Estima Lola,
Há muito acompanho o importante trabalho que realiza em defesa dos Direitos da Mulher e as violências perpetradas cotidianamente contra o seu ativismo feminista por homens cruelmente misóginos. Sei que você possui uma força extraordinária, com garra, compromisso e competência segue sua luta contra todas as formas de opressão ao gênero feminino.
Vilania, motivo torpe e requintes de crueldade marcam o feminicídio de Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 18 anos. E não tenham dúvidas, tudo que almeja a mente deformada do homem que odeia as mulheres é ao fim e ao cabo, a glorificação pela violência. Seu triunfo é ser exposto. Queria tanto que os meios de comunicação entendessem essa dinâmica perversa e não dessem visibilidade a seu rosto e nome.
A posição mais correta ao tratar criminosos dessa natureza foi a da premiê Jacinta Ardern, Nova Zelândia. Em discurso inédito no mundo, Jacinta disse que da sua boa jamais sairia o nome do assassino que promoveu um massacre em seu país. Existe uma rede subterrânea que se alimenta com a espetacularização de crimes como esses, misóginos em chans comemoram o feito e estimulam que mais feminicídios aconteçam. Os Incels vibram com cada notícia e passam a tratar o criminoso como um herói a ser seguido e referenciado.
Lola Aronovich, admiro e respeito muitíssimo seu trabalho, e nessa hora de muita tristeza em razão do hediondo feminicídio da jovem Gamer, quero expressar publicamente o meu carinho, recebe ainda que de muito longe o meu abraço mais apertado e terno.
Estimados familiares, amigas e amigos de Ingrid
Não consigo encontrar palavras com capacidade de expressar o tamanho de minha indignação e pesar, mas deixo aqui o meu compromisso de dignificar a memória de Ingrid e somar forças à luta por justiça.
Cida Alves
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Abaixo a postagem de Lola Aronovich
GAMER MATA AMIGA E ME MANDA EMAIL COM VÍDEO
No meio de tanta tristeza, pois minha mãe está quase partindo, ontem à noite recebi três telefonemas anônimos com xingamentos e ameaças. Hoje de manhã fiquei duas horas e meia numa audiência online com uma delegada muito simpática pra denunciar ameaças de novembro e dezembro.
Ao acordar, vi um email (enviado via guerrillamail) com o título "Um ato louvável ira de Asmodeus", com quatro links (três pra vídeos que não vou abrir, muito menos compartilhar, e um para o "Meu dicionário"). Este é o email:
"Boa noite Lola, aqui quem fala é o Flash, conhecido como [G] pelos mais íntimos, possuímos pensamentos divergentes, mentes diferentes, minha mente é completamente diferente da sua, eu respeito isso, pessoas são diferentes, no fundo adquirimos o mesmo objetivo, mudar as pessoas, você vive pra isso, espalha sua psicologia tosca e eu vivo pensando no quanto eu odeio a humanidade, eu sinceramente nesses últimos anos, andei me abalando com minha namorada Eduarda, ela não me compreendia, eu peguei um ódio forte pelas mulheres nesses últimos anos da minha vida, toda esse drama que elas passam, toda essa melancolia, eu sinto nojo e ódio disso, eu quero ficar longe, ser um homem seguro e esperto, não sei se isso será mais possível, porém eu deixo pra você o meu livro com todos os dias que passei, pensando, lá eu falo tudo sobre mim e o porque fiz o que fiz, sinceramente não foi em vão, pessoas irão aprender com isso, só basta você ter uma linha de raciocínio parecida com a minha, claro que você é completamente contra, mas mesmo assim, entenda o meu lado, não sou um desesperado, sou alguém que pensa e compreende.
Crazychan me ajudou, lá fiz amizades, meus amigos me apoiaram, um grande líder, Lucy, me apoiou, me mostrou o caminho que eu deveria seguir, fui trabalhando até conseguir comprar minha 9mm, finalmente fiz o que eu queria, agora estou fora de casa, pretendo continuar, coisas novas vão rolar pelos grupos da Crazychan, vou atualizando o pessoal. Boa noite. - Flash Asmodeus".
Não entendo como esses caras perturbados imaginam ter algum tipo de relacionamento comigo pra me enviar um email. Ainda bem que nossas mentes são completamente diferentes!
Só bem depois, agora no final da tarde, vi ao que se refere o email do lunático, de quem nunca ouvi falar. O rapaz, chamado [G. A. C.], 18 anos, obviamente um channer (membro de um chan, fóruns anônimos) e misógino, jogava Call of Duty junto com a estudante Ingrid Oliveira Bueno da Silva, 19 anos (apelido Sol) há um mês. Eles marcaram um encontro pela internet, e quando se encontraram na casa da mãe dele, em Pirituba, SP, ele a matou com uma faca e espada, filmou, espalhou o vídeo, rindo, e o seu "livro" de 52 páginas.
Ele afirmou que estava planejando o crime há duas semanas. G.A.C. confessou o crime à polícia, está preso, e disse que matou Ingrid porque ela "atravessou seu caminho". O programa sensacionalista Balanço Geral falou do crime hoje de manhã.
A comunidade gamer, bem conhecida pela misoginia, diz estar chocada com o caso. Espero que esteja mesmo. E que este feminicídio terrível abra debates no meio e faça os gamers também combaterem o ódio contra as mulheres.
E sinto muito pelo assassinato de Sol! Mulheres, afastem-se de misóginos!
Fonte: Escreva Lola Escreva