Coordenadora do projeto Inter-vir suporte em perdas e do Setembro Amarelo em Goiânia, Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, conversou com o Jornal UFG sobre o assunto
Segundo
estimativa da Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos uma
pessoa se suicida no mundo. Numa tentativa de reduzir esse número em
pelo menos 10% até 2020, a Associação Internacional de Prevenção do Suicídio propõe a
instituição do mês de setembro, mês do dia de prevenção ao suicídio –
10 de setembro –, para a realização de uma campanha preventiva e de
conscientização sobre o assunto. A professora aposentada da UFG,
coordenadora do projeto Inter-vir suporte em perdas e do Setembro Amarelo em Goiânia, Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, conversou com o Jornal UFG sobre o assunto e lembrou que a sociedade precisa aprender a identificar os sinais do comportamento suicida.
Angélica Queiroz
Por que o suicídio é tratado como tabu?
Falar
de morte constitui um grande tabu na nossa sociedade e falar de morte
por suicídio passa a ser um tabu maior. Há um estigma social do
suicídio. Em muitas culturas o suicídio é percebido como vergonhoso. A
pessoa que se suicida é vista como fraca, egoísta ou manipuladora. Essas
crenças são tanto da sociedade como um todo, como daqueles que
experimentam pensamentos suicidas. Tudo isso contribui para reforçar o
sigilo e o silêncio.
"Falar de morte constitui um grande tabu na nossa sociedade e falar de morte por suicídio passa a ser um tabu maior”
Falar sobre o assunto pode ajudar na prevenção?
Existem muitos mitos criados à respeito do tema suicídio, por exemplo o de que falar com uma pessoa deprimida sobre suicídio irá provavelmente fazê-la cometer suicídio. Ao contrário, sabe-se que muitas pessoas deprimidas que têm planos ou pensamentos suicidas ficam aliviadas quando alguém toma conhecimento de tais planos e é capaz de ajudá-las quanto a isso. Contudo, há importantes aspectos que devem ser considerados na interação com uma pessoa potencialmente suicida como ser empático e ouvir com atenção, sem julgamento. Isso implica em possuir habilidade na escuta e saber encaminhar essa pessoa para um profissional médico e psicólogo.
Os jovens estão cada vez mais vulneráveis a comportamentos suicidas?
Primeiro é preciso compreender o termo “comportamento suicida”, que se refere a todo ato pelo qual um indivíduo causa lesão a si mesmo, independente do grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. Existe então um continuum que passa pelo pensamento de autodestruição, ameaças, planos, tentativas de suicídio e, finalmente, o suicídio. Os índices de suicídio e de tentativas de suicídio são mais frequentes nos grupos etários mais jovens e nos idosos. Universalmente sabe-se que o suicídio é uma das três causas de morte mais frequentes em pessoas entre 15 e 24 anos. Adolescentes e jovens vivem com grande intensidade o presente e têm dificuldades de se projetarem no futuro. Muitos vivem essa fase do ciclo vital com muita angústia e desesperança e, a depender do nível de dor psíquica existente, instala-se um conjunto de pensamentos que apontam para a incapacidade do indivíduo em atender as exigências do ideal por ele concebido. A dor é tamanha que matar-se passa a ser a única forma de livrar-se dela.
Quais são os principais fatores que levam ao suicídio? Como podemos identificar os alertas?
É fundamental que abandonemos um
pensamento linear. Devemos pensar no suicídio como um fenômeno
multifacetado. Há vários fatores de risco para o suicídio: fatores
sociais e demográficos (idade, gênero, orientação sexual, isolamento
social); fatores psiquiátricos (transtornos do humor, dependência e
abuso de álcool e drogas, transtornos de personalidade); fatores
psicológicos (perdas recentes, dinâmica familiar conturbada,
impulsividade); fatores médicos (doenças orgânicas incapacitantes, dor
crônica, neoplasias malignas, doença renal crônica); fatores
relacionados ao comportamento suicida (tentativas de suicídio prévias);
fatores familiares (histórico familiar de suicídio, histórico familiar
de doença psiquiátrica). Para identificar os sinais de alerta do
suicídio precisamos conhecer mais sobre o fenômeno do suicídio, lendo a
literatura específica, conversando com profissionais da área e
participando de ações de prevenção como o Setembro Amarelo.
Como família e amigos podem ajudar?
A família e os amigos devem
conhecer os fatores de risco e de proteção e saber identificar os sinais
de alerta do suicídio. Algumas orientações devem ser adaptadas a cada
caso, como estabelecer um relacionamento aberto e uma comunicação
franca, não deixar a pessoa sozinha e não ignorar a situação. Em caso de
tentativa de suicídio, as orientações são: levar a pessoa ao pronto
socorro para o primeiro atendimento, conduzi-la ao Pronto Socorro
Psiquiátrico após alta hospitalar e apoiá-la no sentido de ter um
acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico.
Como funciona o projeto Inter-vir?
O Projeto Inter-vir suporte em perdas,
formado por psicólogas e médico psiquiatra, desenvolve ações voltadas
às pessoas que passam por situações de perdas por morte, tentativa de
suicídio, doenças crônicas e incapacitantes, separação e aposentadoria,
oferece atendimento psicológico e psiquiátrico às pessoas com
comportamento suicida e a familiares enlutados por suicídio.
Desenvolvemos ainda atividades voltadas à capacitação de profissionais
para atuação nas questões vinculadas a perdas, em especial à morte por
suicídio, além de atividades de prevenção do suicídio e atividades
científicas.
Quais as propostas do evento organizado pelo Inter-vir, em parceria com a UFG, para esse mês de setembro?
O Setembro Amarelo
marca o mês de prevenção do suicídio. Este mês foi escolhido pela
Associação Internacional de Prevenção do Suicídio para alertar sobre a
importância de ações de prevenção. O objetivo do evento é dar destaque
ao problema, encarado por muitos como um tabu, bem como, conscientizar
as pessoas para as possibilidades de ações de prevenção nos diversos
contextos da sociedade. O evento, liderado pelo Projeto Inter-vir suporte em perdas,
conta com importantes parceiros como, por exemplo, a Universidade
Federal de Goiás, um espaço privilegiado para a prevenção. Integram a
programação rodas de conversa, palestras – com professores convidados
da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UnB_ –
debates, mesa-redonda e caminhada em favor da vida. Contamos com a UFG
para uma ampla divulgação, pois a prevenção do suicídio é uma tarefa
para muitas mãos.
"...há importantes aspectos que devem ser considerados na interação com uma pessoa potencialmente suicida como ser empático e ouvir com atenção, sem julgamento"
Fonte: Jornal On-line UFG
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