"Eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas" .
Jean-Paul Sartre
Em Santa Maria (RS), um sinalizador é lançando em ambiente fechado com teto altamente inflamável. Após o início do incêndio jovens em pânico tentam fugir pela única saída que existia na boate, mas essa porta foi bloqueada por seguranças para que eles não saíssem sem pagar a comanda. Resultado fatal: 231 jovens mortos.
Em São Paulo, mãe maltrata filho e vai dormir. Segundo o seu depoimento ela só percebeu que ele estava morto pela manhã. Os vizinhos informaram à polícia que ela tentou jogar o corpo do filho de 5 meses no lixo.
A vida é tão preciosa, mas tão frágil!
Porque descuidamos tanto assim dela?
Nos momentos extremos qual tem sido o valor que guia e sustenta os nossos atos?
Sei que é difícil achar palavras de consolo nesse momento, mas quero deixar a minha solidariedade a todos os familiares e amigos dos 231 jovens de Santa Maria (RS).
Quero ainda registra o meu profundo lamento pela morte do bebê em São Paulo que, diferente dos jovens de Santa Maria, não teve nem chance de tentar fugir do perigo que ameaçava sua breve vida.
Cida Alves
Estimado Leitor do blog EDUCAR SEM VIOLÊNCIA nesse domingo trago a voz de Ashey Montagu e a história real de uma criança para fazer a minha defensa dos lobos.
“O homem é o lobo do homem”, aqui jaz uma injustiça história que precisamos reparar. Injustiça que é fruto do antropomorfismo de certos cientistas que insistem em atribuir emoções humanas aos outros animais. É um grande equívoco responsabilizar a natureza, ou seja, a nossa herança animal pelas violências cometidas por nos humanos. A VIOLÊNCIA é uma construção humana, como também são a ÉTICA e a ESTÉTICA.
Em acordo com o pensamento do antropólogo Ashey Montagu (1978), eu acredito que os seres humanos possuem a capacidade de manifestar qualquer tipo de comportamento, não só o agressivo, “mas também bondade, crueldade, sensibilidade, egoísmo, nobreza, covardia, alegria etc. O comportamento agressivo é apenas mais um da longa lista (…)” (MONTAGU, 1978, p.11).
“Darwin o fez, Freud também, em The Origin of Species (A Origem das Espécies), menciona ‘a guerra da natureza’, e já que o homem era parte da natureza seria de se esperar que também fosse uma criatura belicosa. Freud, em Das Ubenhagen in der Kultur (O Mal-Estar na Cultura, 1930) referiu-se ao homem como o lobo do homem, cuja agressividade ‘se manifesta espontaneamente e revela os homens como feras selvagens para as quais o pensamento de poupar sua própria espécie é estranho’. Em cada ponto, em sua visão hobbesiana da natureza, quanto aos lobos, quanto à espontaneidade da agressividade, quanto aos selvagens e quanto às feras Freud está equivocado, profunda e abissalmente equivocado. Não existe guerra da natureza. Se existe uma lei da natureza, é a do equilíbrio entre a cooperação e o conflito, que leva a sociedades cooperativas estáveis” (MONTAGU, 1978, p.265).
Uma história real: o menino Marcos Rodrigues Pantoja (Espanha 1946) foi abandonado pelo pai e adotado por uma matilha de lobos
“Contrariamente ao que creem Freud e os leigos, os lobos não acatam outros lobos. A agressividade no homem e nos outros animais não é espontânea, mas necessita de algum estímulo externo para ser ativado. As feras não são selvagens, e os ‘selvagens’ raramente são tão selvagens quanto os acusam de ser. Numa época de escaladas da violência, tornou-se moda culpar nossos parentes animais por muitas coisas terríveis que nos fazemos mutuamente” (MONTAGU, 1978, p.266).
Trailer do filme "Entre lobos". Entre Lobos conta a história real de Marcos Rodrigues Pantoja, um garoto de 6 anos que foi vendido pelo seu pai por causa de umas cabras. Sua única alegria até esse momento era a amizade que tinha com seu irmão e seu maior sofrimento foi ser separado dele (Chorei feito uma louca). Ele vive um tempo em Sierra Morena acompanhado de um pastor idoso que lhe ensina a caçar e ter uma boa convivência com os animais que o cercam. Marcos é um garoto meigo e carente a ponto de achar se sentir melhor agora que vive com o pastor numa caverna do que no tempo em que conviveu com seus pais. O menino dizia que não passou um dia em que não apanhou da mãe, então era mais feliz vivendo com ele.
