A rosa não mais floresce
Faz uns meses, viajei pela Europa por duas semanas. Visitei os
lugares que os turistas visitam, vi as obras de arte que os turistas vêem.
Coisas lindas, comoventes. Mas não ficaram. Foram logo esquecidas. O que ficou
foi um livro que encontrei numa livraria. Comprei. Pinturas e desenhos de um
artista que eu não conhecia, Carl Larsson, sueco, nascido em 1853 (Taschen,
1994). O filósofo alemão Ludwig Feuerbach diz que a nossa imagem aparece
espelhada naquilo que vemos. Ao ver as telas de Larsson descobri quem sou. Reconheço
o gênio de pintores modernos como Picasso, Dali, Miró. Inventaram novas
linguagens plásticas. Gênios. Mas eu nunca me vejo refletido nelas. Suas obras
me causam assombro. Mas não as amo. Não quereria viver dentro delas. As telas
de Larsson, ao contrário, me dariam felicidade se eu estivesse dentro delas.
São cenas de felicidade infantil: uma casa com fumaça saindo da chaminé, fogão
de ferro com gato e panelas, um quintal com galinhas deitadas no capim, um
cachorro diante da porta, crianças nuas nadando, menina com um gato, menina
debaixo da mesa, menina pescando, a família colhendo maçãs…
Os críticos de arte, ao examinar uma tela, trazem consigo uma
parafernália de informações sobre estilos, influências, técnicas, linguagens.
Eles são seres de “consciência crítica”. Eu, ao contrário, me esqueço de tudo o
que sei ao olhar as telas de Larson. Viro criança novamente – consciência
totalmente ingênua. Nada tenho a ver com os críticos de arte e especialistas em
estética que estão em busca das novas linguagens da pintura. Eu gostaria mesmo
é de viver dentro das cenas simples que Larsson pinta com precisão e olhar
amoroso. Sou um romântico.
“No princípio era uma cena de felicidade…” A alma, no seu lugar
mais profundo, é uma cena de felicidade. Viver é sair por aí, ou procurando a
cena feliz ou tentando construir a cena feliz. O amor por um homem ou por uma
mulher acontece quando, repentinamente, ao ver um rosto, tem-se a impressão de
havê-lo visto lá, dentro da cena da alma: “Quando te vi amei-te já muito antes,
/ Tornei a achar-te quando te encontrei. / Nasci para ti antes de haver o
mundo” (Fernando Pessoa). Amamos uma pessoa porque a sua imagem se insere na
cena de felicidade que havia na memória “antes de haver o mundo”… A paixão
acontece quando o rosto real à minha frente coincide, na minha fantasia, com a
imagem perdida que busco (para completar a cena).
Os dois, à mesa do restaurante. A comida e a bebida são
desculpas. Os dois estão em busca da imagem perdida. Os rostos são os mesmos.
Eles se reconhecem. Os retratos o comprovam. Mas as imagens amadas fugiram dos
rostos conhecidos, os mesmos rostos. O poema de Cassiano Ricardo “Teu Retrato”
sugere, de forma triste e amorosa, esse escorregar dolorido da imagem amada
para fora do rosto conhecido. “Por que tenho saudade/ de você, no retrato, /
ainda que o mais recente?/ E por que um simples retrato,/ mais que você, me
comove,/ se você mesma está presente?/ Talvez porque o retrato/ (exato, embora
malicioso)/ revele algo de criança/ (como, no fundo da água,/ um coral em
repouso)./ Talvez porque o seu retrato/ mais se parece com você /do que você
mesma ( ingrato).”
Os dois, à mesa do restaurante. A comida e a bebida são
desculpas. Os dois estão em busca da imagem perdida. Os rostos são os mesmos.
Eles se reconhecem. Os retratos o comprovam. Mas as imagens amadas fugiram dos
rostos conhecidos, os mesmos rostos. O poema de Cassiano Ricardo “Teu Retrato”
sugere, de forma triste e amorosa, esse escorregar dolorido da imagem amada
para fora do rosto conhecido. “Por que tenho saudade/ de você, no retrato, /
ainda que o mais recente?/ E por que um simples retrato,/ mais que você, me
comove,/ se você mesma está presente?/ Talvez porque o retrato/ (exato, embora
malicioso)/ revele algo de criança/ (como, no fundo da água,/ um coral em
repouso)./ Talvez porque o seu retrato/ mais se parece com você /do que você
mesma ( ingrato).”
Os dois, à mesa do restaurante. A comida e a bebida são
desculpas. Os dois estão em busca da imagem perdida. Os rostos são os mesmos.
Eles se reconhecem. Os retratos o comprovam. Mas as imagens amadas fugiram dos
rostos conhecidos, os mesmos rostos. O poema de Cassiano Ricardo “Teu Retrato”
sugere, de forma triste e amorosa, esse escorregar dolorido da imagem amada
para fora do rosto conhecido. “Por que tenho saudade/ de você, no retrato, /
ainda que o mais recente?/ E por que um simples retrato,/ mais que você, me
comove,/ se você mesma está presente?/ Talvez porque o retrato/ (exato, embora
malicioso)/ revele algo de criança/ (como, no fundo da água,/ um coral em
repouso)./ Talvez porque o seu retrato/ mais se parece com você /do que você
mesma ( ingrato).”
Os dois, à mesa do restaurante. A comida e a bebida são
desculpas. Os dois estão em busca da imagem perdida. Os rostos são os mesmos.
Eles se reconhecem. Os retratos o comprovam. Mas as imagens amadas fugiram dos
rostos conhecidos, os mesmos rostos. O poema de Cassiano Ricardo “Teu Retrato”
sugere, de forma triste e amorosa, esse escorregar dolorido da imagem amada
para fora do rosto conhecido. “Por que tenho saudade/ de você, no retrato, /
ainda que o mais recente?/ E por que um simples retrato,/ mais que você, me
comove,/ se você mesma está presente?/ Talvez porque o retrato/ (exato, embora
malicioso)/ revele algo de criança/ (como, no fundo da água,/ um coral em
repouso)./ Talvez porque o seu retrato/ mais se parece com você /do que você
mesma ( ingrato).”
Os dois, à mesa do restaurante. A comida e a bebida são
desculpas. Os dois estão em busca da imagem perdida. Os rostos são os mesmos.
Eles se reconhecem. Os retratos o comprovam. Mas as imagens amadas fugiram dos
rostos conhecidos, os mesmos rostos. O poema de Cassiano Ricardo “Teu Retrato”
sugere, de forma triste e amorosa, esse escorregar dolorido da imagem amada
para fora do rosto conhecido. “Por que tenho saudade/ de você, no retrato, /
ainda que o mais recente?/ E por que um simples retrato,/ mais que você, me
comove,/ se você mesma está presente?/ Talvez porque o retrato/ (exato, embora
malicioso)/ revele algo de criança/ (como, no fundo da água,/ um coral em
repouso)./ Talvez porque o seu retrato/ mais se parece com você /do que você
mesma ( ingrato).”
"A Rosa não mais Floresce" do livro O AMOR QUE ACENDE
A LUA de Rubem Alves
Foto: Cena do filme “Viver duas vezes” de María Ripoll