ENTENDENDO A RELAÇÃO ENTRE A COBRANÇA ESCOLAR NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Romes Bittencourt Nogueira de
SOUSA(1); Ana Cristina Silva REBELO(1).
INTRODUÇÃO
A cobrança escolar é um potente
desencadeador de estresse e ansiedade para crianças e adolescentes. Em virtude
da hiperativação do Eixo Hipotálamo-Hipófise- Adrenal (HPA) e dos
neurotransmissores envolvidos em reações de defesa e ansiedade, a cobrança escolar
é também uma grande prediletora de risco para doenças orgânicas e mentais
(Lipp, 2002; Monteiro, Freitas, Ribeiro, 2007; Peruzzo, 2008; Guan et al, 2014;
May, Sanchez-Gonzalez, Fincham, 2016). Este trabalho trata-se de uma
revisão sistemática por meio da qual investigou-se a relação existente entre o
estresse e a ansiedade geradas pela cobrança escolar e a manifestação de
doenças cardiovasculares.
METODOLOGIA
Durante os meses de maio a julho
de 2017, foram levantadas publicações na base de dados PubMed utilizando os
descritores: "school stress" AND "cardiovascular disease" e
"anxiety school" AND "cardiovascular disease". Foram
selecionados artigos que envolvessem cobrança escolar frente a crianças ou
adolescentes e algum risco a saúde cardiovascular. Os trabalhos deveriam ter
sido publicados últimos 10 anos. Não houve limitação de idioma.
D
RESULTADOS
603 artigos foram levantados.
Destes, 17 se encaixavam nos critérios de inclusão, mas apenas 09 apresentavam
íntima relação com a temática do estudo, sendo, por tanto, incluídos no
trabalho.
Abaixo segue a relação dos
artigos incluídos nesta revisão (contendo autores, países, títulos, revistas e ano
de publicação).
DISCUSSÃO
DISCUSSÃO
Os trabalhos confirmaram que o
estresse e a ansiedade geradas pela cobrança escolar são preditores de risco
para a saúde cardiovascular. Dentre as principais conclusões, tem-se que:
1) O eixo HPA é a principal via
de conexão entre as consequências psicobiológicas oriundas da cobrança escolar
e o comprometimento cardiovascular (Meenai, Sarkar, Biswas, 2011).
2) A cobrança escolar aumenta o
predomínio simpático sobre o coração, levando a elevação da frequência cardíaca (FC) e ao
consumo ineficaz de oxigênio pelo miocárdio (May, Sanchez-Gonzalez, Fincham, 2015).
3) A cobrança escolar eleva
também os níveis circulantes de cortisol, adenocorticotróficos, neuropeptídio Y, nitrito e
nitrato, o que repercute em aumento considerável no risco para cardiopatias (Xu
et al, 2014; Yamano, Miyakawa, Nakadate, 2015).
4) Crianças com maior rendimento
escolar na infância apresentavam pressão arterial diastólica (PAD) aumentada na
adolescência, o que repercute no risco de aumento global da PA na vida adulta e
terceira idade (Xu et al, 2014).
5) A suscetibilidade a cobrança
escolar está ligada a fatores ambientais diversos. Indivíduos com outros estímulos
estressores em seu meio (má condição financeira, má socialização, dentre
outros), apresentam menor resistência ao estresse e a ansiedade, o que
potencializa o risco para doenças cardiovasculares (Obradovic et al, 2010;
Milanovic et al. 2012).
6) A atividade física é tida como
uma alternativa para minimizar os efeitos deletérios da cobrança escolar sobre
a saúde, porém, sem concordância plena entre os autores. (Lambiase, Barry,
Roemmich, 2010; Jodkowska et al, 2012; Gerber et al, 2016).