“O professor Adriaan Kortland, do Departamento de Zoologia da Universidade de Amsterdã, afirma sucintamente: ‘O objetivo da luta em muitas espécies não é tanto a luta em si, mas o estabelecimento de uma organização social que torne a luta supérflua’. Resumindo os fatos, o professor J. L. Cloudsley-Thompson afirma: ‘Os gestos ameaçadores e a exibição ritual quase sempre substituem a luta real. Desse modo, o conflito tende a se tornar ritualizado e adaptado, de forma que possa ser exercido sem danos para os rivais’. Finalmente, como o afirmam os professores Ueli Nagel e Hans Kummer, da Universidade de Zurique. ‘A agressividade nos animais é basicamente uma forma de competição e não de destruição’. O resultado fundamental do comportamento agressivo nos animais não é a morte, mas a cooperação, e seu valor principal de sobrevivência reside nisso’” (MONTAGU, 1978, p.79).
Uma ficção: a menina Misha, de sete anos de idade, começa uma viagem desesperada, para escapar dos nazistas e encontrar seus pais. Sozinha, traumatizada, terrivelmente vulnerável, sua salvação chega na forma de uma família de lobos, que a adotam.
A concepção de homem que adotamos influência diretamente nossas escolhas e decisões, afetando assim o futuro de nossas crianças e de nosso mundo (Cida Alves). Veja abaixo o que Ashey Montagu tem a dizer sobre isso:
“A ideia do homem-matador é um estado mental mais confortável que o ponto de vista oposto. Se realmente acreditamos que procedemos como procedemos por termo nascidos assim, e que nada podemos fazer para mudar, então nada podemos fazer para mudar, não é mesmo? E cada vez que traímos um amigo, falhamos, ferimos alguém, trapaceamos ou mentimos para seguir adiante, podemos culpar a natureza humana. ‘Sou apenas um ser humano’, dizemos, dando de ombros, e com isso queremos dizer: ‘Sou naturalmente perverso’, ou ‘Sou naturalmente fraco’.
‘Errar é humano, perdoar é divino’, Esta é uma versão particularmente interessante deste tema. O fato é que o erro e o perdão são atos da mesma criatura humana, mas por minhas próprias razões quero evitar assumir a responsabilidade por qualquer dos dois atos. O erro decorre de minha inevitável natureza básica, o perdão é obra de Deus, eu sou apenas um espectador.
Por outro lado, acreditar que sou responsável por meus atos é viver uma vida desconfortável. Significa que devo pensar sobre o que faço, avaliar as alternativas segundo um certo padrão, julgar, escolher e aguentar as consequências. Quantos de nós passam por esse processo? Não muitos, e o número ainda diminui substancialmente quando um caminho mais fácil nos é apontado por um grupo de ilustres cientistas que são, como todos sabem, mais brilhantes que qualquer outra pessoa” (MONTAGU, 1978, p.35).
Profecia auto realizável
“Aqui, devemos assinalar que, para fins de previsão ou de qualquer outro tipo, a pretensão de que o homem é inatamente agressivo assume a natureza de uma profecia que se realiza por si mesma. Se estamos convencidos de que somos inatamente agressivos, começaremos a ver-nos como tal, e começaremos a atuar da forma que se espera que atuemos. É verdade que devemos tentar controlar nossa agressividade, mas sempre podemos desculpar as reincidências com base em teorias tais como ‘espontaneidade’ e ‘instinto’. Nossa tendência a aceitar a violência como uma forma normal nos dizem que ser violento faz parte da natureza do homem, é um legado de seus antepassados pré-históricos” (MONTAGU, 1978, p.257).
Veja ainda algumas pesquisas citadas por Montagu (1978) sobre o tema da agressividade e a aducação de crianças:
“Com exceção do breve interlúdio do século XVIII conhecido como Iluminismo, quando não somente Luz, mas também ar fresco foram introduzidos na questão do que era a natureza humana, o conceito de pecado original e depravação natural predominou. Por exemplo, as crianças eram consideradas ‘criaturas naturalmente depravadas’ por Hannah More, a sabichona inglesa que morreu em 1833; e recentemente, em 1922, o Dr. Edward Glover, decano dos psicanalistas ingleses, falava das crianças nestes cativantes termos ‘A criança perfeitamente normal é quase completamente egocêntrica, gulosa, suja, violenta, profundamente sexual em seus objetivos, exageradas em suas atitudes, dotada, apenas do sentido de realidade primitivo, sem consciência ou sentimentos morais, e sua atitude para com a sociedade (representada pela família) é oportunista, desconsiderada, dominadora e sádica’. Na verdade, julgado pelos padrões sociais dos adultos, o bebê normal é praticamente um ‘criminoso nato’. A conferência do Dr. Glover foi republicada num volume de suas obras escolhidas em 1970” (MONTAGU, 1978, p.37).
