31 de mar. de 2019

Militares da Democracia: os militares que disseram NÃO



Não Leve Flores

Não cante vitória muito cedo, não
Nem leve flores para a cova do inimigo
Que as lágrimas do jovem
São fortes como um segredo
Podem fazer renascer um mal antigo

Tudo poderia ter mudado, sim
Pelo trabalho que fizemos - tu e eu
Mas o dinheiro é cruel
E um vento forte levou os amigos
Para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos
E nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não

Palavra e som são meus caminhos pra ser livre
E eu sigo, sim
Faço o destino com o suor de minha mão
Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa
E não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza
Sempre é dia de ironia no meu coração

Tenho falado à minha garota
Meu bem, difícil é saber o que acontecerá
Mas eu agradeço ao tempo
O inimigo eu já conheço
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço
A voz resiste. A fala insiste: Você me ouvirá
A voz resiste. A fala insiste: Quem viver verá

Belchior





Sinopse:

"Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, ainda buscam justiça e reconhecimento na história do país. Militares da Democracia resgata, através de depoimentos e registros de arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos, por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática.

Dirigido por Silvio Tendler, o filme faz parte do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia"

24 de mar. de 2019

Pastor Cláudio: da crueldade fria e calculada à confissão de um homem - Beth Formaggini e o psicólogo Eduardo Passos – Canal Brasil



O ÓDIO


Vejam como ainda é eficiente,
como se mantém em forma
o ódio no nosso século.
Com que leveza transpõe altos obstáculos.
Como lhe é fácil – saltar, ultrapassar.


Não é como os outros sentimentos
a um tempo mais velhos e mais novos que ele.
Ele próprio gera as causas
que lhe dão vida.
Se adormece, nunca é um sono eterno.
A insônia não lhe tira as forças; aumenta.


Religião, não religião –
contanto que se ajoelhe para a largada
Pátria, não pátria –
contanto que se ponha a correr.
A Justiça também não se sai mal no começo.
Depois ele já corre sozinho.
 
O ódio. O ódio.
Seu rosto num esgar
de êxtase amoroso.


Ah, estes outros sentimentos –
fracotes e molengas.
Desde quando a fraternidade pode contar com a multidão?
Alguma vez a compaixão
chegou primeiro à meta?
Quantos a dúvida arrasta consigo?
Só ele, que sabe o que faz, arrasta.


Capaz, esperto, muito trabalhador.
Será preciso dizer quantas canções compôs?
Quantas páginas da história numerou?
Quantos tapetes humanos estendeu
em quantas praças, estádios?


Não nos enganemos:
ele sabe criar a beleza.
São esplêndidos seus clarões na noite escura.
Fantásticos os novelos das explosões na aurora rosada.
Difícil negar o páthos das ruínas
e o humor tosco
da coluna que sobressai vigorosamente sobre elas.


É um mestre do contraste
entre o estrondo e o silêncio,
entre o sangue vermelho e a neve branca.
E acima de tudo nunca o enfada
o tema do torturador impecável
sobre a vítima conspurcada.


Pronto para novas tarefas a cada instante.
Se tem que esperar, espera.
Dizem que é cego. Cego?
Tem a vista aguda de um atirador
e afoito olha o futuro
– só ele.


Wislawa Szymborska – Polônia
(1923-2012)
Trad.: Regina Przybycien










20 de mar. de 2019

CARTA DE GOIÂNIA – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) PÚBLICO E DE QUALIDADE - 10ª Conferência Municipal de Saúde 2019

CARTA DE GOIÂNIA – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) PÚBLICO E DE QUALIDADE

A saúde é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080 e Lei 8.142/1990) e é um patrimônio da população brasileira.

Nos últimos anos, o sistema público de saúde, assim como toda a seguridade social, tem sofrido ataques e desmontes por decisões políticas e de governo, que priorizam o privado em detrimento do público atendendo às demandas dos setores e empresas privadas e não as necessidades da população. Por isso reiteramos que saúde não é mercadoria. Em acordo com a Carta “Sistema Único de Saúde – Patrimônio do Brasil” publicizada pelo sindicato dos enfermeiros do Estado do Rio Grande do Sul denunciamos “… a incerteza da continuidade do SUS face ao projeto defendido pelas empresas por meio da Federação Brasileira de Planos de Saúde (FEBRAPLAN). Este projeto de novo sistema foi apresentado no 1º Fórum Brasil – Agenda Saúde, e, segundo ele, em 2038 apenas 50% da população terá acesso ao SUS, o sistema seria privatizado, obrigando a população, já tão depauperada pelos retrocessos de direitos e outras mazelas a contratar um plano privado ou pagar exames e consultas particulares caso precise de atendimento de saúde.”. Esta situação é agravada diante dos ataques constitucionais como a Emenda Constitucional No 95/2016, que reduz e congela por 20 anos os gastos em áreas sociais, a reforma trabalhista, a reforma da previdência e a proposta concreta de desvinculação das receitas para a saúde, que destruirão o SUS, a saúde como um direito e o próprio Estado democrático de direito.

Os argumentos de que o SUS não tem garantido o cumprimento de seus princípios devem ser lidos a partir da análise sobre dados concretos do subfinanciamento do sistema e do desmonte de políticas e programas que organizam o mesmo. Toda a desconstrução do SUS determinará o aumento de pessoas adoecendo e morrendo, inclusive pessoas morrendo nas ruas sem nenhuma assistência e perspectiva de socorro, resultado das políticas de austeridade e de retirada de direitos sociais.

Portanto, nós, delegados e delegadas e participantes da 10ª Conferência Municipal de Saúde, ocorrida em Goiânia, no período de 13 a 16 de março de 2019, manifestamos nosso repúdio as políticas de austeridade implementas das a partir de 2016. Exigimos que o SUS e também os recursos naturais sejam preservados e protegidos como patrimônio do povo brasileiro, que o recurso do fundo do pré-sal seja retornado para a saúde e educação, ampliando assim a fonte de financiamento do SUS para além do que já está definido em lei.

Por fim, exigimos auditoria da dívida pública prevista no Artigo 26 Das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988, que é fundamental para se obter a necessária transparência sobre o maior gasto do orçamento federal (juros e amortização da dívida), que consomem todo ano quase a metade das despesas federais, comprometendo também as finanças dos estados e municípios.

Portanto, somos contra a reforma da previdência social, a Emenda Constitucional No 95/2016 e as desvinculações de receitas constitucionais da saúde. Queremos a revisão da reforma trabalhista, a proteção do cerrado enquanto ambiente de vida e saúde e defendemos de forma intransigente o SUS como um direito e patrimônio dos goianienses, dos goianos e dos brasileiros.

Goiânia, 16 de Março de 2019.


17 de mar. de 2019

Gloria Fuertes, la poeta antibelicista





Un niño con un libro de poesía en las manos nunca tendrá de mayor un arma entre ellas”.


"Uma criança com um livro de poesia nas mãos nunca terá, quando adulto, uma arma entre elas”.
Gloria Fuertes.