, o sustento e os estímulos que ela requer para ter a sensação de segurança, tão essencial para o desenvolvimento sadio” (MONTAGU, 1978, p.197).

 

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Cena do filme A delicadeza do amor

 

Sentir-se amado

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Martha Medeiros

 


Dedico essa postagem a minha querida orientadora Ruth Catarina, que é meu guia amoroso (no sentido freiriano) de como ser uma educadora que faz do processo de ensinar uma coisa de gente inteiro e não pela metade.

Um comentário:

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