“Sabemos também que as características do comportamento humano não são determinados exclusivamente pela hereditariedade ou pelo meio ambiente. O conceito de oposição entre natureza e educação é falaz, e responsável por mais afirmações enganosas do que qualquer outro, até mesmo do que as afirmações de Lorenz e Ardrey aplicadas aos seres humanos. Na realidade, o desenvolvimento de praticamente qualquer tipo de comportamento humano é resultado da interação entre fatores genéticos e ambientais” (MONTAGU, 1978, p.21).
“Esse mesmo princípio se aplica a qualquer tipo de comportamento, inclusive ao agressivo. Muitos estudiosos e observadores de crianças, concluíram que o comportamento agressivo se aprende e é adquirido, ou seja, uma criança cujo comportamento agressivo é recompensado por vencer, por exemplo, ou pela aprovação dos adultos, ou por qualquer tipo de melhora de sua posição – será possivelmente uma criança mais agressiva do que aquela cujo comportamento agressivo é desencorajado por constantes derrotas ou pela desaprovação” (MONTAGU, 1978, p.24).
“Nas famílias de classe média, Bandura, e Bandura, e Walters descobriram que um dos pais de meninos agressivos, ou ambos, encorajavam seus filhos a serem agressivos com amigos e professores, e outros adultos fora da família. Os meninos não agressivos provêm de famílias em que os pais encorajam os filhos a defenderem firmemente seus princípios, mas que desprezam a agressão física como forma de resolver disputas. Além disso, as crianças geralmente tomam como modelo a agressão que sofrem dos pais, tendendo a imitá-la em seu próprio comportamento com os demais. Hoffman descobriu que as mães que empregam agressão verbal ou física para obrigarem seus filhos a cumprirem suas ordens criam crianças que utilizam um comportamento semelhante como seus companheiros” (MONTAGU, 1978, p.25).
“O falecido Professor Abraham Maslow, psicólogo humanista, num artigo intitulado ‘Nossa Natureza Animal Maligna’, publicado em 1949, escreveu: ‘Acho que as crianças, até serem estragados e nivelados pela cultura, são seres humanos mais bonitos, melhores e mais atraentes que seus pais, ainda que sejam mais ‘primitivos’ que eles. A ‘domesticação e transformação’ que sofrem parece atrapalhar mais que ajudar’. Não foi sem razão que o um famoso psicólogo definiu os adultos como ‘crianças deterioradas’. Poderia ser possível, perguntou Maslow, ‘que o que necessitamos seja um pouco mais de primitivismo e um pouco menos de domesticação?’
Similarmente, a Professora Katherine Banhma, que durante vinte anos estudou 900 crianças desde quatro semanas até quatro anos de idade, concluiu que as crianças nascem com impulsos afetuosos expansivos, e que ‘só se tornam preocupados consigo mesmo, retraídas ou hostis, como reação secundária, quando são repelidas, sufocadas com cuidados indesejados, ignoradas ou negligenciadas’’(MONTAGU, 1978, p.90-91).
REFERÊNCIA: MONTAGU, Ashey. A natureza da agressividade humana. Tradução de Maurício Mower. Editora: Zahar, Rio de Janeiro 1978.
Por Agnes Agnes Arato, Kharen Stecca, e Roberto Nunes
Desde 2001, tramita um projeto de lei na Câmara dos Deputados que propõe a regulamentação da publicidade dirigida às crianças no Brasil. Enquanto a lei não sai, vários grupos divergem em relação ao tratamento dado à questão: há os que defendem a proibição total da publicidade infantil; os que desejam a restrição de alguns produtos, como alimentos pouco saudáveis; e aqueles que acreditam que o modelo utilizado atualmente, a autorregulamentação, é suficiente.
Há pesquisas indicando que as crianças são responsáveis por 80% das decisões de compra das famílias. Por isso, foi lançada a campanha Somos todos responsáveis (http://www.somostodosresponsaveis.com.br/), que reafirma a eficácia da autorregulamentação e responsabiliza exclusivamente os pais, que devem guiar os filhos. Ao mesmo tempo, um grupo de pais e mães (www.infancialivredeconsumismo.com.br) cobra uma política pública que auxilie as famílias a prevenir problemas que, em longo prazo, afetarão a esfera pública.
