17 de dez. de 2019

El Educar Sem Violência expresa solidaridad a las sietes valientes feministas de Turquía



“Las autoridades turcas acusaron a siete feministas de ofender al Estado después de haber cantado durante una manifestación la melodía creada en Chile, que se ha convertido en un himno contra el maltrato a las mujeres.

Un grupo de al menos 300 mujeres se congregaron en Estambul el domingo 8 de diciembre para cantar la canción feminista ‘un violador en tu camino’, impulsada en las recientes protestas registradas en Chile frente al abuso contra la mujer.

Sin embargo, al cantar la melodía, que se ha convertido ya en un himno contra la violencia machista en numerosos países del mundo, desde Chile y Perú hasta la India, las autoridades turcas dispersaron la manifestación” (France 24).




30 de nov. de 2019

Cass de Bukowski, a bela mestiça que esculpia gárgulas em seu corpo - Cida Alves


 


La mujer más hermosa de la ciudad

"Cass era la más joven y hermosa de cinco hermanas. Cass era la mujer más hermosa de la ciudad. Medio india, con un cuerpo flexible y extraño, un cuerpo fiero y serpentino y ojos a juego. Cass era fuego móvil y fluido. Era como un espíritu embutido en una forma incapaz de contenerlo. Su pelo era negro y largo y sedoso y se movía y se retorcía igual que su cuerpo.

[...] Sus hermanas la acusaban de desperdiciar su belleza, de no utilizar lo bastante su inteligencia, pero Cass poseía inteligencia y espíritu; pintaba, bailaba, cantaba, hacía objetos de arcilla, y cuando la gente estaba herida, en el espíritu o en la carne, a Cass le daba una pena tremenda. Su mente era distinta y nada más; sencillamente, no era práctica. Sus hermanas la envidiaban porque atraía a sus hombres, y andaban rabiosísimas porque creían que no les sacaba todo el partido posible. Tenía la costumbre de ser buena y amable con los feos; los hombres considerados guapos le repugnaban: 'No tienen agallas - decía ella -. No tienen nervio. Confían siempre en sus orejitas perfectas y en sus narices torneadas… todo fachada y nada dentro [...]"



 Charles Bukowski







Cass de Bukowski, a bela mestiça que esculpia gárgulas em seu corpo




A mistura de traços étnicos lavrou na pequena Cass uma beleza invulgar. Por inveja ou cobiça, a beleza extraordinária de Cass, converteu seus dias em permanente tormenta. Na prateleira do mercado sexual, forjada a ferro e fogo por velhos patriarcas, os atributos físicos de Cass a colocava na estante mais alta. 




O titulo de mais bela da cidade não agradava Cass, ao contrário, se enfurecia quando sua existência era limitada, restrita à beleza física. Se seu espírito fluido e flamejante não era capaz de se conter nos limites do próprio corpo, que dirá se conformar a padrões que esquadrinhavam valores em uma mulher.



De pequena já era brigona! Indomável, enfrentava a punhos nus os costumeiros ataques das colonizadas que enxergavam na beleza de Cass um obstáculo real a uma melhor colocação na prateleira de mulheres mercadoria.  Para se defender das invejosas, que se criam rivais, ou dos homens que a cobiçavam, Cass lançava mão de suas táticas de guerrilha. Resistia à conformação de sua complexa identidade e às ofensivas contra a autonomia de seus desejos com táticas de combate baseadas na velocidade, surpresa e o horror. Pontas de alfinetes e arestas de garrafas de vidro quebradas eram as matérias prima de seu tomahawk*. Cass, mesmo sem cavalos pintados em zig zag, era hábil na arte da emboscada e dos ataques relâmpagos. 

 

Como flecha certeira, certa vez um nativo usou a flor como metáfora elucidativa para diferenciar os peles vermelhas dos caras pálidas. O primeiro vê a flor no meio da mata, aprecia e a deixa no mesmo lugar para que viva siga encantando a todos que passarem por ela. O segundo vê e antes que outro a veja, a arranca de seu lugar, matando-a, para coloca em um vaso e dizer que a flor é sua, que a possui. Para os homens daquela cidade, a beleza esplêndida de Cass não era só de se admirar. Não mesmo! Semelhante às terras de seus antepassados, o corpo de Cass era território a ser invadido, expropriado e consumido. Na cidade de Cass, como no resto do mundo, não existia título de propriedade privada para corpos femininos. 


 A gente anda sempre me acusando de ser bonita, insurgiu Cass às primeiras observações do homem que acabara de eleger no bar West End. E mesmo este que lhe agradou logo de cara, por princípio não lhe daria trégua, não permitiria que a julgasse apenas pela aparência. A beleza para ela era nada, “orelhinhas perfeitas e narizes torneados era tudo fachada, nada por dentro”.


Intensidade, vastidão e profundidade eram o que Cass esperava reconhecer no espelho dos olhos alheios, título de beleza não era sua ambição. Para proteger o que lhe era verdadeiramente sagrado, passou a esculpir figuras horrendas na única catedral que possuía. As feridas talhadas em sua pele cumpriam a função das gárgulas medievais: assustavam os demônios que a queriam devorar sem considerar o seu próprio desejo. 
 



Desgraçadamente, o último guardião do templo esculpido por Cass a levou para sempre. Inconsolável, o amante de cara fascinante - único na cidade que se aproximou da essência de Cass, pôs-se a listar os costumeiros “se” de quem fica:


- E se o homem com sua engenhosidade criassem alfinetes de metal tão flexível que jamais pudesse perfurasse a pele de Cass?

- E se o mais talentoso dos mestres vidreiros desenvolvesse garrafas que se quebrassem sempre em cacos curvilíneos como pétalas de rosa? 


Malditos sejam! Há tempos sabemos que não será a tecnologia que salvará a sensibilidade.





- Então, se desde muito pequenos educássemos os meninos para que eles soubessem, sem titubearem um único segundo, que dentro de um corpo de mulher, bem ali entre os seios bate um coração delicado como flores selvagens? 



- Para onde poderia fugir com Cass? Em que canto do mundo, abaixo de qual bandeira, regida por qual carta magna uma cidade permitiria que um ser esplêndido como Cass existisse sem que ela precisasse se encolher, se mutilar para não ser consumida?




Cida Alves

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“Cass de Bukowski, a bela mestiça que esculpia gárgulas em seu corpo” é mais uma narrativa que compõe o projeto “Resistentes Insanas”. Por intermédio da integração de linguagens, a performance "Resistente Insanas" dramatiza personagens femininas fantásticas que ilustram a dimensão da crueldade da opressão patriarcal sobre as mulheres fortes, sábias e encantadoras. 


Foto: Clara Alves, alvorecer no Morro do Além – Goiânia, 27 de agosto de 2018.
*machadinha dos índios sioux.