REFLETINDO SOBRE A REALIDADE
BRASILEIRA
Apesar de escassos os estudos
brasileiros sobre este tema, presume-se que os efeitos deletérios da cobrança
escolar sobre a saúde sejam enormes para alunos que frequentam escolas focadas
em preparação e resultados em vestibulares e ENEM. A imposição de cobranças
excessivas por resultados em processos seletivos afeta significativamente a
saúde e o bem estar do aluno. Esta realidade se torna ainda mais preocupante
frente ao crescimento das taxas de transtornos de humor, atitudes parassuicídas,
ideação suicida e suicídios consumados entre crianças e adolescentes. É preciso
refletir a cerca de uma educação que fragmenta o aluno ao invés de integrá-lo,
que o adoece ao invés de fortificá- lo. É preciso refletir sobre a finalidade
da educação brasileira na atualidade.
CONCLUSÃO
A cobrança escolar é
desencadeadora de estresse e ansiedade em crianças e adolescentes e produz efeitos
adversos a curto e/ou longo prazo sobre a saúde cardiovascular neste público. É
preciso criar estratégias, em saúde e educação para evitar ou minimizar estes
danos, de modo a zelar pela saúde e bem estar integral do público estudantil.
Referências:
Gerber, Markus, et al. "Does Physical Fitness Buffer the
Relationship between Psychosocial Stress, Retinal Vessel Diameters, and Blood
Pressure among Primary Schoolchildren?." BioMed research international
2016 (2016).
Jodkowska, M., et al. "The
frequency of risk factors for atherosclerosis in youth aged 16 and 18 years-
students of upper-secondary schools in Poland." Medycyna wieku
rozwojowego 16.2 (2011): 96-103.
Lambiase, Maya J., Heather
M. Barry, and James N. Roemmich. "Effect of a simulated active commute
to school on cardiovascular stress reactivity." Medicine and science
in sports and exercise 42.8 (2010): 1609.
Lipp, Men. "O estresse em escolares, 2002."
Psicologia Escolar e educacional 6.1.May, Ross W., Marcos A. Sanchez-Gonzalez,
and Frank D. Fincham. "School
burnout: increased sympathetic vasomotor tone and attenuated ambulatory diurnal
blood pressure variability in young adult women." Stress 18.1 (2015):
11-19.
Meenai, Zafar, Nupur Sarkar,
and Rakesh Biswas. "An unusual cause of school refusal." BMJ
case reports 2011 (2011): bcr1020114902.
Milanović, Sanja, et al. "The
CroHort Study: cardiovascular behavioral risk factors in adults, school
children and adolescents, hospitalized coronary heart disease patients, and
cardio rehabilitation groups in Croatia." Collegium antropologicum
36.1 (2012): 265-268.
Obradović, Jelena, et al.
"Biological sensitivity to context: The interactive effects of stress
reactivity and family adversity on socioemotional behavior and school
readiness." Child development 81.1 (2010): 270- 289.
Peruzzo, Alice Schwanke,
et al. "Estresse
e vestibular como desencadeadores de somatizações em adolescentes e adultos
jovens." Psicol. argum 26.55 (2008): 319-327.
Xu, Shaopeng, et al.
"School performance affects adolescent blood pressure."
Cardiology in the Young 24.3 (2014): 459-463.
Yamano, Yuko, Sanpei Miyakawa,
and Toshio Nakadate. "Association of arteriosclerosis index and
oxidative stress markers in school children." Pediatrics International
57.3 (2015): 449-454.
Monteiro, Claudete Ferreira, Jairo Francisco de Medeiros
Freitas, and Artur Assunção Pereira Ribeiro. " Estresse no cotidiano
acadêmico: o olhar dos alunos de enfermagem 11.1 (2007): 66-72.
(1) Departamento de Morfologia - Instituto de Ciências
Biológicas (DMORF- ICB) - UFG. E-mail para correspondência: romesbittencourtsousa@gmail.com.
Trabalho apresentado na IV Jornada Goiana de Psiquiatria, em agosto/2017.
Foto divulgação
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