28 de abr. de 2018

Lá faz primavera, pá\ Cá estou doente\ Manda urgentemente\ Algum cheirinho de alecrim – Chico Buarque


 
 
Tanto Mar

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque



 
 
 




 
 
 

 
 
 
Fotos: Jornalistas Livres - 25 de abril em Portugual #LulaLivre #MariellePresente
 
 

25 de abr. de 2018

O corpo da mulher - DRAUZIO VARELLA

Resultado de imagem para Dominação Patriarcal sobre o corpo da Mulher



Coisa mais difícil é ser mulher. Não bastassem as surpresas que a fisiologia lhes impõe, as sociedades criam regras para cercear-lhes a liberdade de ir e vir e padrões rígidos de comportamento e moralidade, que não se aplicam aos homens.
De todas as imposições sociais, a mais odiosa é a apropriação indébita do corpo feminino.
Não é por outra razão que cidadãos de mais de 20 países se dão o direito de mutilar os genitais de suas filhas na mais tenra idade. São cirurgias cruentas, sem anestésicos nem assepsia, a que o mundo assiste em silêncio acovardado, em nome do respeito às “tradições culturais”.
Nós, que nos intitulamos “civilizados”, não chegamos a esse nível de barbárie, no entanto, repreendemos a menina de dois anos, quando leva a mão ao sexo ou senta com as pernas abertas. Na piscina de um condomínio de classe média alta, em Cleveland, nos Estados Unidos, minha filha foi admoestada pela encarregada da segurança, por deixar minha neta sem a parte de cima do biquíni. O argumento? Provocar os homens presentes. Uma criança de 5 anos?
Na puberdade, com o cérebro inundado pela testosterona, jamais alguém ousou sugerir que minha iniciação sexual levasse em conta o amor, sentimento que mães e pais, que se consideram avançados, exigem das adolescentes. Sexo casual exalta a condição masculina, enquanto mancha a reputação da mulher. Não é preciso graduação em filosofia pura para expor o paradoxo.
Aos 12 ou 13 anos, idades em que o corpo ensaia com graça os primeiros passos em direção da mulher adulta, os interesses da indústria e da publicidade sexualizam com mini-shorts e camisetas decotadas, o modo de vestir das meninas. Quando saem às ruas com as roupas da moda exibida na TV e nas revistas, elas são acusadas de provocadoras, portanto sujeitas às grosserias e ao risco de se tornarem vítimas dos instintos masculinos mais bestiais.
Ao ficarem adultas, são forçadas a atender a um padrão estético que privilegia a magreza doentia das top models. Sem levar em conta os caprichos da genética, a mulher moderna deve ser magra, sobretudo. A exigência de exibir a ossatura acaba por lhes distorcer a autoimagem. Passam a implicar com o pequeno acúmulo de gordura, com rugas insignificantes e com celulites só visíveis em posições acrobáticas sob o foco de luz.
No passado, demonstrar interesse por uma mulher era elogiar-lhe a beleza; hoje, dizer que está mais magra é meio caminho andado.
Nós, homens, somos complacentes com a autoimagem. O sujeito com vinte quilos a mais sai do banho enrolado na toalha, para na frente do espelho, bate no abdômen avantajado e se vangloria: “tô simpático, tô bonitão”. Está para nascer mulher com tamanha autoconfiança.
Mas, é na gravidez que fica demonstrada a superioridade fisiológica do organismo feminino. Produzem apenas um óvulo, enquanto nos obrigam a ejacular 300 milhões de espermatozoides, para que se deem ao luxo de escolher o mais apto. Daí em diante, por conta própria, constroem uma criança de três quilos, sem qualquer participação masculina.
Na gravidez, nosso papel é tão desprezível, que precisamos fazer exame de DNA para comprovar a paternidade. Apesar da irrelevância, no entanto, nós é que aprovamos as leis que as consideram criminosas em caso de abortamento provocado. O sofrimento e as mortes das jovens submetidas a procedimentos realizados nas condições mais desumanas, que possamos imaginar, não nos sensibiliza.
Depois de passar décadas espremidas em trajes incômodos e de andar mal equilibradas em saltos de um palmo de altura, só lhes restam duas saídas: a cirurgia plástica ou o suicídio, providências nem sempre excludentes. Antes operar o rosto, aspirar a gordura abdominal ou partir deste mundo, do que envelhecer.
Às que ficam mais velhas não sobram alternativas: se deixam os cabelos embranquecer são rotuladas de velhas, se decidem pintá-los de preto ficam com cara de senhoras, se os tingem de loiro são xingadas de exibidas. Se vestem roupas em tons discretos são antiquadas, se acompanham a moda das mais jovens, são ridículas, sem noção.
As leitoras que me perdoem, mas, na próxima encarnação, prefiro nascer homem, outra vez.

Fonte: veiculada no site da Boitempo

20 de abr. de 2018

Joaquim por Cecília e Marcelo Gomes




Tema de "Os Inconfidentes"

Toda vez que um justo grita
Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Foi trabalhar para todos
E vede o que lhe acontece
Daqueles a quem servia
Já nenhum mais o conhece
Quando a desgraça é profunda
Que amigo se compadece?

Foi trabalhar para todos
Mas, por ele, quem trabalha?
Tombado fica seu corpo
Nessa esquisita batalha
Suas ações e seu nome
Por onde a glória os espalha?

Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Que reformava este mundo
De cima da montaria
Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Ele na frente falava
E atrás a sorte corria

Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Liberdade ainda que tarde
Nos prometia
Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
No entanto à sua passagem
Tudo era como alegria

Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Liberdade ainda que tarde
Nos prometia

Toda vez que um justo grita
Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Cecília Meireles
 








Fotos: divulgação  

13 de abr. de 2018

"O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao... E quest'è il fiore del partigiano"



“Querida, adeus

Esta manhã, eu acordei
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Esta manhã, eu acordei
E encontrei um invasor

Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Porque sinto que vou morrer

E se eu morrer como um membro da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E se eu morrer como um membro da Resistência
Você deve me enterrar

E me enterre no alto das montanhas
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E me enterre no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor

E as pessoas que passarem
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E as pessoas que passarem
Me dirão: Que bela flor!

E essa será a flor da Resistência
Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade

E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade”


Canção Popular que se tornou um hino da resistência contra o Fascismo na Itália







Foto: GGN en 28 de dezembro de 2018