“Um outro aspecto que chama atenção no documento é o aumento de mortes decorrentes de intervenções policiais. ‘A questão da letalidade policial é um problema crônico e com o qual temos muita dificuldade de lidar. Temos agora um dos números mais altos da nossa série histórica para mortes decorrentes de intervenção policial, com 4.224 casos em 2016. Dentro de nossa série histórica, atingimos o pico mais alto de mortes por policiais militares ou civis. Dentro de algumas unidades da federação, de alguns estados brasileiros, é possível encontrar taxas mais altas, mas para o conjunto do Brasil, essa é a primeira vez que a gente consegue alcançar um número tão alto como esse’, contextualiza Marques”.
O
Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou esta semana um Anuário
Brasileiro da Segurança. O documento, que está em sua 11ª edição, compila e
analisa os dados sobre a violência no Brasil. Para falar sobre o assunto, RFI
Convida David Marques, pesquisador do Fórum.
Sete pessoas são mortas por hora no Brasil, segundo as
informações do Anuário Brasileiro de Segurança. Para David Marques, “esse é um
dado bastante
preocupante. A gente supera a marca de 60 mil pessoas assassinadas
no Brasil em 2016. Conseguimos chegar neste número porque a gente faz um
trabalho por meio da Lei de acesso à informação. Pedimos a todas as secretarias
de Segurança Pública dos estados brasileiros responsáveis pelos registros das
informações criminais e boletins de ocorrência”, explica o pesquisador do Fórum
Brasileiro de Segurança.
Um outro aspecto que chama atenção no documento é o aumento de
mortes decorrentes de intervenções policiais. “A questão da letalidade policial
é um problema crônico e com o qual temos muita dificuldade de lidar. Temos
agora um dos números mais altos da nossa série histórica para mortes
decorrentes de intervenção policial, com 4.224 casos em 2016. Dentro de nossa
série histórica, atingimos o pico mais alto de mortes por policiais militares
ou civis. Dentro de algumas unidades da federação, de alguns estados
brasileiros, é possível encontrar taxas mais altas, mas para o conjunto do
Brasil, essa é a primeira vez que a gente consegue alcançar um número tão alto
como esse”, contextualiza Marques.
Dificuldade da Justiça brasileira de lidar com crime e violência
“Temos um cenário complexo dentro do Brasil. Um paradoxo,
uma coisa bastante difícil de explicar. Regiões que conseguiram nos últimos 10,
15 anos, reduzir um pouco a questão da desigualdade socioeconômica também foram
locais onde verificamos acréscimo da violência, principalmente os estados e
capitais da região Norte e do Nordeste brasileiro. É ali que a gente verifica o
maior crescimento. Contudo, alguns estados da região centro-Oeste também
verificaram crescimento dos seus índices de homicídio.
“Em alguma medida, isso tem a ver com a dificuldade do sistema
de segurança e Justiça criminal para lidar com o crime e a violência. Por muito
tempo esses foram, e ainda continuam sendo, de fato, setores da política
pública que não têm prioridade política, tanto do ponto de vista de
investimentos feitos de forma eficiente, quanto esse tema acaba ficando refém
de discursos refratários à mudança, e discursos que acreditam que a violência é
a melhor maneira de controlar a própria violência”, diz o especialista.
“O que o Anuário mostra esse ano é que essa estratégia de
controle do crime não vem dando certo. Nunca morreram tantas pessoas
assassinadas, nunca tantos policiais morreram assassinados, e nunca tantas
pessoas morreram vítimas de homicídios policiais”, afirma David Marques.
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