A mesa-redonda do Jornal UFG desta edição convida o professor da Facomb, Magno Medeiros, a psicóloga e professora da PUCGoiás, Malu Moura, e o publicitário da agência AMP, Marco Antônio de Pádua Siqueira, para debater o tema.
Acesse a entrevista completa com o professor Magno Medeiros, a psicóloga Malu Moura e o publicitário Marco Antônio Siqueira AQUI
Em 2012 comemorou-se o centenário de três brasileiros ilustres, Luiz Gonzaga, Jorge Amado e Amácio Mazzaropi. Embora já estejamos em 2013, quero nesse domingo relembrar com você o talento do comediante que deu voz, no cinema e na música, ao caipira brasileiro.
No site MAZZAROPI para mais 100 você acessa documentários, notícias e vídeos desse artista circense que se transformou em um importante cineasta brasileiro.
"Quero morrer vendo uma porção de gente rindo em volta de mim."
Amácio Mazzaropi
Denúncias de crimes contra idosos são cada vez mais comuns no Brasil. De janeiro a novembro de 2012, o Disque 100, telefone da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, registrou mais de 21 mil denúncias. No mesmo período de 2011, foram pouco mais de 7 mil, aumento de quase 200%.
Os crimes mais denunciados são: negligência e violência psicológica. “Eu sofri, sim, agressão verbal e foi muito difícil. Eu falei: ‘vou na delegacia do idoso’. Aí ela me respondeu: ‘se a senhora for, a senhora está morta para mim’”, relata uma idosa.
Em seguida, vem abuso financeiro e econômico. “Pegou o meu dinheiro que tinha na poupança e tirou. Aí fiquei três meses pedindo dinheiro a ele, e ele não devolvia”, lembra um senhor.
A lista dos crimes mais denunciados tem ainda a violência física. “A minha filha me pegou pelo braço, me jogou pelo lado de fora da porta, tem três degraus, e quase que eu caio, bato com a cabeça no chão”, conta uma senhora.
Em quinto lugar na lista, vêm outros crimes, como o abandono. A mulher encontrada abandonada em casa pelos policiais em Belém se chama Felicidade. Segundo uma denúncia anônima, ela vive em estado de abandono, apesar de morar com o filho e a nora.
Fonte: Fantástico - Edição do dia 13/01/2013
Caros Amigos,
Estamos divulgando o boletim das ações da Rede Não Bata, Eduque nos meses de outubro a dezembro de 2012
Vejam no link:
http://www.naobataeduque.org.br/wp-content/uploads/2013/01/Boletim-Outubro-a-Dezembro-2012.pdf
Abraços,
Marcia Oliveira
Estatística coloca Brasil como um dos países mais violentos contra menores. Cerca de 11 mil agressões ocorrem por mês
da agência Brasil, de São Paulo
Adolescente agitado, Lucas** fica tímido ao mostrar suas mãos. Em uma delas, há uma marca de infância. Mas não é uma marca que nasceu com ele. Ela surgiu quando uma pessoa da família utilizou um garfo quente para repreendê-lo e o queimou. “Até hoje eu tenho [a marca]. Nas costas também, mas lá acho que não tenho mais as marcas”, contou ele.
Lucas tem 13 anos. É filho adotivo e começou a apanhar “de cinta e de fio” da mãe e do cunhado depois que o pai morreu. Em vários desses momentos, fugiu para a casa de um amigo para se livrar das agressões.
“Tinha vezes em que eu dormia lá”, falou. “Se eu não lavasse a louça, eles [a mãe e um cunhado] me batiam. Se eu não acordasse na hora certa, eles me batiam. Aí eu fugi de casa e esse foi um dos motivos que me levaram ao abrigo”, disse o adolescente, um entre milhares de exemplos de vítimas de violência doméstica em todo o país.
Dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República mostraram que 77% das denúncias registradas por meio do Disque 100, entre janeiro e novembro deste ano, são relativas à violência contra crianças e adolescentes, o que corresponde a 120.344 casos relatados. Isso significa que, por mês, ocorreram 10.940 agressões, o que dá uma média de 364 denúncias por dia.
Já o Disque Denúncia 181, serviço criado em 2000 pelo Instituto São Paulo contra a Violência e pelo governo paulista, por meio da Secretaria de Segurança Pública, registrou 6.603 denúncias de maus-tratos contra crianças entre janeiro e outubro deste ano em todo o estado, o que dá uma média diária de 22 denúncias. O número é superior ao do mesmo período do ano passado, quando foram registradas 6.028 denúncias.
