23 de jan. de 2022

Elza Soares, um universo de beleza comprimido

 



Salma Hayek, mexicana orgulhosa, trabalhou por quase uma década para convencer um estúdio de cinema estadunidense a rodar o filme Frida. Seu desejo era apresentar ao mundo um México iluminado, grande e lindo. Frida era a gigante que precisava para representar a força de sua gente e cultura.

Eu, como brasileira que resiste em seu orgulho, creio que só uma artista pode sintetizar a essencial força e beleza do meu povo, a mulher do fim do mundo. Elza Soares é um universo comprimido onde cabe tudo que funda a nossa história. Ela é fruto de nossa ferida aberta, escravidão, desigualdade e misoginia. Ela é flor aberta, resistência, luta e reviravoltas. Como diz a letra de Chico Buarque, "para quem sabe olhar a flor também é uma ferida aberta". Tragédia, trauma, triunfo, sua vida e obra é uma flor vermelha absolutamente singular, genuína, gigante e bela!

Espero que um dia a nova geração de cineastas brasileiras me dê a graça de ver Elza Soares apresentada ao mundo com a grandeza que é, foi e sempre será!

Cida Alves

 



Mulher do Fim do Mundo

 

Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e Super Homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida deixei lá

A pele preta e a minha voz

Na avenida deixei lá

A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar

Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida

Na avenida dura até o fim

Mulher do fim do mundo

Eu sou e vou até o fim cantar

Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e Super Homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida deixei lá

A pele preta e a minha voz

Na avenida deixei lá

A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar

Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida

Na avenida dura até o fim

Mulher do fim do mundo

Eu sou e vou até o fim cantar

Mulher do fim do mundo

Eu sou, eu vou até o fim cantar

Cantar

Eu quero cantar até o fim

Me deixem cantar até o fim

Até o fim eu vou cantar

Eu vou cantar até o fim

Eu sou mulher do fim do mundo

Eu vou, eu vou, eu vou cantar, me deixem cantar até o fim

Elza Soares



Dura na Queda

 

Perdida na avenida
Canta seu enredo fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego, desfila natural

Esquinas, mil buzinas
Imagina orquestras, samba no chafariz
Viva à folia
A dor não presta, felicidade sim

O Sol ensolará a estrada dela
A Lua alumiará o mar
A vida é bela, o Sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O Sol ensolará a estrada dela
A Lua alumiará o mar
A vida é bela, o Sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia, bamboleia
É dura na queda, custa cair em si
Largou família, bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia, devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é ferida aberta
E não se vê chorar

O Sol ensolará a estrada dela
A Lua alumiará o mar
A vida é bela, o Sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O Sol ensolará a estrada dela
A Lua alumiará o mar
A vida é bela, o Sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

As ondas, as ondas, as ondas
As ondas, as ondas
Sas ondas, sas ondas
Sas ondas, as ondas, ondas
Sas ondas, sas ondas...

 

Chico Buarque



 

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