14 de jul. de 2017

"teu irmão que vive embaixo, no inferno” ¬ "tu hermano que vive abajo, en el infierno" - Escravidão Moderna ¬ esclavitud moderna por Pablo Neruda & Lisa Kristine




"E este me disse: Aonde fores,
fala destes tormentos,
fala tu, irmão, de teu irmão
que vive embaixo, no inferno.”

  
Y ése me dijo: "Adonde vayas,
habla tú de estos tormentos,
habla tú, hermano, de tu hermano
que vive abajo, en el infierno".

Pablo Neruda 

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Os homens de Nitrato

Eu estava no salitre, com os heróis obscuros,
com o que cava neve fertilizante e fina
na casca dura do planeta,
e apertei com orgulho suas mãos de terra.

Me disseram: “Olha,
irmão, como vivemos
aqui em “Humberstone”, aqui em “Mapocho”,
em “Ricaventura”, em “Paloma”,
em “Pan de Azúcar”, em “Piojillo”.

E me mostraram suas rações
de miseráveis alimentos,
seu piso de terra nas casas,
o sol, o pó, os percevejos,
e a solidão imensa.

Vi o trabalho dos raspadores,
que deixam afundada, no cabo
da madeira da pá,
a marca toda de suas mãos.

Escutei uma voz que vinha
do fundo estreito da escarpa,
como de um útero infernal,
e depois assomar em cima
uma criatura sem rosto,
uma máscara poeirenta
de suor, de sangue e pó.

E este me disse: “Aonde fores,
fala destes tormentos,
fala tu, irmão, de teu irmão
que vive embaixo, no inferno.”

Pablo Neruda




Los hombres del Nitrato

Yo estaba en el salitre, con los héroes oscuros,
con el que cava nieve fertilizante y fina
en la corteza dura del planeta,
y estreché con orgullo sus manos de tierra.

Ellos me dijeron: "Mira,
hermano, cómo vivimos,
aquí en «Humberstone», aquí en «Mapocho»,
en «Ricaventura», en «Paloma»,
en «Pan de Azúcar», en «Piojillo»".

       Y me mostraron sus raciones
       de miserables alimentos,
       su piso de tierra en las casas,
       el sol, el polvo, las vinchucas,
       y la soledad inmensa.

       Yo vi el trabajo de los derripiadores,
       que dejan sumida, en el mango
       de la madera de la pala,
       toda la huella de sus manos.

       Yo escuché una voz que venía
       desde el fondo estrecho del pique,
       como de un útero infernal,
       y después asomar arriba
       una criatura sin rostro,
       una máscara polvorienta
       de sudor, de sangre y de polvo.

       Y ése me dijo: "Adonde vayas,
       habla tú de estos tormentos,
       habla tú, hermano, de tu hermano
       que vive abajo, en el infierno".

Pablo Neruda


 Fotos de Lisa Kristine

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