Para Ariel de Castro Alves, presidente da Fundação Criança e vice-presidente da Comissão Especial da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), é difícil deduzir, por esses números, se os casos de violência envolvendo crianças e adolescentes têm crescido ou se as pessoas estão denunciando mais. “É difícil medir se os casos estão aumentando. Na verdade, a sociedade está muito mais alerta e mais atuante diante de casos de abusos e de violência contra crianças e adolescentes. Isso é um fator muito positivo no país nos últimos anos. As pessoas estão denunciando mais, sendo menos coniventes e omissas”.
Espancamento
Nenhum dos dois serviços de denúncia contabiliza quantos desses casos registrados referem-se especificamente à violência doméstica. Mas sabe-se que o número é grande. “Hoje, temos muitas vítimas de violência doméstica. De maus-tratos e de espancamento”, disse Maria Aparecida Azevedo, que coordena as três casas de acolhimento da Fundação Criança, uma organização municipal focada na defesa e na garantia de direitos de crianças e adolescentes, que funciona em São Bernardo do Campo (SP).
“Os casos que chegam para nós são de abuso sexual, de criança negligenciada e abandonada e de criança queimada e espancada. Essa é a violência doméstica que está vindo para as casas de acolhimento”, explicou Maria Aparecida.
A violência doméstica pode gerar traumas para as crianças e os adolescentes, disse Alves. “Muitas vezes, elas [crianças e adolescentes] são vítimas daquelas pessoas em quem confiam, que entendem ser as pessoas que cuidam delas. Por isso, há dificuldade para assimilarem uma situação desse tipo. Esse é o trauma maior. A pessoa que tinha que proteger é a que acaba violando o direito dessas crianças e adolescentes. Isso gera um trauma, uma desconfiança permanente com relação aos adultos e dificuldade depois de convivência com outras pessoas. Isso pode, muitas vezes, gerar também prejuízo no desenvolvimento educacional”, disse.
drogas
Segundo Helen Vivili Santana Carmona, diretora técnica adjunta da Fundação Criança, grande parte dessa violência contra crianças e adolescentes tem como motivação principal o uso de álcool ou de drogas pelos pais. “Temos um índice grande de pais com problemas psiquiátricos e que fazem uso abusivo de álcool, que são geradores de violência”, explicou.
Outro fator que contribui para a violência doméstica contra crianças e adolescentes, disse Helen, é a ineficiência do Estado. “A violência doméstica é gerada por uma ineficiência do Estado. A falta dessa rede de atendimento e de serviços, que contemple a necessidade da família, faz com que essa violência esteja aí, latente, nas famílias mais vulneráveis”, acrescentou.
Pela ineficiência do Estado, esclareceu Helen, entende-se a falta de uma política habitacional adequada, falta de políticas envolvendo a empregabilidade e também questões nas áreas de saúde, educação e até atendimento psicológico precário ou inexistente.
“Essas famílias têm essa dificuldade financeira e isso acaba gerando outros tipos de violência. A questão financeira é geradora das demais violências. Já tivemos relatos de mães que tiveram seus filhos acolhidos por conta da questão financeira e que acabaram agredindo o filho porque ele pediu comida”, conta Helen. “O Estado precisa olhar para essas questões”.
Impunidade
Alves citou outro motivador da violência doméstica. “O que estimula a violência é também a impunidade”, disse. Para ele, todos os órgãos que trabalham com a questão envolvendo a defesa dos direitos da criança e do adolescente, “desde a denúncia no Disque 100 [federal] ou no 181 [estadual], passando pelo Conselho Tutelar, pelas delegacias, pelas promotorias ou varas especializadas” precisam funcionar e atuar de forma integrada para combater a impunidade. Também é necessário, destacou, criar, ampliar ou melhorar as redes de proteção social de atendimento familiar para prevenir os casos de violência. A ideia seria, na sua opinião, educar os pais para que possam educar seus filhos.
Lucas vive há cerca de um ano em um dos abrigos em São Bernardo do Campo. Lá, ele e a família passam por acompanhamento psicológico, educacional e social. Alguns dos fins de semana Lucas passa com a família. “Agora eu não apanho mais”, contou. A ideia do programa desenvolvido na Fundação Criança é que Lucas volte a viver com a família, agora mais preparada para educá-lo. “A nossa proposta é a de reintegração familiar”, acrescentou Helen Santana.
Fonte: DM.com.br/cidades
Enviado por Magno Medeiros, doutor em comunicação e diretor da faculdade de comunicação social da Universidade Federal de Goiás, em 30 de dezembro de 2012.